Caros palmenses,
Tenho pelo Poder Judiciário o mais profundo respeito. Decisão da Justiça deve ser cumprida sem se pestanejar. Ao contrário dos malucos que foram para porta de quartéis pedir intervenção autoritária e fechamento de Cortes, eu sempre comemoro o fato de termos um Judiciário que nos assegura o Estado Democrático de Direito. Defendo que, aos inconformados, cabem os recursos previstos pela legislação. No entanto, temos, sim, o direito de, respeitosamente, fazer as críticas a medidas de magistrados. E é o que quero fazer aqui.
Não encontrei na decisão do ministro Cristiano Zanin, do STF, qualquer ato do prefeito Eduardo e dos dois demais presos que já não tenha sido cometido por grande parte dos tocantinenses, apaixonados que somos por um esporte praticado cotidianamente no estado: fuxico sobre afastamento de governador.
Vejam, caros os palmenses, o que é trazido na decisão é que o advogado Antônio Ianowich Filho disse ao prefeito Eduardo que “uma fonte de Brasília” contou a ele que havia confirmação de parecer pelo afastamento do governador Wanderlei Barbosa, que uma operação ocorreria no dia seguinte e o número de agentes que já supostamente estavam na Capital. Quantos de vocês receberam essa mesma “informação” dos mais diversos agentes da política e do direito do estado nos últimos meses? Praticamente, todos os dias alguém me diz isso, ou seja, que sua “fonte de Brasília” garante que o governador será afastado no dia seguinte, na semana que vem ou no dia tal — até a data me dão para o afastamento de Wanderlei. Assim, meus amigos, se Eduardo, Ianowich e o policial civil — que fez um print de um mapa de um sistema interno — cometeram crime por isso e se o ministro Zanin ampliar o escopo da investigação, não vai haver presídios suficientes por aqui para tantos tocantinenses presos.
Não há mais nada de concreto na decisão além disso, por incrível que possa aparecer. Ou seja, o prefeito Eduardo Siqueira Campos foi afastado e preso por ser aficionado por um esporte que atrai mais o povo deste estado do que o próprio futebol.
Com todo respeito ao ministro Zanin, que tem se revelado um grande magistrado, que merece todos os nossos aplausos, mas o afastamento do prefeito que jogou Palmas num cenário de completa instabilidade, sem nada além de fofoca política, é de deixar a todos nós perplexos. A Capital está sendo colocada no prumo, resolvendo problemas crônicos, como no caso do transporte coletivo, o tormento da vida dos nossos trabalhadores; temos uma equipe de governo pra lá de animada, altamente aprovada pela população. E tudo isso é interrompido por que o prefeito, como a maioria de nós tocantinenses, adora uma fofoca política!
Pode ser que a Polícia Federal tenha levado ao Judiciário algo mais forte do que está na decisão. Mas o que eu li do que escreveu o ministro Zanin é insignificante e aumenta absurdamente a sensação de que a proporção que se deu a esse caso é totalmente desmedida. O STF aplicou uma dose cavalar de morfina quando apenas um comprimido de paracetamol já seria o suficiente.
Caros palmenses, insisto na necessidade de respeitarmos as decisões do Poder Judiciário, contudo, não podemos concordar quando uma decisão extrapola o bom senso, desrespeita o voto popular e coloca sob total insegurança política e jurídica toda uma cidade. Pior ainda quando isso vem de um ministro que fez a defesa de personalidade altamente injustiçada e que atuou fortemente para correção dos rumos, como Zanin, que foi advogado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Assim, amigas e amigos, esperamos que essa verdadeira aberração jurídica seja corrigida e que egos não se sobreponham ao bom senso e ao Estado Democrático de Direito.
Qualquer tocantinense que ler a decisão do ministro se identificará de pronto, porque já recebeu esse tipo de “informação privilegiada” em seu celular, não uma, mas inúmeras vezes. Pior ainda é que a “fonte de Brasília” que em novembro previa uma operação e o afastamento do governador estava equivocada. Não houve a suposta operação e o governador Wanderlei, como sabemos, está até hoje no comando do estado. Isso só confirma claramente que não passou de mero fuxico, como, insisto, todos estamos acostumados a receber diariamente, porque vivemos num estado que tem longo histórico de afastamento, cassação e renúncia de governadores.
Com todo respeito do mundo mesmo ao Poder Judiciário, essa decisão, se não fosse trágica para o futuro de Palmas, seria meramente risível.
Saudações democráticas,
CT