Caros trabalhadores e trabalhadoras,
O ódio à esquerda insuflado no meio da sociedade tem uma motivação muito clara: os avanços das conquistas trabalhistas. Não houve, no Brasil e no mundo, um único direito alcançado que não tenha sido por meio da pressão. Nada foi cedido gratuitamente, benevolamente, humanitariamente, mas resultado da organização dos movimentos de trabalhadores por todo o planeta.
Até o final do século 19, mulheres e crianças eram obrigadas a trabalhar 16 horas diárias, de segunda a segunda, inclusive em minas. No início da Revolução Industrial do século XVIII, a mão de obra infantil era vista como vantajosa, pelo fato de a remuneração ser bem menor, ser tão produtiva quanto os adultos e até seu tamanho era tido como algo que favorecia nesse mercado em que tudo, mesmo o desumano e o imoral, era válido.
Assim, foram os movimentos de trabalhadores, com muitas vidas ceifadas, que mudaram a realidade de homens, mulheres e crianças, e contribuíram para a redução dos sacrifícios. O neoliberalismo, contudo, fez movimento contra a intervenção do Estado para esticar essa rede de proteção aos elos mais frágeis da sociedade e ainda enfraqueceu os sindicatos, que se tornaram um negócio para muitos pelegos, aqueles que fingem estar ao lado dos trabalhadores, mas sempre se colocam à disposição do patrão.
Daí para a precarização do trabalho foi um salto curto e suave. É o que mais estamos assistindo hoje, quando milhões de trabalhadores dirigem para aplicativos, arriscando suas vidas sem qualquer segurança trabalhista e ainda, por incrível que pareça, lutando contra as tentativas de se regulamentar o setor para lhes assegurar os direitos mais básicos. Também temos a pejotização, pela qual trabalhadores são disfarçados de “empreendedores” para que seus patrões não tenham que pagar direitos.
Não, amigos e amigas, não sou socialista — não pelo socialismo, mas por nós, humanos, que somos egoístas demais, mesquinhos demais. Contudo, defendo um estado intervencionista no sentido de garantir aos mais frágeis a rede de proteção tão necessária para que a base da sociedade não fique jogada às traças. Por isso, defendo o SUS, uma das maiores conquistas da classe trabalhadora, férias, 13º, 40% de multa do FGTS em rescisão, licença maternidade e cada direito alcançado com muito sacrifício e pressão.
Queremos empresas fortes, mas não se consolidando no mercado pela barbárie do vale tudo, pela exploração mais abjeta de seres humanos. Não defendo o estado mínimo, que só não intervém para ajudar os mais fracos, mas, para o grande capital, é, na verdade “estado máximo”. Ou seja, o que impera é a defesa da privatização dos lucros e socialização dos prejuízos.
Aqui no Tocantins temos muito disso: o governo é sócio sem direito a pró-labore de muitas empresas. Por isso, sempre sustento a necessidade de uma revisão dos subsídios concedidos e definição de critérios rigorosos e transparentes. O Poder Público deve, sim, socorrer e subsidiar empreendimentos privados, porém, de forma que os ganhos desse apoio sejam sociais. Mas nunca, jamais, esquecer dos que mais precisam, os trabalhadores e trabalhadoras, os idosos, as crianças e as pessoas com necessidades físicas e mentais. Se alguns chamam isso de comunismo, eu avoco o papa Francisco e dou o nome de Evangelho.
Da mesma forma, é inaceitável o crescimento econômico de parte mínima da sociedade — que se recusa até a pagar impostos para reduzir as desigualdades –, enquanto a grande maioria sofre as agruras de uma luta inglória para meramente sobreviver. E esse é um resumo da história dos 500 anos deste país injusto e imoral.
Nesse sentido, amigos e amigas, defendo o fim da escala 6×1, um resquício da exploração humana mais asquerosa que se seguiu à Revolução Industrial e que até hoje suga todas as energias e toda a vida de milhões de homens e mulheres. É muito bom saber que essa pauta nacional é resultado da luta de um tocantinense, o vereador do Rio de Janeiro Rick Azevedo, filho da nossa Taipas.
Acabar com essa jornada exploratória será mais um avanço fundamental para melhorar a qualidade de vida dos nossos trabalhadores e trabalhadoras, para que tenham algum tempo para si, para os seus e para seus lazeres. Por quase toda essa vida trabalhei de segunda a sábado, e é desumano. Só o domingo não dá tempo sequer para recuperar o fôlego. E para as trabalhadoras que precisam cuidar da casa e dos filhos? É imoral, é cruel, é brutal.
O fim da jornada 6×1 representa mais um passo rumo à verdadeira abolição da escravatura, que ainda está aí nos assombrando e devorando vidas.
Viva nossos trabalhadores e trabalhadoras!
Saudações democráticas,
CT