Querido Papai Noel,
Tenho acompanhado com muito interesse as frequentes e surpreendentes aparições de OVNIs planeta afora nas últimas semanas, um tema que me desperta a curiosidade desde adolescente. Estará chegando, enfim, a hora do encontro das nossas civilizações? Sou espiritualista e acredito na pluralidade dos mundos habitados. Como disse Albert Einstein, “Deus não joga dados com o universo”. Nem desperdiça, digo eu. Assim, por que num espaço sideral que se expande ao infinito haveria vida inteligente apenas aqui, um planeta povoado por uma gente má, única espécie da Terra que inventou a crueldade, como bem observou o escritor José Saramago? Não é possível.
Contudo, meu Bom Velhinho, o que menos me interessa dos seres extraterrestres é seu avanço tecnológico. O que quero saber mesmo desses visitantes do espaço é sobre suas relações sociais. Esses dias, por minha curiosidade sobre o assunto, assisti palestra de um espiritualista que lembrou que o universo tem 9 bilhões de anos e nosso planetinha, cerca de 4,5 bilhões. Então, provocou, quando a humanidade surgiu, em algum lugar já havia vida inteligente se desenvolvendo por bilhões de anos.
Acredito que passaram pelas mesmas fases que nós. Viveram em cavernas, descobriram fogo, roda, ferro e inventaram um alfabeto. Percorreram seu mundo como nômades. Um dia se fixaram num pedaço de terra fértil com água límpida e começaram a cultivar alimentos. Então, alguns se viram mais fortes e temidos, por isso, fincaram cercas, se arvoraram proprietários e sujeitaram os mais fracos. Estabeleceram fronteiras e criaram reinos. Promoveram guerras e genocídios. Mataram inocentes por crenças místicas em deuses e escravizaram povos — com a religião usada para conformá-los e naturalizar essa barbárie.
Formaram exércitos, desenvolveram armas de enorme capacidade destrutiva. Explodiram bombas atômicas, de hidrogênio, de nêutrons, usaram o oxigênio para matar com a arma termobárica e pulverizaram gases mortíferos. Exploraram os irmãos mais frágeis, se enriqueceram à custa da destruição do meio ambiente e trataram os diferentes como inferiores.
Mas, sabe, Papai Noel, em algum momento, provavelmente, passaram por uma tragédia planetária. Os que sobraram concluíram que a reconstrução de seu mundo e o avanço civilizatório só seriam possíveis pelo oposto de tudo que tinham feito até então: pela fraternidade, com a derrubada de cercas e fronteiras, banimento de armas, respeito aos diferentes, amor ao próximo, justiça social e considerando todos um só povo e uma só nação. Nas minhas reflexões penso que, irmanados dos mais elevados sentimentos, esses seres assim caminharam por bilhões de anos e agora estão à nossa porta para nos alertar e ensinar.
Ainda somos uma raça atrasada, que valoriza o ter e não o ser. Em que as ditas boas almas preferem a prática da caridade natalina, quando afirmam sua superioridade, do que apoiar políticas públicas para a inclusão socioeconômica dos irmãos desprezados e marginalizados, avessas a combater as desigualdades históricas que denunciam nosso subdesenvolvimento moral. Uma espécie que busca privilégios para si e os seus em detrimento daqueles que não têm sequer o que comer.
Assim, meu Bom Velhinho, que neste Natal nosso presente seja a boa aventurança do tão aguardado encontro com esses seres que encontraram o verdadeiro sentido do avanço civilizacional. Sobretudo, que possamos aprender com eles e mudar o destino deste pequeno planeta arcaico em passos acelerados para se autodestruir.
Por fim, que o aniversariante do dia, Jesus, dê a todos nós um Natal de muitas bençãos e paz!
Saudações,
CT