Caro Dr. Paulo Alexandre Rodrigues de Siqueira,
Escrevo para cumprimentá-lo por abordar um tema que, para mim, é o mais urgente à nossa sociedade e sobre o qual o senhor vem travando uma verdadeira cruzada na 15ª Promotoria de Justiça de Palmas, a fim de despertar consciências. O grave problema da insegurança alimentar é silencioso, e até quase imperceptivelmente, mas alcança índices absurdamente alarmantes na Capital.
Como escrevi nesta semana, o desenho arquitetônico da cidade esconde nossas desigualdades. Quem sai da avenida do aeroporto, pega à esquerda e dirige pela Teotônio Segurado em direção ao Palácio, imagina que chegou a uma ilha em que a prosperidade impera absolutamente. Se virasse à direita desembocaria numa Palmas estranha à maioria dos cidadãos do plano diretor, como a que está camuflada também em outras áreas, caso do setor Água Fria, incrustado próximo dos caros condomínios à margem do lago, na região norte.
Esse escamoteamento de nossas injustiças sociais, dr. Paulo, favorece o silenciamento da maior parte da sociedade, que se imagina vivendo numa cidade em que todos desfrutam pelo menos do sagrado direito a uma boa alimentação.
É nesse sentido que os dados trazidos pelo senhor jogam luz, chocam e precisam despertar autoridades e população em geral para o grave problema da insegurança alimentar. Entre as 822 famílias atendidas nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), segundo pesquisa de 2024, apenas 6,8% se encontravam em situação de segurança alimentar. Ou seja, mais de 93% delas enfrentavam algum nível de dificuldade no acesso pleno e regular a alimentos. Do total, 32,2% estão em insegurança alimentar leve, moderada para 32,6% das famílias ouvidas e grave para 28,4%. É um absurdo, dr., que nesta cidade linda, que todos amamos, para onde viemos acreditando na prosperidade, existam tantos extremos em termos de condições de vida.
Justamente por se tratar de uma capital que respira progresso, dr. Paulo, esses dados se tornam ainda mais inaceitáveis. Por isso, foi extremamente oportuno seu chamado para que a Câmara assuma o papel de liderança que lhe cabe, como a mais legítima representante da população palmense, e convoque audiência pública, debata o mapa da fome na cidade e delibere políticas públicas de inclusão social.
Claro, dr., que não só os vereadores, mas prefeitura e toda a sociedade civil precisam agir. Essa é uma responsabilidade de todos. É algo que deve nos envergonhar. Como afirmei nesta semana, por ocasião do aniversário de Palmas, nossa cidade se estruturou e segue firme no caminho do crescimento e do desenvolvimento. Assim, o maior desafio que temos nesta nova fase da Capital é expandir a prosperidade.
Por isso, congratulo com o senhor por esse bom combate cidadão.
Oportuno deixar uma frase singela, aparentemente sem tanto brilho para aqueles que sempre têm o alimento fácil à mesa, mas que ganha uma profundidade filosofal para os que digladiam brava e diariamente por esse direito básico, como a sua autora, a escritora Carolina Maria de Jesus, que teve a fome por companhia permanente por quase toda a vida: “Haverá espetáculo mais lindo do que ter o que comer?”
Saudações democráticas,
CT