Caro Raul Filho,
Vi com esperança sua postagem com o ex-deputado César Halum em que colocam o nome do vice-governador Laurez Moreira na disputa pelo Palácio. Ao lado da senadora Dorinha Seabra Rezende, Laurez é um dos grandes quadros do Estado para esta corrida sucessória. Sem dúvida, ambos estão extremamente qualificados para governar o Tocantins. Dorinha é uma referência nacional na educação, campo em que nosso Estado precisa avançar muito; e Laurez se mostrou um dos maiores gestores da nossa história com a transformação que operou em seus dois mandatos de prefeito em Gurupi. Até por isso, sempre achei que ele teria um papel expoente, como vice-governador, no atual mandato, mas a pequenez imperou e acabou na geladeira.
É como, Raul, você manter um centroavante perna-de-pau em campo, tendo Messi à disposição no banco. Não vejo imagem melhor para descrever o cenário de hoje da gestão pública do Tocantins.
E o resultado dessa inversão está aí: estamos de novo assombrados pela crise fiscal, que pode nos devolver às situações infernais que vivemos até março de 2018. Veja, amigo: saltamos no ano passado, absurdamente, de 39% para 46,2% de comprometimento da Receita Corrente Líquida (RCL) com folha de pagamento. Ou seja, já cruzamos, a toda velocidade, o sinal amarelo do limite de alerta (44,1%) e seguimos atropelando todos os obstáculos para furar o sinal vermelho do limite prudencial (46,55%). A informação que chega a este missivista é que o custeio já ultrapassou a casa dos 20%, quando deveria estar abaixo de 10%.
Diante desse cenário caótico que os números divulgados pelo próprio governo do Tocantins demonstram, o título de um antigo filme nos serve apropriadamente de cautela: “Apertem os cintos, o piloto sumiu!”
A questão que me preocupa hoje, Raul, é que governo Laurez ou Dorinha vai herdar, caso um deles vença as eleições do ano que vem. Técnicos do Estado que há muitos anos me abastecem com informações sobre a gestão estão preocupados. O que me dizem é que, se não forem tomada medidas austeras para segurar os gastos descontrolados, as contas públicas do Tocantins entrarão em colapso até o ano que vem.
Gestores sem compromisso fiscal não compreendem que o limite da popularidade é a inadimplência e a queda da qualidade dos serviços. Dar tapas nas costas, participar de peladas futebolísticas, sorrisos e abraços fáceis, ou qualquer outra ação popularesca que acostumamos assistir nos últimos tempos não resolverão quando as pessoas estiverem sendo prejudicadas por falta de pagamento ou por atendimentos precários. E, Raul, os sinais estão postos aí para quem quiser ver: prefeitos até sendo ameaçados por empreiteiros por não receberem o programa “Tocando em Frente” — que, pelos atrasos constantes, um amigo nosso até apelidou de “Tocando pra Frente” –; pais e alunos revoltados porque o transporte escolar urbano foi cortado sem mais, nem menos; e servidores vendo o Servir, seu plano de saúde, atrasando em mais de 60 dias o pagamento de clínicas e laboratórios.
Arrumar essa situação toda, amigo, tem um custo político absurdo, porque precisa sacrificar servidores e toda a sociedade. O ex-governador Mauro Carlesse, que ajustou o Estado e o entregou com enorme liquidez, pagou esse preço e caiu na impopularidade. Pensei que, pelo menos, depois de tudo que vimos, a expressão “crise fiscal” jamais voltaria a ser pronunciada no Tocantins, que teríamos aprendido a lição. Ledo engano, Raul. O fantasma voltou e já nos assusta com as primeiras expressões horripilantes.
Assim, é preciso que as pessoas próximas à atual gestão, amigo, deem bons conselhos e procurem colocar juízo nas cabeças que estão à frente do Estado. Ou este governo terminará totalmente desgastado como os demais que abusaram das contas públicas; e quem o suceder enfrentará o custo político de consertar os estragos e também acabará enlameado pelas irresponsabilidades de hoje. O tocantinense não merece reviver todo esse filme de horror.
Pelo menos, teremos, bons nomes, como Laurez e Dorinha, qualificados para debater o Estado e pensar num planejamento a curto, médio e longo prazos. Neste momento, Raul, isso é impossível. Faltam condições intelectuais para enxergar a importância desse trabalho e não se faz gestão em constantes viagens para Paranã, Jalapão e Cantão. É preciso parar no Palácio, dar expediente, receber secretários, ler relatórios por horas, pensar muito e conversar com conselheiros e aliados. Enfim, fazer gestão.
Que venham novos tempos, amigo.
Saudações democráticas,
CT