Caro secretário Ronaldo Dimas,
Como você, também fiquei perplexo com a declaração do governador Wanderlei Barbosa, na emoção do ritmo de momo, de que “não dá para ficar dando desculpas de que não vamos fazer o carnaval porque vamos comprar algo, fazer obra”. Uma fala, claramente, de alguém que não faz ideia do que é gestão, que pegou um Estado ajustado por outro e, desde então, gasta como se não houvesse amanhã, como se não fosse necessário pensar em pla-ne-ja-men-to. Tudo bem, secretário, sei que estou exigindo muito de quem resume sua agenda a jogar bola, receber atletas e dirigentes de futebol, que cabula uma chata solenidade em que é assinado contrato de R$ 23 milhões para construção de casas populares para assistir uma descontraída partida do campeonato tocantinense.
Também como você, Dimas, estou muito preocupado. Foi angustiante para mim acompanhar a profunda crise fiscal que vivemos de 2007 a 2018. Nesse período, os governadores não tiveram a coragem necessária para segurar as contas e, assim, garantir o enxugamento dos gastos, mas vi alguns deles desesperados com a falta de recursos para o básico. Contudo, não pegavam o avião, com caríssimas horas-voos pagas pelo contribuinte, para curtir uma partida de futebol em Tocantinópolis ou em Gurupi. Afinal, tinham que trabalhar e dar o exemplo de contenção de gastos.
Como você bem colocou, nosso governador, “O rei da bola”, herdou uma situação muito confortável, graças ao ajuste duro e necessário feito por Mauro Carlesse. Com os sacrifícios que Carlesse, corretamente, exigiu da sociedade e servidores, o Estado voltou honrar os compromissos com os fornecedores, acabou com a suspensão frequente do Plansaúde (por falta de pagamento aos prestadores de serviço, situação que estamos vivendo novamente neste momento) e possibilitou que os servidores recebessem antecipadamente (com a crise fiscal, a folha havia sido transferida para o dia 12).
Veja Dimas, o governo atual conta a vantagem de ter pago progressões atrasadas, mas foi justamente graças aos esforços de Carlesse. Inclusive, talvez essa falta de intimidade de Wanderlei com gestão e a propensão que ele tem de ficar fazendo hora em campo de futebol, ao invés de dar duro no Palácio, tenham sido os motivos de o ex-governador buscar na época outro nome para sucedê-lo que não seu vice de então, que Carlesse conhecia muito bem desde o período em que foram deputados estaduais juntos.
Falava-se no nome do secretário da Fazenda, Sandro Henrique Armando, o grande comandante da reinserção do Estado entre as gestões com responsabilidade fiscal. É compreensível que Carlesse, após tanto sacrifício, quisesse alguém mais disposto ao trabalho e com vocação para gestor. Claro, veio o afastamento do ex-governador e Wanderlei herdou um governo, como você disse, com bilhões em caixa, dos quais não temos notícias de onde foram parar. E o drama, amigo, está recomeçando tudo de novo. Preocupante.
A não realização de carnaval pelos prefeitos de Palmas, Eduardo Siqueira Campos, de Porto Nacional, Ronivon Maciel, de Aurora, Edson Neiva, entre outros, é medida que ninguém quer adotar, mas que se faz necessária quando se tem responsabilidade fiscal. No caso do Estado, a festa de Palmas foi bancada com emendas dos deputados estaduais, porque o governo não tem mais caixa próprio para isso. Estou com uma planilha em mãos de uma só entidade, que recebeu R$ 1,570 milhão de emendas de diversos parlamentares para o carnaval da Capital. Ou seja, Wanderlei está contando garganta com o chapéu alheio. É um relação horrorosa, sem transparência e sobre a qual eu levanto todas as suspeitas, mas os recursos das emendas via ONGs foram a saída para pagar o carnaval na Praça dos Girassóis, não o caixa do Estado, que, após os bilhões de Carlesse, agora está vazio.
O impressionante é ver o governador garganteando com a sua gestão tocando pra frente o programa “Tocando em Frente”, não pagando os prestadores de serviço do Servir, cortando o transporte escolar urbano e agora soubemos que até os alunos de reserva indígena da modalidade EJA em Tocantínia, há quase um mês sem aulas, estão sem como se locomover. Aí fica fácil bater no peito e dizer que banca carnaval mesmo.
Por fim, secretário, concordo com sua recomendação a Wanderlei: que trabalhe mais (bem mais, que não seja tão habitué nos campos de futebol) e que fale menos. Se o governador continuar nesse ritmo de pouca gestão e muitas peladas pelo Estado, um novo abismo nos aguarda.
Saudações democráticas,
CT