Caro amigo Tom Lyra,
Não imagina o susto que tomei no final da noite dessa sexta-feira quando me deparei com a mensagem sobre o mal-estar que o levou a se internar. Sua assessoria dizia que você sentiu dores no peito e dificuldade respiratória durante uma caminhada matinal na Praia do Caju. A primeira coisa que me veio à mente foi a visita que lhe prometo há alguns anos e que os afazeres nos quais estou sempre atolado me impedem de honrar.
Como ocorreu com outros amigos que se foram sem que eu os visitasse — graças a Deus não é o seu caso, já que, segundo sua assessoria, seu estado de saúde é estável –, nossos encontros têm sido fruto da casualidade, e, nas últimas semanas, por conta das esposas seduzidas pelo beach tennis. Culpa minha, não sua. Agora é imprescindível que eu vá vê-lo, e pretendo fazer já na próxima semana, se seu quadro clínico e sua agenda o permitir.
Na homenagem da Câmara de Palmas aos jornalistas no dia 10, pude rever companheiros dessa dura jornada que há anos não abraçava. Disse a um deles o que tenho tristemente constatado: esses verdadeiros esbarrões casuais ultimamente ocorrem em solenidades muito especiais ou em velórios de amigos, que, infelizmente, têm sido muitos.
Também tomei um susto com a saúde, Tom, há coisa de 20 dias, em meio a um dos períodos mais difíceis que passei pela profissão. Sob muito estresse, muita raiva, muita pressão que enfrentava, amanheci num domingo com a cabeça dilatando e o peito oprimido. Então, me dei com a finitude da vida, nunca tão materializada à minha frente. Decidi depor as armas, me retirar por uns dias do cenário sombrio e sufocante em que estava me deixando ser jogado e olhar para esse lindo lago à minha porta e para o sol que se põe atrás dele.
Nessas horas, amigo, sempre me vem a frase magnífica de Jesus no Sermão do Monte: “Por isso vos digo: Não andeis ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?” (Mateus 6:25). Contudo, Tom, somos sempre engolidos pelo torvelinho da vida agitada desses tempos que exigem que abdiquemos da nossa humanidade frágil para nos pôr como máquinas indestrutíveis que não somos.
Tenho tentado reduzir o meu ritmo, retirar mais tempo para meu maior prazer, a literatura, para os que amo, minha família, e quero passar a fazer visitas vez ou outra aos bons camaradas desta peregrinação que não pode e não precisa ser só de luta e de dor. Afinal, meu querido Tom, como nos lembra o gigante José Saramago, “a finitude é o destino de tudo”. Essa realidade inescapável deve estar muito presente em nós, sobretudo neste que chamo de meu último terço de vida, uma vez que já cheguei ao 5.5 e, como se diz, tenho mais passado que futuro.
Termino, Tom, com um pensamento do grande nome da geração beat, o escritor Jack Kerouac: “Porque no fim você não vai se lembrar do tempo que passou no escritório ou movendo a mobília. Por Deus escale aquela montanha”. Escalar a montanha não é para mim, mas a visita a você será realizada, assim que o amigo tiver condições de me receber.
Saudações fraternas,
CT
- Esta coluna passa a ser publicada às terças, quintas e sábados.