Caro Vicentinho Alves,
O Júnior vai ganhando musculatura para construir a candidatura a senador, sempre trilhando os bons rastros deixados pelo pai, ainda que exista à frente dele todo um Araguaia e um Tocantins para atravessar. Mas nenhum projeto cai do céu, como você bem sabe. É construído palmo a palmo pelas mãos humanas. O que a espiritualidade nos garante são conselhos em forma de intuição e, se tivermos merecimento, coloca as pessoas certas no nosso caminho.
Falando sobre as eleições de 2026, meu bom amigo, acredito que a disputa pelas duas cadeiras de senador será muito mais dura do que a do Palácio. Espero uma eleição de governador muito óbvia e de resultado altamente previsível em qualquer cenário que estiver posto. A última eleição de desenlace aleatório que tivemos no Estado foi a de Marcelo Miranda contra Sandoval Cardoso em 2014. Nas seguintes — de Mauro Carlesse, em 2018, e de Wanderlei Barbosa, em 2022 –, o desfecho estava definido antes mesmo das convenções.
Já a busca pelas duas vagas de senador — diga-se: como todas até agora, desde 2006 — será permeada por tamanha nebulosidade que é impossível prever quem conquistará as cadeiras no lugar que dizem que é melhor que o céu, porque nem precisa morrer para se lambuzar nas regalias que oferece.
Vejo, neste momento, cinco nomes mais bem colocados nessa construção inicial. O Júnior, pelo Progressistas; Carlos Gaguim, pelo União Brasil; Alexandre Guimarães, pelo MDB; Vanderlei Luxemburgo, pelo Podemos; e, claro, o atual “dono” de uma das cadeiras que serão renovadas, Eduardo Gomes (PL). O amigo pode perguntar por que não coloquei o outro titular, Irajá, do PSD. Simples, Vicentinho, acho que ele terá dificuldades brutais para voltar por mais oito anos, e não poderá contar com o efeito surpresa que lhe deu a vaga em 2018. Tudo bem, tem as nuvens, que podem estar diferentes no ano que vem. Mas é a fotografia que vejo hoje. No caso dele, acho difícil uma mudança substancial.
Gomes está em meio aos seus tormentos, com essa história de emendas parlamentares, num momento em que ele marcou outro golaço, ao se tornar vice-presidente do Senado, após ter sido líder no Congresso do governo Jair Bolsonaro. Contudo, Vicentinho, sempre digo que denúncia não é o principal motivo para derrota eleitoral, com raríssimas exceções que só confirmam a regra. E estão aí o eleitorado e os resultados de vários pleitos que não me deixam mentir.
Como Gomes tem um histórico muito favorável de contribuição com o Estado, através da destinação de recursos — a relação dele com Bolsonaro foi fundamental, por exemplo, na pandemia, para aliviar os sofrimentos dos tocantinenses –, e é extremamente querido por prefeitos e vereadores — que são que detêm, efetivamente, os votos –, ele tem plenas condições de dar volta por cima e fazer com que os desgastes das eleições de 2022 e de 2024 — mais preocupantes do que essas denúncias — fiquem no passado.
Contudo, Vicentinho, sempre há o que chamo de “maldição do Senado”, que já interrompeu a carreira de grandes nomes da política, de Carlos Patrocínio, passando por Leomar Quintanilha, você mesmo e Kátia Abreu. Alguns — casos seu e de Kátia, que tive a oportunidade de acompanhar mais de perto — com muitos importantes serviços prestados ao Tocantins e ao País. Inclusive, nesse deserto imenso e angustiante de líderes que vivemos, amigo, fazem muita falta ao cenário estadual, em que a mediocridade dos quadros de hoje e a insignificância de seus debates tomam conta do nosso espaço público. Nos apequenamos.
Boa sorte no projeto do Júnior e que vençam aqueles que realmente possam trabalhar pelo desenvolvimento do Tocantins. Tenho dito que o importante não é meramente querer ser senador, mas o que o pré-candidato quer fazer no Senado. Isso que precisa ser mostrado à sociedade.
Saudações democráticas,
CT