O deputado federal Irajá Abreu (PSD) é um jovem político tocantinense educado, qualificado e dinâmico. Conseguiu ocupar bons espaços na Câmara e, com a excelente atuação legislativa, apareceu como parlamentar em ascensão no estudo anual “Cabeças do Congresso Nacional”, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Não é pelo simples fato de ser filho de uma importante política, a senadora Kátia Abreu (PDT), que devemos ignorar seus valores. Contudo, essa história de pré-candidatura ao Senado é algo totalmente fora de hora, inoportuna e inapropriada.
E isso deveria ser óbvio a ponto de nem a hipótese ser cogitada. Mas não por falta de atributos pessoais, que Irajá tem e de sobra, não há dúvida. Mas pelo simples fato de a mãe já ser senadora. Claro que não há nenhuma ilegalidade, mas, com uma leitura básica da conjuntura política do Estado e do País, constata-se que a sociedade se debate pela moralização da política e questiona alguns vícios da vida pública, entre eles a familiocracia.
[bs-quote quote=”É muito difícil que algum pré-candidato a governador, com o mínimo de bom senso, dê uma vaga para um projeto familiar de tamanha capacidade de derrubar palanques” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Trata-se de um fenômeno que no Tocantins é visto desde o início do Estado e que se apresenta como uma forma de coronelismo. Cada membro da família domina um partido ou comandam uma mesma agremiação política. Com dois votos, aumentam o potencial para negociar nas estruturas de poder regional e nacional. Diante dessa força, os familiocratas formam uma imensa base de prefeitos e vereadores, interessados em se beneficiar ou às suas gestões com essa capacidade turbinada de alavancar recursos e de ocupar espaços privilegiados.
O fato de a matriarca ou o patriarca ocupar um cargo e o descendente outro já é demais, imagina dar a dois membros da mesma família duas das três prestigiadas vagas que o Estado tem direito no Senado. Neste momento em que a sociedade questiona toda a prática política e parte significativa dela coloca em xeque a própria democracia, tentar aumentar os tentáculos familiares de forma tão descarada é, além de tudo, um absurdo equívoco para uma política experiente como a senadora Kátia Abreu, se se confirmar essa estratégia.
O que se espera mesmo é que esse projeto natimorto seja mera especulação. Porque ou vai fracassar na tentativa de ocupar este espaço agora, nas pré-campanhas, ou nas urnas, já que será devida e acertadamente rejeitado pelos eleitores.
É muito difícil que algum pré-candidato a governador, com o mínimo de bom senso, dê uma vaga para um projeto familiar de tamanha capacidade de derrubar palanques. Com um filho candidato a senador, com a mãe já senadora, não há postulante ao Palácio Araguaia que consiga se tornar competitivo. Passará toda a campanha tentando explicar o inexplicável, esse arranjo familiocrata totalmente indigesto.
Nos bastidores das eleições de 2016 sempre se dizia que esse teria sido o motivo do rompimento de Kátia com o então candidato à reeleição Carlos Amastha (PSB). Ela teria tentado colocar o outro filho, o ex-vereador Iratã Abreu, de candidato a vice-prefeito. Provando que desfruta de excelentes condições em suas faculdades mentais, Amastha deu de ombros e seguiu para se reeleger com tranquilidade.
É o que devem fazer agora todos os pré-candidatos a governador, ou então que arquem com as consequências de uma tentativa que, para dizer o mínimo, agride a inteligência de toda a sociedade tocantinense.
CT, Maringá (PR), 16 de julho de 2018.