Sonho secular concretizado exatamente em 5 de outubro de 1988, o Tocantins ainda permanece como uma grande promessa de futuro. Nosso maior trunfo é a posição geográfica. No centro do Brasil, conectamos o Sul/Sudeste com o Norte, e o extremo Norte e Mato Grosso ao Nordeste. Num país em que a densidade demográfica das grandes metrópoles brasileiras gera tantas mazelas socioeconômicas, o Tocantins se torna a nova Canaã para aqueles que buscam paz e oportunidades.
Nossas belezas naturais são impressionantes. Quem é nativo não sabe quanto mexe com a alma daqueles que, como este colunista, cresceram vendo pastos e terra plana a perder de vista, pegar uma avenida de Palmas e se deparar com enormes serras se levantando ao fundo dos prédios. Ou da varanda contemplar o Rio Tocantins que desliza silencioso, refletindo o laranja do sol que se põe ao fim de um dia cansativo. É desestressante, emocionante e alimenta o espírito. Nossas belezas naturais são um patrimônio inestimável a ser explorado economicamente, claro que com todos os cuidados indispensáveis para a sua preservação.
[bs-quote quote=”A criação do Tocantins foi um bem alcançado pelo povo do antigo norte goiano, mas poderíamos estar mais longe nesta estrada da história, mais consolidados, mais prósperos, se houvesse por aqui líderes melhores, com os olhos fixos no futuro e não no poder pelo poder” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Mas, para tirarmos proveito de tudo que temos, gerarmos renda e empregos, para alcançarmos o desenvolvimento efetivo, temos que impor um freio de arrumação, organizar o presente e planejar o futuro. O novo momento político vivido pelo Estado a partir de 2005, com o desfazimento da estrutura político-administrativa responsável pela implantação do Tocantins, sob a liderança do ex-governador Siqueira Campos, inaugurou um período de verdadeira guerra desenfreada pelo poder a qualquer custo com novos e velhos grupos se digladiando em batalhas judiciais e eleitorais que causaram estragos profundos no sonho secular.
Imagine o que é criar um Estado e pegá-lo sem dívidas, sem déficits previdenciários bilionários, com tudo por se fazer, com crédito disponível, com fluxo de investimento de pessoas que acreditam que estão diante de uma grande oportunidade; e, em apenas três décadas — um átimo diante da história —, constatarmos que nos tornamos uma massa falida. Dívida bilionária, capacidade de investimento de, se muito, 2%, por conta de um custo totalmente desconectado da realidade da arrecadação; estradas esburacadas, hospitais e delegacias desestruturados, enfim, um cenário de depredação, de vandalismo e de total irresponsabilidade política.
O Tocantins carece hoje de líderes à altura de sua grandeza. Vivemos um vale-tudo pelo poder, numa ânsia desenfreada para ganhar a próxima eleição e pouca preocupação em realmente arrumar a casa e pensar o futuro. Somos um grande negócio gerido ao longo dos últimos anos por incompetentes, irresponsáveis e gananciosos. É nisto em que o Estado foi transformado em míseros 30 anos por seus dirigentes.
No domingo, 7, voltaremos às urnas pela terceira vez em cinco meses para escolher o sétimo governador em apenas nove anos, num processo maléfico para o Estado, traumatizante e paralisante. Ninguém aguenta mais essas eleições sem fim. O Tocantins precisa sair do lugar e caminhar. Não dá para continuar patinando.
O último governador que conseguiu concluir inteiramente um mandato de quatro anos foi Marcelo Miranda em 2006. Ou seja, faz 12 anos que não conseguimos fechar um quadriênio político-administrativo.
Assim, a baderna em que se encontra o Tocantins não é fruto do acaso, nem maldade dos céus irados contra seu povo, mas resultado da falta de estabilidade política, por que não temos líderes neste Estado comprometidos com o futuro, apenas com seus projetos pessoais de poder, pelo qual se organizam e se movem feito as ratazanas que encontraram recentemente num hospital.
É proverbial: “Quando os justos governam, alegra-se o povo; mas quando o ímpio domina, o povo geme” (PV 29:2). Desculpem-me a franqueza, mas aqui sobram ímpios e faltam justos.
A autonomia do Tocantins conquistada há 30 anos é um fato a se comemorar. Claro que o Estado se desenvolveu. O asfalto liga cidades, eliminado a lama e a poeira. Melhorou o atendimento à saúde, com todos os problemas que ainda enfrentamos; temos mais escolas e universidades chegaram aos principais municípios, várias estão em alguns deles. Ninguém precisa ir embora para estudar numa instituição de ensino superior.
A criação do Tocantins foi um bem alcançado pelo povo do antigo norte goiano, mas poderíamos estar mais longe nesta estrada da história, mais consolidados, mais prósperos, se houvesse por aqui líderes melhores, com os olhos fixos no futuro e não no poder pelo poder.
Essa efeméride dos 30 anos passou quase despercebida, quando o normal seria um ano inteiro de festas e eventos. Isso por si só é um sinal inequívoco de que nos perdemos ao longo do caminho.
Por isso, esta data tão especial é momento mais do que oportuno para refletirmos sobre os erros, corrigirmos as rotas e refundarmos o Tocantins.
Acredito neste Estado por todo o seu potencial, mas precisamos de líderes de elevado espírito público para nos guiar em à escuridão que atravessamos.
Onde estarão?
CT, Palmas, 5 de outubro de 2018.