Quanto mais se aproxima a hora e a data marcadas pelo prefeito de Palmas, Carlos Amastha (PSB), para a renúncia, maior se torna o assédio à herdeira do cargo, a hoje prefeita em exercício Cínthia Ribeiro (PSDB). Não só dos tradicionais beija-mãos profissionais, mas também de partidos.
Cinthia está estremecida com o presidente regional do PSDB, senador Ataídes Oliveira, desde que ele promoveu a intervenção no diretório metropolitano e depois tentou destituí-la do comando da ala feminina tucana. Sabedores disso, líderes nacionais e regionais de siglas diversas insistem para que a prefeita assuma o comando regional de outro partido.
[bs-quote quote=”A partir da posse, Cinthia terá missões importantes para dar forma e estilos próprios à gestão da Capital. Também precisará consertar estragos” style=”default” align=”left” color=”#ffffff” author_name=”Cleber Toledo” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Contudo, Cinthia tem agradecido e declinado de todas as propostas que lhe chegam de olho, lógico, no que vai ocorrer em outubro. Pré-candidato a governador, se Ataídes insistir na disputa, ou mesmo que vá à reeleição, e perder, ficará sem mandato. O saudoso senador João Ribeiro, de quem a prefeita é viúva e aprendiz, certa vez disse que político sem mandato é abelha sem ferrão.
Fora do poder, Ataídes terá muita dificuldade de se manter no comando tucano. Caso isso ocorra, Cintia, em Palmas, e o prefeito Laurez Moreira, de Gurupi — que parece fazer a mesma aposta que a líder palmense —, se tornarão os principais nomes do PSDB estadual. Os dois, então, podem se entender e aí começaria mais um capítulo da novela, vislumbrando as disputas municipais de 2020. Mas a história já será outra.
Neste momento, a preocupação de Cinthia é preparar seu governo para a sucessão de Amastha. Com a confirmação do titular de que renuncia, em pleno de Carnaval da Fé, com milhares de testemunhas, parece bastante certo que ele vai mesmo entregar o cargo para tentar chegar ao Palácio Araguaia.
A partir da posse, Cinthia terá missões importantes para dar forma e estilos próprios à gestão da Capital. Também precisará consertar estragos, ainda que o governo Amastha tenha contribuído enormemente para o momento incrível que Palmas vive.
Como a coluna já afirmou, a primeira missão — importantíssima — será reconstruir o estrago que o prefeito fez na relação com o Legislativo. Sem esse Poder, não há governabilidade. O município, para se ter ideia, hoje não conta com quórum qualificado (13 votos) para aprovar, por exemplo, matérias de cunho constitucional (alterações na Lei Orgânica). Para conseguir maioria simples (10 votos), precisou apelar para uma manobra menor.
Outro problema criado por Amastha e que caberá a Cinthia resolver é o do aumento absurdo do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), que deixou a Capital revoltada como nunca se viu. O prefeito sairá para as eleições e, ainda que sofra o desgaste disso na campanha, a pressão ficará mesmo sobre sua sucessora, a quem cabe agir. E o que fazer? Vai rever a insensatez ou manterá como está e começará seu governo já abrindo a guarda para um profundo desgaste?
Como se vê, a questão partidária é muito pequena diante dos desafios enormes que Cinthia encontrará pela frente. Por isso até, ela está decidida a permanecer como importante líder do PSDB regional.
Se algum desconforto surgir, a prefeita poderá revolver em 2020. Então, por que não esperar que a crise interna do PSDB se resolva naturalmente em outubro? Por que antecipar um problema se tem dois anos para pensar?
Nada mais inteligente para Cinthia neste momento do que se portar como uma tucana de boa plumagem e se manter paradinha em cima do muro. Só de olho.
CT, Palmas, 15 de fevereiro de 2018.