Após um final de semana de muita tensão, o Tocantins já conhece os candidatos da eleição suplementar, ainda que muita coisa precise ser decidida, como os previsíveis pedidos de impugnação contra os candidatos do PSB, Carlos Amastha, e do PDT, Kátia Abreu. Mas esse é outro capítulo dessa novela sem fim, que também se desenrola sob a preocupação com o fantasma da possível volta do ex-governador Marcelo Miranda (MDB), que aguarda decisão do ministro Gilmar Mendes, do STF, sobre a petição protocolada semana passada. Ou seja, vivemos tempos terríveis, de completa indefinição e insegurança. Mas temos que tocar o Estado.
Sobre o resultado das convenções, no geral, é preciso dizer o Tocantins nunca teve um quadro de disputa com tantos candidatos altamente competitivos. Não me refiro apenas aos quatro mais conhecidos e com coligações mais robustas, mas também aos três menos expostos aos holofotes.
O Tocantins tem uma tradição de candidatos nanicos laranjas, sempre a serviço de um dos nomes mais fortes. Funciona assim: o sujeito recebe uma boa grana para bater no principal adversário de seu patrocinador, em programas eleitorais e em debates. Enquanto isso, o candidato que banca da fajutagem mantém discurso e pose de estadista.
Desta vez, está bem nítido que temos três “nanicos” com postura de gigantes. Conheço todos já há algum tempo e fica muito claro o compromisso e a vontade que eles têm de fazer algo pelo Estado. O ex-juiz e advogado Márlon Reis (Rede), o empresário Marcos Souza (PRTB) e o procurador da República licenciado Mário Lúcio Avelar (Psol) podem surpreender.
[bs-quote quote=”Se o eleitor errar na escolha será por falta de refletir sobre história e feitos de cada um, mas não por falta de boas opções” style=”default” align=”left” color=”#ffffff” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Das grandes composições que saíram das convenções, foi impressionante o ganho de massa muscular do governador interino Mauro Carlesse (PHS), que, de sexta-feira, 20, para domingo, 22, inchou incrivelmente. Não há como negar o que é óbvio: a força da cadeira em que ele está sentado.
Ter a seu lado quatro federais, dez estaduais, sete partidos e dezenas de prefeitos pode ser bom, ou não. Vai depender do discurso e da prática política que a campanha de Carlesse apresentar à sociedade. Eleição é grupo. Candidato mais forte é o que consegue aglutinar mais líderes à sua volta, pedindo votos e defendendo seu nome. Contudo, se a mensagem chegar com ruído na ponta, com ares de algo não republicano, o que a oposição vai obviamente tentar construir, o tiro pode sair pela culatra.
Não precisamos ir longe. Vejamos as duas últimas eleições estaduais, com modelo de coligação semelhante. Carlos Gaguim (2010) e Sandoval Cardoso (2014) montaram um palanque considerado imbatível, com dezenas de prefeitos, deputados federais e estaduais. Ambos perderam.
É possível ilustrar também com as eleições municipais de Amastha em 2012 e 2016, contra palanques mastodônticos que desabaram igualmente. Assim, Carlesse terá que saber dosar muito bem a utilização dessa poderosa arma que tem mãos para que o tiro não atinja ele próprio.
Carlos Amastha insiste numa candidatura que claramente enfrentará questionamento jurídico. Para isso, se cercou de jurisprudência e pareceres de especialistas renomados. Porém, é sempre bom lembrar que jurisprudência, pareceres e pesquisa favoráveis todos têm. Ainda fica a nítida impressão de que Amastha apenas quer arrastar sua presença na eleição suplementar até começar a ordinária, quando, ali sim, terá condições jurídicas para disputar. A insistência em ter o advogado Célio Moura contra a vontade do PT nacional em seu palanque reforça ainda mais essa sensação de pretende empurrar a eleição suplementar com a barriga. (Diga-se ainda que foi impressionante a repercussão altamente negativa do PT no palanque de Amastha.)
A senadora Kátia Abreu também enfrentará questionamento jurídico sobre a questão de sua recente filiação, mas com amenizantes. Isso porque o caso dela é previsto em lei ordinária e não na Constituição, caso da desencompatibilização de Amastha. De toda forma, pode colar ou não.
Kátia perdeu muito tempo de TV com a saída do PT, e era esse capital do partido o que lhe interessava para aceitar os petistas em sua base. Agora, mesmo com a intervenção da executiva nacional, disse à imprensa que prefere que a sigla de sua amiga, a e-presidente Dilma Rousseff, fique com quem escolheu, ou seja, Amastha.
No entanto, há uma avaliação de que a nacional poderá se impor com força e o PT não ficar nem com gregos, nem com troianos. Assim, seria o quarto partido tradicional a se ausentar da eleição suplementar, junto com MDB, PV e PSDB.
Mas é elogiável a postura de coragem do presidente regional do PT, deputado estadual José Roberto, e do advogado Célio Moura, por se rebelarem e peitarem os caprichos da executiva nacional. Desde 2006 a instância superior não demonstra qualquer respeito pelos petistas do Tocantins, que, como a coluna sempre reforça, são sempre dados como moeda de troca na negociações. Para quem cobra tanto democracia, o PT nacional deixa evidente com essa postura muito pouco apego a ela.
O senador Vicentinho Alves (PR) foi o que mais perdeu musculatura nessas convenções. A expectativa era de que fecharia o domingo com até 14 partidos e acabou com 5. A pior das baixas foi com MDB e PV. Contudo, com a matéria do Fantástico, da Globo, com denúncias requentadas contra Marcelo, aliados de Vicentinho se disseram aliviados por não terem o ex-governador e a deputada federal Dulce Miranda em seu palanque, o que avaliam que seria trágico à campanha do parlamentar.
O parlamentar construiu uma candidatura muito enraizada junto aos prefeitos, vereadores e líderes diversos do Estado, sem o peso dos medalhões que estão no palanque de Carlesse. Ainda ficou com o que o presidente regional do MDB, Derval de Paiva, costuma chamar de “emedebismo”, que é o espírito do partido. Se está sem a sigla de um lado, de outro, Vicentinho tem a militância do MDB nas ruas pedindo votos para ele.
Se o fantasma dos que parecem que ainda não foram não voltar a assombrar o Tocantins por esses dias, o Estado deve ter sua eleição mais competitiva e com candidatos mais preparados. Se o eleitor errar na escolha será por falta de refletir sobre história e feitos de cada um, mas não por falta de boas opções.
CT, Palmas, 24 de abril de 2018.