Nesses cem dias de seu governo, a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), vem fazendo um trabalho silencioso mas fundamental para a Capital buscar recursos que lhe dê condições de sustentar sua elevada taxa de crescimento, sempre bem acima da média nacional. É a reconexão da administração municipal às demais instituições, uma relação que foi comprometida nos últimos cinco anos e que limitava a capacidade da prefeitura de conseguir apoios necessários para seus projetos.
O ex-prefeito Carlos Amastha (PSB) fez muito bem a Palmas do ponto de vista do marketing. Como showman que é e vendedor nato, encantou os palmenses com a decoração em períodos sazonais, como Natal e Páscoa; e com o ajardinamento e outras obras de embelezamento que deram vida e um colorido especial às avenidas e rotatórias, mudando a cara da Capital, que está deslumbrante. Assim, ele resgatou e ampliou exponencialmente o orgulho do cidadão com a sua cidade.
[bs-quote quote=”O cidadão, sobretudo em épocas insanas de redes sociais, tem todo direito de despejar sua raiva e indignação contra seus representantes e até empunhar as bandeiras mais tresloucadas. O líder, não” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Contudo, com o pavio curto que desaguava em frequentes desabafos nas redes sociais, Amastha conseguiu se indispor com quase toda a classe política e instituições fundamentais para Palmas dar o salto de que precisa. Foi dessa forma com a Câmara, com o Tribunal de Contas, com procuradores federais e até delegados da Polícia Federal, no episódio da Operação Nosotros, e com a bancada federal. Para ficar apenas nas principais, porque ainda tem a indignação geral de todas as lideranças do Estado que se sentiram atingidas com a generalização do xingamento de “vagabundos” para a “velha política”. Ou seja, do ponto de vista das relações institucionais, um desastre total.
Desde que assumiu, em abril, Cinthia vem buscando a reconstrução desses relacionamentos. A primeira visita foi ao TCE, onde Amastha é persona non grata para vários conselheiros. O ex-prefeito chegou ao ponto absurdamente insano de promover uma renúncia que nunca existiu do relator das matérias de Palmas, Alberto Sevilha, usando para essa insensatez até o Diário Oficial do Município. Tudo porque o conselheiro investigava, com o rigor que a função lhe obriga, as denúncias que chegavam contra a gestão.
O passo seguinte foi a Câmara, com quem Cinthia conseguiu restabelecer um bom relacionamento, mesmo com as rusgas dos últimos dias com o presidente José do Lago Folha Filho (PSD), conquistou a simpatia da maioria dos vereadores. No passado, o péssimo com os parlamentares fez a pauta ficar trancada por cerca de cinco meses.
Cinthia também foi à bancada federal, alvo predileto da verborragia amasthiana. Com frequência, ele ia a público agredir os congressistas e pedir aos eleitores que não os reelegessem. Depois de plantar vento e colher tempestade, ficou indignado no ano passado por Palmas não ter sido beneficiada com a emenda de bancada que foi para Araguaína. Para não dar o braço a torcer, pediu à senadora Kátia Abreu (PDT) que apresentasse uma emenda pessoal de R$ 100 milhões para a Capital. Apesar da gentileza de Kátia, a emenda é considerada “fake”, já que, por não ser impositiva, nunca é liberada. Ou seja, mais uma vez o marketing se sobrepõe à gestão pública.
O cidadão, sobretudo em épocas insanas de redes sociais, tem todo direito de despejar sua raiva e indignação contra seus representantes e até empunhar as bandeiras mais tresloucadas. O líder, não. Há o interesse da população em jogo, o que o obriga a colocar a gestão acima de egos, insatisfações e até cansaço. Uma frase ou até mesmo uma palavra mal colocada pode ter consequências desastrosas para um governo e, obviamente, isso tem o potencial de comprometer a qualidade de vida das pessoas. Olha o tamanho da responsabilidade!
Não há a menor dúvida de que não é fácil engolir muitos “sapos”, aceitar o jogo sujo da relação política, até a tentativa de extorsão de alguns parlamentares e ainda aqueles querem se sobressair sorrateiramente com manobras das mais vis. Mas são os ossos do ofício. Há muitos interesses nobres envolvidos, um futuro a ser construído, pessoas em situação de vulnerabilidade que dependem do líder e que um erro por ego pode até lhes custar as mínimas condições de sobrevivência.
Assim, não dá para quem comanda, que preza pelo voto recebeu e por aqueles que representa, viver com o ego inflado, reagindo como um adolescente rebelde a cada provocação do adversário ou de oportunistas.
A dignidade e a nobreza do cargo exigem uma posta à altura, que não dá o direito de se rebaixar ao aviltamento daqueles que não têm compromisso senão com o próprio umbigo. É essa capacidade de perceber a grandeza da missão que abraçou que diferencia os fortes dos fracos na vida pública.
Com os movimentos dos últimos cem dias na difícil missão de comandar uma cidade em meio a duas espinhentas eleições, Cinthia mostra clareza de entendimento do que efetivamente está em jogo. Nossa torcida é para que se mantenha firme nesse traçado, já que os bons frutos dessa sensatez começam a aparecer, como ficou claro nessa terça-feira, 17, com o anúncio dos R$ 835 mil da bancada federal para a infraestrutura, desenvolvimento econômico e social.
CT, Maringá (PR), 18 de julho de 2018.