A publicação dos atos de exoneração de auxiliares que eram próximos ao ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB) é só o início do processo de descolamento da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) em relação ao seu antecessor. Essa “limpeza” administrativa foi um primeiro passo importante, mas o que vai configurar o voo próprio da tucana serão os passos que dará a partir agora.
Claro que essas exonerações em massa foram um movimento político, mas direcionado à Câmara, não a Amastha, ainda que ele também seja atingido. A exoneração do secretário de Desenvolvimento Econômico, Kariello Coelho, por exemplo, atendeu a reivindicação dos vereadores, cuja relação com o também empresário chegou ao limite.
[bs-quote quote=”A boa relação vai durar enquanto a necessidade de defender o capital político não for premente. Então, direta ou indiretamente, a tendência é de Amastha se tornar o maior adversário da prefeita. Se isso não ocorrer, inclusive, por si só, já será um sinal de que o descolamento não ocorreu” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Sobre as massas de servidores que saíram, eram indicações dos parlamentares para Amastha. Dessa forma, agora deixam a gestão e terão que voltar como indicação dos vereadores para Cinthia. Algo aparentemente inócuo, mas, politicamente, altamente simbólico.
A prefeitura não poderá ser administrada sem os 1,2 mil servidores exonerados na quinta-feira, 1º. Os vereadores terão que fazer suas listas e conversar com a prefeita. Assim, do ponto de vista político, a lealdade a partir de agora deverão a Cinthia e não mais a Amastha.
Muita gente, no entanto, não está convencida de que a prefeita realmente se descolou de seu antecessor. Dizem que ainda precisam ver uma sinalização mais clara. Por isso, Cinthia terá que fazer um movimento político nesse sentido.
Há uma preocupação do grupo do ex-prefeito em evitar esse descolamento. O almoço de Amastha com Cinthia na quinta e um texto com as digitais evidentes dele que circulou na internet no final de semana, apontando as exonerações da prefeitura para um fantasioso jogo político da tucana em direção do Palácio Araguaia, são demonstrações de que há um estrebuchamento de quem não quer largar o que julga ser seu.
Ao fazer uma demonstração política inequívoca de independência, aí, sim, Cinthia começará rumar livre, leve e solta em direção a 2020. Então, terá três desafios importantes para se robustecer. O primeiro é formar um grupo político, iniciado com essa definição de uma base realmente sua na Câmara. Mas precisa ir além e trazer mais forças que lhe garantam a musculatura para se tornar altamente competitiva daqui a dois anos.
Ao mesmo tempo, a prefeita vai enfrentar a inevitável comparação. Amastha — sempre é preciso reconhecer isso — colocou a gestão de Palmas num patamar mais elevado do que vinha com seus antecessores. Ainda que as finanças dos municípios estejam comprometidas, e Cinthia vive essa realidade, é fato que o ex-prefeito conseguiu se vender para a população como um “exemplo transformador”, o que a sua oposição chama de “passar batom” na cidade.
De toda forma, haverá a comparação de gestões. As pessoas vão sempre lembrar do que foi feito e olharão por essa lente para o novo governo.
Outra dificuldade é que, realmente descolada, Cinthia enfrentará a defesa que Amastha precisará fazer de seu capital político. Sua gestão em Palmas é o cartão de visita do ex-prefeito, que ele sempre venderá como a mais sublime de todas, inclusive em relação à sua sucessora. Se Cinthia, não é mais aliada, logo, será colocada no rol dos adversários, e, assim, se tornará alvo. É até instintivo.
A boa relação vai durar enquanto a necessidade de defender o capital político não for premente. Então, direta ou indiretamente, a tendência é de Amastha se tornar o maior adversário da prefeita. Se isso não ocorrer, inclusive, por si só, já será um sinal de que o descolamento não ocorreu.
A Cinthia resta, portanto, dois caminho: uma postura blasé, de total indiferença, e seguir a vida enquanto enfrenta a oposição que virá, ou optar pela desconstrução da tal “gestão transformadora”, quando chamada à briga.
Há outra via possível, que, porém, relegará a prefeita ao papel de coadjuvante da própria gestão: não descolar e continuar como mero apêndice de Amastha.
CT, Palmas, 5 de novembro de 2018