A grande dificuldade para o governador interino Mauro Carlesse (PHS) fazer gestão neste momento é o clima eleitoral que já tomou conta do Estado e das lideranças. Qualquer ato dele será visto através das lentes ofuscadas pelas disputas campais desenfreadas e que só visam a conquista de votos. Por isso, a despeito do momento, pensando no Estado, é preciso reconhecer que o enxugamento que o governador vem fazendo é uma medida acertada e corajosa.
Na verdade, isso deveria ter sido feito já há alguns anos, mas, infelizmente, não foi o que ocorreu. Ao contrário. Levantamento do Jornal do Tocantins publicado nesta quarta-feira, 25, mostra que em 2015 o Estado tinha 380 comissionados e 5.469 contratados. Em dezembro do ano passado, os comissionados somavam 2.202 e os contratados, 21.609. Além disso, o jornal lembra que o governo tem um passivo de R$ 1 bilhão com o funcionalismo, entre progressões, data-base e os retroativos de 25% concedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
[bs-quote quote=”O Tocantins não pode mais adiar a difícil obrigação de fazer gestão e planejar. Já deixamos demais essa tarefa para depois” style=”default” align=”left” color=”#ffffff” author_name=”Cleber Toledo” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Ninguém quer ver pais de famílias desempregados, mas o Estado não pode esperar mais. O comprometimento do gasto com a folha em relação à Receita Corrente Líquida fechou 2017 em 54,9%, superando em muito o limite de 49% previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Mais grave: o Tocantins perdeu todas as condições de investir. Ou seja, melhorias para a população, só com o endividamento através de empréstimos, num Estado já está pagando por volta de R$ 600 milhões ao ano de serviços da dívida, recursos tirados da saúde, educação, segurança pública e infraestrututura e canalizados para bancos.
As críticas de que as exonerações vão prejudicar a economia não têm o menor sentido. O que estrangula o Estado é a falta de capacidade de investir e de honrar em dia os compromissos com os fornecedores. São essas duas variáveis junto com os salários dos servidores que fazem o dinheiro circular pelo Estado. Com o funcionalismo totalmente endividado com os empréstimos consignados, o Estado sem condições de investimento e as empresas regionais sem receber, como o Estado poderá girar sua economia?
O caminho é, sim, o enxugamento para oxigenar as contas públicas e o governo retomar seu papel de grande propulsor do mercado, investindo pesadamente e pagando os fornecedores em dia. O resto é populismo às custas do definhamento vertiginoso do Tocantins.
Outra falácia é que o governador estaria exonerando para colocar os seus no lugar. Não é possível, porque estamos em período vedado pela legislação eleitoral.
Claro que essas exonerações podem pesar no desempenho eleitoral de Carlesse e, justamente por isso, elas são um ato de coragem. Esse enxugamento, porém, é fundamental para o Estado pensar em retomar a normalidade. Lógico que ainda é pouco, mas é um grande passo se lembrarmos que só vimos a folha inchando nos últimos anos.
Como a coluna tem sempre reforçado, o Tocantins não pode mais adiar a difícil obrigação de fazer gestão e planejar. Já deixamos demais essa tarefa para depois.
Acima do momento eleitoral, vivemos a hora de se levar a administração pública a sério. Se o governo cometer abusos ou favorecimentos, deve ser duramente criticado e denunciado. Mas fazer enxugamento é algo a ser aplaudido, porque o Estado tem que estar acima dos interesses e projetos pessoais. É como todo líder político e empresarial deve enxergar o quadro atual, e não tentar tirar vantagem, o que não é papel de gente séria e comprometida de verdade com o Tocantins.
CT, Palmas, 25 de abril de 2018.