Dias desses postei no Facebook que ao longo da semana passada conversei casualmente com coordenadores das quatro campanhas com maior estrutura — Mauro Carlesse (PHS), Carlos Amastha (PSB), Vicentinho Alves (PR) e Kátia Abreu (PDT). Todos têm pesquisa “confiável” que garantem sua liderança na disputa. Não há candidatos em segundo, terceiro e quarto colocados. Não. Todos encabeçam a corrida sucessória com os adversários bem atrás.
Como alguém já disse que pesquisa é mentir com números, prefiro não acreditar em nenhuma das que me mostram. Na verdade, o Tocantins nunca assistiu uma disputa tão acirrada como esta, com tantos candidatos competitivos, mesmo aqueles de pouca estrutura. É uma eleição sem favoritos, o que mostra a dúvida do eleitorado e é uma fotografia real da grave crise de liderança que o Brasil vive.
O máximo que se pode fazer, na ausência de números efetivamente confiáveis e diante de total obscuridade, é tentar traçar uma leitura ampla de cenário, que, lógico, não diz muita coisa, mas pode contribuir para desvendar caminhos, e que cada um percorra o seu.
Chama a atenção o fato de o governador interino Mauro Carlesse (PHS) ter fechado com as principais correntes políticas de Araguaína, segundo maior colégio eleitoral do Estado. Estão com ele o prefeito Ronaldo Dimas (PR) — ainda não formalizado, mas os aliados de ambos dizem que a aliança está bem avançada —, os deputados federais Lázaro Botelho (PP) e César Halum (PR) e os estaduais Olyntho Neto (PSDB), Luana Ribeiro (PR) e Valderez Castelo Branco (PP). Das demais forças importantes da cidade, ficam os deputados estaduais Elenil da Penha e Jorge Frederico, do MDB, na campanha de Vicentinho Alves (PR).
[bs-quote quote=”A maioria dos eleitores se diz insatisfeita, mas deve ficar no rodízio de sempre, comprando o mesmo produto sob nova embalagem” style=”default” align=”left” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Carlesse entra forte na região sul, base eleitoral do governador, mas a senadora Kátia Abreu tem também um bom espaço por lá. Nos bastidores, a informação é de que haveria alguma restrição a Vicentinho, por conta do episódio da emenda de bancada direcionada para Araguaína no ano passado. Mas o senador conta com a força da deputada federal Josi Nunes (Pros) no sul do Estado.
O norte será bem dividido entre Vicentinho, Kátia e Carlesse, sobretudo os dois primeiros. A impressão dos líderes é de que senador se saia melhor por lá. Afinal, tem muitos prefeitos regionais em seu palanque, além líderes de peso como o deputado estadual Amélio Cayres (SD) e os ex-prefeitos de Tocantinópolis Fabion Gomes (PR) e de Sítio Novo Jair Farias (MDB).
Kátia tem o apoio do ex-deputado estadual Manoel Queiroz (PSD) e do ex-federal Osvaldo Reis.
Palmas, o maior colégio eleitoral do Estado, dá uma vantagem ao ex-prefeito Carlos Amastha, mas num momento de desgastes, sob a esteira do IPTU, PreviPalmas e outros temas para ele indigestos. Mas não resta dúvida de que é majoritário na Capital. Contudo, os votos dos palmenses devem ser bem pulverizados, já que todos os outros candidatos, inclusive os “nanicos”, devem ter boa votação na cidade. De certa forma, Palmas pode se tornar uma espécie de “terra de ninguém”.
Mas Amastha leva vantagem também nas maiores cidades vizinhas, como Porto Nacional e Paraíso. Contudo, é preciso ressalvar que Porto é terra de Vicentinho e, em Paraíso, o prefeito Moisés Avelino e o MDB estão muito engajados na campanha do senador republicano. Fora isso, o deputado estadual Osires Damaso (PSC), forte líder paraisense, está na campanha de Kátia Abreu.
Amastha e os candidatos da Rede, Márlon Reis, do Psol, Mário Lúcio Avelar, e do PRTB, Marcos de Souza, trabalham pelo voto mais qualificado, de um eleitor de maior escolaridade, insatisfeito com a alternância de poder dos grupos tradicionais. Contudo, esse segmento realmente disposto a buscar um candidato fora do arco da “velha política” é relativamente reduzido na sociedade. A maioria dos eleitores se diz insatisfeita, mas deve ficar no rodízio de sempre, comprando o mesmo produto sob nova embalagem. Com isso, também deve se verificar uma pulverização desses votos, o que não beneficiará nenhum desses candidatos vistos como possível terceira via.
Essa onda de busca pelo novo, surgido dos movimentos de rua de 2013 e da indignação popular com os escândalos políticos dos últimos anos, leva os mesmos de sempre a se adequarem à sua época, disfarçando os discursos com os palatáveis temas da ética, capacidade de gestão e austeridade. Funciona muito bem diante de um eleitorado despreparado e que não consegue distinguir um do outro.
Para ilustrar trago a história de um amigo político sobre as eleições de 2016 no Tocantins. O prefeito de uma cidade fez pesquisa qualitativa e concluiu que o povo queria o novo. Por isso, ele, identificado como símbolo do que era mais tradicional na política do município, não teria condições de vencer.
Foi assim que teve a ideia de colocar na sucessão um familiar, um jovem apolítico. Nos comícios, o prefeito batia palmas sob o palanque e gritava que o parente era o novo do processo. O garoto foi eleito com facilidade, e nosso personagem continua prefeito através dele.
Por essas e outras, sempre que me falam de “novo político” e “nova política” me dá até um arrepio.
CT, Palmas, 4 de maio de 2018.