O Brasil saiu totalmente dividido das eleições de 2014, quando a petista Dilma Rousseff venceu por míseros 3,28 pontos percentuais (51,64% a 48,36% para o tucano Aécio Neves). Desde então o País segue a marcha da insensatez do “nós” contra “eles”, o que levou ao impeachment da ex-presidente, à ascensão de um vice chafurdado na mesma lama do grupo apeado do poder, ao congelamento das reformas essenciais pela crise política, e assim chegamos à atual conjuntura.
Nunca o Brasil necessitou tanto de líderes do mais elevado espírito público como agora, com esse impasse à nossa frente, em que qualquer resultado do dia 7 ou do dia 28, respectivamente, primeiro e segundo turnos da eleição presidencial, levará o País à total ingovernabilidade. Vamos repetir a mesma situação de 2014, e isso poderá aprofundar ainda mais a crise brasileira.
[bs-quote quote=”É um momento obscuro para o Brasil, o país da alegria e do bom acolhimento, como é conhecido no exterior. Todos devemos fazer o mea culpa, recuarmos as armas, elevarmos o espírito para encontrarmos paz, harmonia e progresso” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Se Fernando Haddad, do PT, vence, os anti-petistas não aceitarão; se o ganhador for Jair Bolsonaro, do PSL, do mesmo jeito pelo lado dos que rejeitam o capitão. Isso significa a volta das manifestações de rua, quebra-quebra, instabilidade social, política e econômica, boicotes no Congresso e um povo ainda mais dividido.
O Brasil precisa de uma solução salomônica. É necessário que os líderes nacionais se articulem e busquem uma alternativa de centro, para que os dois extremos não levem o País à total ruína, para onde caminhamos com essa luta do “bem contra o mal”, em que cada um tem a sua definição pessoal do que é bem e do que é mal.
A economista Monica De Bolle, em sua coluna no Estadão nesta quarta-feira, 26, faz o alerta: “Que fique claro: com o voto de repúdio, eleja-se Haddad ou Bolsonaro, o mais provável é que o Brasil fique ingovernável, dada a profunda rejeição a ambos. Dificilmente sairiam do papel reformas para controlar o déficit público e nossa dívida galopante”. Para De Bolle, isso resultaria em intensas turbulências financeiras, fuga de investidores, resultados econômicos desastrosos, a inflação deve subir e, com ela, o desemprego. “A chance de que aumente o mal-estar da população brasileira no ano que vem sobe com cada nova pesquisa de opinião”, avisa a economista.
Como a coluna já afirmou em outras oportunidades, a maior crise que vivemos hoje é a de líderes. Nunca foi tão necessário alguém com a capacidade de chamar o País ao bom senso e reunificá-lo. Todos precisam ceder pelo bem maior, e a grandeza da liderança começa aí, na capacidade de recuar por entender que o Brasil tem que estar acima dos interesses pessoais ou partidários.
O centro, onde orbita a moderação, tem que reagir a esse impasse político de forma madura, democrática, republicana e de elevadíssimo espírito público. O Brasil sempre viveu em crise com momentos de bonança, mas a nossa tristeza hoje é que talvez nunca tínhamos visto um país tão dividido. Não havíamos experimentado ainda uma conjuntura de tanta intolerância de lado a lado, em que famílias e amizades são desfeitas, entre tanta insensatez deste triste tempo.
É um momento obscuro para o Brasil, o país da alegria e do bom acolhimento, como é conhecido no exterior. Todos devemos fazer o mea culpa, recuarmos as armas, elevarmos o espírito para encontrarmos paz, harmonia e progresso.
Nas palavras de De Bolle: “Caminhamos, tontos e confusos, de olhos fechados e narizes tapados, para o cadafalso. Trata-se disso que estamos a escolher. Desse modo, tornamo-nos prisioneiros de nós mesmos por termos nos rendido com tanta facilidade aos extremismos, aos argumentos rasteiros, e à histeria coletiva. É com esse dilema que teremos de conviver, ganhe quem ganhar – Haddad ou Bolsonaro, pouco importa”.
Vamos todos fazer a reflexão, e que os líderes possam refluir dos extremos ou da omissão e mostrar o caminho a um país perdido. É isso ou o abismo que está a dois passos.
CT, Palmas, 26 de setembro de 2018.