O ex-juiz e advogado Márlon Reis foi, sem dúvida, o grande fenômeno da eleição suplementar. Isso é visto em números. Nunca um candidato tido como “nanico” foi tão longe. Ao final, ele se mostrou um gigante. No geral fez quase 10% dos votos válidos, um total de 56.952 tocantinenses acreditaram nele.
Os números dos maiores colégios eleitorais confirmam que Márlon, que se tornou eleitor do Estado apenas em agosto, ou seja, há menos de um ano, foi a aposta dos que querem uma nova forma de fazer política e campanha eleitoral.
Em Palmas, ficou em terceiro lugar com 19,08% dos votos válidos (19.535 votos). Mesma posição em Araguaína (14,47% ou 7.855 votos), em Gurupi (10,51% ou 3.404 votos) e Paraíso (16,64% ou 2.430 votos). Em todos esses municípios ficou à frente dos experientes e conhecidíssimos Vicentinho Alves (PR) e Kátia Abreu (PDT).
Quando se olha o custo da campanha de Márlon, a vitória dele se torna ainda maior. Junto com Marcos Souza (PRTB) foi o que teve o voto mais barato: R$ 4,36 — uma despesa total de somente R$ 248.764,61. Enquanto isso, as campanhas tradicionais foram de 10 a 20 vezes mais caras. Kátia gastou R$ 46,42 por voto (total de R$ 4.180.057,61), seguida por Vicentinho, R$ 39,75 (R$ 4.845.928,43), Carlos Amastha (PSB), R$ 19,52 (R$ 2.403.256,62) e Mauro Carlesse (PHS), R$ 7,48 (R$ 2.758.945,50).
[bs-quote quote=”A presença de Márlon na eleição e a forte votação que teve no primeiro turno mostram que avançamos no nosso processo de amadurecimento democrático, iniciado com o fim da hegemonia da finada União do Tocantins, em 2005/2006″ style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
O resultado prático desse desempenho é que o ex-juiz se tornou pré-candidato natural para outubro, com expectativas ainda melhores, e a consequente fila de partidos e líderes interessados em estar aliados a ele. Aí surgem as ameaças, que vão exigir que o nome da Rede para 2018 defina se quer mesmo insistir no que já deu certo, mantendo-se num projeto político de médio e longo prazos; ou se adere ao status quo e aceita aliados de forma indistinta, com o sério risco de cair na vala comum.
Estar ao lado de Márlon Reis neste momento é a certeza de receber um carimbo de bom político e uma transfusão de seriedade que ele empregou à práxis eleitoral. Mas, por outro lado, o ex-juiz tem uma grande vantagem em relação aos falsos puritanos que insistem em ser o que não são. Ele não radicaliza o discurso, não separa os homens públicos do Estado num simplista e farisaico “eles e nós”, que, por se tratar de um sectarismo cego, afastaria aqueles que podem lhe dar capilaridade.
Numa entrevista ao CT, ainda em fevereiro, Márlon deu seu tom moderado: “Eu quero muito os votos daqueles que são liderados por pessoas que, apesar de terem participado de gestão de governos anteriores, estão dispostos a mudar. (…) E os que não quero são aqueles que são responsáveis pela bancarrota do Estado, que são aqueles que ultimamente governaram o Tocantins, e também aqueles que têm a vida comprometida por condenações criminais, vinculados a fatos infamantes. Quando falo isso também não é por questão de purismo. Eu ajudei a construir marcos legais importantes sobre isso, especialmente a Lei da Ficha Limpa, e eu sei que tenho que preservar essa minha biografia, senão eu caio do meu próprio palanque. Eu nem começo o processo”.
Com essa declaração, o pré-candidato da Rede estabelece um marco moral, mas não sectário. Não parte para generalizações estúpidas e hipócritas, e deixa a porta aberta para o diálogo. Sabe que a participação de grande parte dos líderes do Estado que sempre estiveram ao lado de quem estava no poder é fundamental para o início da transformação política, econômica, administrativa e social do Tocantins.
No entanto, é justamente essa bifurcação que surge agora em seu caminho. Márlon precisará de habilidade e muito bom senso neste momento em que é cortejado por segmentos diversos. Será imprescindível que separe quem é quem para que, como disse na entrevista ao CT, não caia do próprio palanque.
Diante desses caminhos que se abrem à sua frente terá que escolher se quer o poder pelo poder, e ingressar pela porta larga, com fichas sujas e outras “cascas de banana” que o comprometerão como a mais legítima terceira via e a única novidade produzida pela política tocantinense em 2018, até este momento.
Ou tomará a porta estreita, mantendo-se fiel a seus princípios e valores, com um projeto de médio e longo prazos, que pode ser mais tedioso e se mostrar um percurso mais demorado, mas que, com certeza, será o que melhores frutos produzirão para Márlon e para o Tocantins.
É muito bom saber que o Estado começa a ter possibilidades de escolha para além das vias tradicionais, que, inegavelmente (faça-se justiça), se erraram muito, também é verdade que muito contribuíram para a consolidação do Tocantins.
A presença de Márlon na eleição e a forte votação que teve no primeiro turno mostram que avançamos no nosso processo de amadurecimento democrático, iniciado com o fim da hegemonia da finada União do Tocantins em 2005/2006.
Ainda é uma semente, mas que tem que tudo para germinar e crescer de forma saudável. Por isso, nossa torcida para que Márlon não tome o caminho errado nessa encruzilhada em que se encontra.
CT, Maringá (PR), 10 de julho de 2018.