O grupo de oito deputados estreantes deve ter ficado para lá de assustado com o que encontrou no primeiro dia de trabalho para definir as comissões permanentes da Assembleia. Os acordos feitos antes da eleição da mesa diretora de sexta-feira, 1º, ruíram, como reflexo das traições nas escolhas, principalmente, do primeiro e segundo vice-presidentes. Além disso, algumas promessas de sexta-feira, em troca de votos, menos de uma semana depois, foram esquecidas.
Tudo bem que a maioria dos entrantes não é inexperiente. Alguns relataram à coluna que nem mesmo na Câmara de Palmas, de onde saíram quatro dos novatos, se viu tanta falta de respeito a acordos, puxadas de tapetes, gritaria e xingamentos. A expressão que mais se ouviu dos debutantes nesse dia tétrico foi que “aqui é cobra engolindo cobra”.
[bs-quote quote=”As testemunhas contam que viram momentos em que discussões de colegas quase despencaram para cenas de pugilismo” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Um estreante não é nem um pouco novato. Imagino que, para Fabion Gomes (PR), deputado já de outros carnavais e parlamentar de postura forte e decidida, é bem provável que nem na época do enfrentamento ranhoso entre siqueiristas e marcelistas, logo após o rompimento da finada União do Tocantins, em meados dos anos 2000, se viu os lamentáveis episódios dessa terça-feira. Naquela época, as posições eram muito claras e as divergências de grupos muito abertas. As palavras de Fabion ao CT deixaram bem evidente a decepção do republicano sobre as cenas de traições despudoradas: “Essa é uma forma muito sacana de se tratar um deputado”.
São os sintomas da profunda crise dos Legislativos que à coluna a coluna tem sempre apontado. As testemunhas contam que viram momentos em que discussões de colegas quase despencaram para cenas de pugilismo. Relatam o isolamento em que tentaram relegar os deputados que ousaram lançaram candidatura avulsa a presidente, Luana Ribeiro (PSDB) e Júnior Geo (Pros).
Mas também houve vítima da própria base. No caso, Olyntho Neto (PSDB), que tinha como certa a presidência da Comissão de Finanças, Fiscalização, Tributação e Controle, sob as bênçãos do Palácio Araguaia. No entanto, ele foi responsabilizado pelos colegas de atuar pelas mudanças de última hora na eleição da mesa de sexta-feira, como o caso da retirada da retirada da candidatura de Amélio Cayres (SD) a primeiro vice-presidente, o que atingiu também Vilmar de Oliveira (SD), que retirou seu nome da disputa pela presidência, com a condição de que o colega de partido ficasse com o cargo que acabou com Eduardo do Dertins (PPS).
A derrota imposta a Olyntho deixou o governador Mauro Carlesse (PHS) muito irritado. Não dá para entender esse apego palaciano pelo jovem deputado. Primeiro porque o tucano não poderia mesmo assumir a presidência de uma comissão dessa envergadura até que fique muito bem esclarecidas as suspeitas que o envolvem e à sua família no caso dos R$ 500 mil em dinheiro pegos com seu irmão na reta final das eleições e o caso do lixo hospitalar.
Não é pré-julgamento, contra o qual a coluna se põe, mas também a vida não pode seguir como se nada de anormal estivesse ocorrendo quando se trata de uma pessoa pública. O parlamentar terá que ter a paciência necessária para aguardar as investigações e que prove que não tem nenhum envolvimento em irregularidade. Antes disso, não dá para assumir posição de tamanho destaque na Assembleia.
Assim, entregar a poderosa Comissão de Finanças, Fiscalização, Tributação e Controle nas mãos dele neste momento seria totalmente inoportuno. E essa insistência do governo de colocar Olyntho na vitrine é algo que levanta questões. Por causa do deputado tucano, o governo comprou uma briga inglória com os delegados da Polícia Civil. Por que disso?
Aos estreantes da AL, que se assustaram com as manobras, para eles, talvez pouco habituais em seu primeiro dia de trabalho, fica a constatação de que quanto maior a Casa Legislativa as relações interna corporis não tendem a se tornar melhores, mas piores. O grande jornalista Clóvis Rossi contou uma lição que recebeu de outro gigante do jornalismo político, Carlos Castelo Branco.
Rossi disse que, jovem repórter chegando ao Senado, disse um dia a Castelinho que não podia imaginar toda a capacidade de armação e maledicências que despejavam contra os senadores, na época idosos, de cabelos brancos, com cara de avôs. Acostumado às tramas mais sagazes e perversas do Legislativo, Castelinho não pestanejou ao responder:
— Meu jovem, o mais bobo aí põe linha na agulha, no escuro e com luva de boxe nas mãos.
CT, Palmas, 6 de fevereiro de 2019.