Todos que têm acompanhado as peripécias do Instituto de Previdência de Palmas (PreviPalmas) no mercado financeiro ficaram pasmos com a declaração do prefeito de Palmas, Carlos Amastha (PSB), na coletiva de sexta-feira, 16, de que o órgão não investiu R$ 20 milhões dos servidores municipais na Tercon, uma aplicação de elevadíssimo risco, como foi a da tal NSG Capital, que depois passou a se chamar Icla Trust, a mesma que geria o Fundo BFG, das churrascarias Porcão, e que deu prejuízo de R$ 330 milhões ao Instituto de Gestão Previdenciária do Tocantins (Igeprev). Ou o prefeito tenta a la Trump uma “verdade alternativa”, ou não está sendo devidamente informado pelos assessores.
[bs-quote quote=”Como se vê, não dá para esconder o sol com a peneira. Ninguém está dando opinião, mas informação a partir de documentos oficiais e das explicações de quem conhece profundamente o mercado financeiro” style=”default” align=”left” color=”#ffffff” author_name=”Cleber Toledo” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Vejam: a aplicação do PreviPalmas na Tercon não é uma hipótese, uma suspeita, nem mesmo uma possibilidade. É um fato. Fácil, inclusive, de verificar porque está nas Autorizações de Aplicação e Resgates (APR), do próprio Ministério da Previdência.
A primeira APR mostra que no dia 15 de setembro do ano passado, o então presidente do PreviPalmas, Max Fleury autorizou a aplicação de R$ 10 milhões na Tercon. No segundo documento, o mesmo Max Fleury é apontado como o responsável por autorizar outra aplicação de mais R$ 10 milhões no fundo no dia 7 de novembro de 2017.
Com isso, somados aos R$ 30 milhões investidos no tal Cais Mauá, de Porto Alegre (RS), e que deve ficar preso por lá por até 24 anos, as aplicações de risco do PreviPalmas somam R$ 50 milhões. De novo: isso é fato inquestionável, não uma possibilidade. Não resta a mínima dúvida disso.
O especialista que tem abastecido a imprensa do Estado com farta documentação disse à coluna que a Tercon é gestora de um fundo de investimentos que recebeu os R$ 20 milhões do PreviPalmas. A aplicação, conforme o especialista, está completamente desenquadrada, tendo mais de 45% do patrimônio líquido do fundo, quando o limite é de 5%.
A fonte explicou ainda que a Tercon, com esse dinheiro do instituto dos servidores de Palmas, reinvestiu, comprando cotas de quatro fundos — três da Reag, a mesma que assumiu o tal Cais Mauá no lugar da Icla Trust, o ex-Porcão; e mais o fundo imobiliário Santo Domingos, que tem também a Reag como principal cotista. Ou seja, todos os R$ 50 milhões do PreviPalmas, no final das contas, ficaram com essa tal Reag: os R$ 20 milhões em setembro e novembro da Tercon; e os R$ 30 milhões em dezembro, do Cais Mauá, quando essa empresa assumiu a aplicação da Icla Trust.
De acordo com o especialista, nesse tal fundo São Domingos existem três “bombas” que lesaram o Igeprev (Aquilla FII, Máxima Realty, Golden Tulip Hotel).
E tem mais: esse investimento da Tercon só tem o PreviPalmas como instituto de previdência e mais quatro investidores pessoas físicas. O especialista estranhou o fato de o instituto dos servidores de Palmas ter tirado os R$ 20 milhões de um fundo seguro da Caixa Econômica Federal, com 770 regimes próprios de previdência, para aplicar em um que só tem o próprio PreviPalmas.
Como se vê, não dá para esconder o sol com a peneira. Ninguém está dando opinião, mas informação a partir de documentos oficiais e das explicações de quem conhece profundamente o mercado financeiro.
Assim, não resta a menor do dúvida de que o PreviPalmas virou o Igeprev de quatro anos atrás.
CT, Palmas, 19 de março de 2018.