Mesmo com a pauta esvaziada, os caminhoneiros decidiram continuar impedindo o abastecimento das cidades tocantinenses. A partir de agora, com a concessão de todas as reivindicações pelo governo federal — típico de governo fraco e desacreditado —, o movimento não é mais trabalhista, mas político-partidário. Erra o governo do Estado ao não entrar nas conversações para tentar liberar os caminhões. Se o faz, não está sendo bem-sucedido, e erra também por não divulgar essas iniciativas.
Até porque o governo tocantinense e os municípios são prejudicados diretos com esse protesto. Veja só: combustíveis, lubrificantes e gás representam 35,6% da arrecadação do ICMS, energia, 9,8%; e bebidas, 8%. Ou seja, estamos falando de 53,4% da receita desse imposto com esses setores.
[bs-quote quote=”A reação em cadeia atinge todo mundo, inclusive Estado, que vai arrecadar menos e repassar valores menores da cota-parte dos municípios. O resultado final é que o governo do Tocantins enfrentará uma brusca queda na arrecadação, no momento mais crítico de sua história, com a profunda crise financeira, fiscal e política” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Sem combustível nas cidades, o impensável até pouco tempo e um grave atentado à segurança pública, os postos estão sem vender desde quinta-feira, 24, e até agora sem previsão de retorno à normalidade. Para evitar o consumo de combustíveis, o cidadão está ficando o mais quieto possível em casa, derrubando o consumo de bebidas e do comércio em geral. Como o CT mostrou nessa segunda-feira, 28, o movimento nos supermercados caiu, e até o pãozinho indispensável vai faltar, já que as padarias, por falta de matéria-prima, estão suspendendo a produção. Com a queda geral da atividade econômica, o consumo de energia também é reduzido.
A reação em cadeia atinge todo mundo, inclusive Estado, que vai arrecadar menos e repassar valores menores da cota-parte dos municípios. As empresas terão dificuldades para pagar salários, haverá menos dinheiro circulando no mercado, e por aí vai. O resultado final é que o governo do Tocantins enfrentará uma brusca queda na arrecadação, no momento mais crítico de sua história, com a profunda crise financeira, fiscal e política. Hoje conta-se as moedas na Sefaz para pagar as despesas. E com a queda da arrecadação, como vai ficar?
O mais grave é que a engrenagem econômica não volta a operar a toda velocidade de uma hora para outra, num ligar de botão. Não é assim. Mesmo com o reabastecimento, com o fim de toda essa insanidade que estamos assistindo, levará um tempo até a economia retomar toda a sua potência.
Dessa forma, não dá para entender a inanição do governo do Estado. Por que não está negociando a liberação dos caminhões? Se está, porque não comunica isso à sociedade?
É preciso agir urgentemente para acabar com esse movimento que só está trazendo prejuízos para a sociedade, pior que com o apoio cego de parte dela, que acha toda essa insanidade “poética”, “revolucionária”, o “acordar do gigante” e toda essa bobagem que escutamos desde junho de 2013. Uma indignação que fica nas redes sociais e nas voltinhas de zumbis que se dá pelas avenidas, como se estivéssemos num episódio de The Walking Dead, defendendo absurdos como a intervenção militar, o que confirma o quanto nossa educação fracassou. Nunca essa insatisfação chega às urnas, das quais saem vencedores os mesmos de sempre.
Por isso, volta e meia gosto de lembrar uma frase ontológica do maior pensador liberal brasileiro, o deputado federal, senador e embaixador Roberto Campos: “A burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor”.
Palmas, 29 de maio de 2018.