A expectativa de todas as campanhas é de que o Tocantins registre neste domingo, 3, sua maior taxa de abstenção, brancos e nulos da história. Os motivos são diversos, mas, sobretudo, o fato de muitos sequer saberem que teremos eleição suplementar, o desinteresse de outros e há ainda o descontentamento justificado com a classe política. Contudo, a sociedade, contraditoriamente, clama por mudanças. Como quer mudar?
Nesses dias insanos de greve dos caminheiros vimos as “vivandeiras alvoroçadas” — para usar uma expressão do general Castello Branco — pedindo uma intervenção militar que nem os militares querem fazer, como o alto comando explicitou. Como escrevi esses dias, esse clamor ensandecido pela volta das Forças Armadas ao Poder é a prova cabal do fracasso da educação brasileira.
Ora, como pedir intervenção militar a dois dias da eleição para o governo do Tocantins e a quatro meses da escolha do novo presidente? É mais fácil terceirizar uma responsabilidade que também é nossa. Sim, porque, não só seus dirigentes, mas toda a sociedade tem deveres com o desenvolvimento da Nação. E começa pela escolha amadurecida de seus líderes.
[bs-quote quote=”Se sua escolha é fundamentada em quem está na frente na pesquisa, você se torna mais um numa gigantesca massa de manobra e abdica de um direito e do dever de votar de acordo com seus princípios e valores” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Esta eleição suplementar, inclusive, traz um ingrediente diferente das outras disputas. Um leque bem variado de candidatos, com gradações ideológicas, perfil pessoal e história política diversificados. Será que em sete candidatos não há um que tenha apresentado propostas e uma história de vida que lhe agrade?
Se o leitor responder que não há um sequer, então, desculpe-me, o problema não é o cardápio de candidatos, mas a falta de compromisso do cidadão com o Estado. Porque nunca tivemos um leque de postulantes ao Palácio Araguaia tão bom como nesta eleição, inclusive os nomes de menor estrutura.
Diga-se: todos os candidatos merecem os cumprimentos pela campanha de alto nível que se viu. Não houve “laranja”, nem baixarias, mas uma disputa altamente propositiva, com provocações, claro, trocas de farpas, é óbvio e normal. Porém, nada que tenha extrapolado os limites éticos, como foi comum em outros confrontos. A torcida é para que continue assim até este domingo.
Se o caro eleitor quer mudar o País, não aposte na terceirização de sua responsabilidade, em tresloucadas defesas de intervenção militar e outras medidas escapistas. Assuma seu dever com o Estado, escolha seu candidato e vá às urnas dar seu voto a ele. Mas faça esta escolha baseado em apenas dois critérios: história de vida e propostas.
Ignore pesquisas. Não são elas que devem nortear sua escolha. A publicação de levantamentos com resultados mais díspares mostra que há algo que os move muito além da metodologia, numa agressão frontal e covarde à democracia, situação sobre a qual os órgãos de controle lamentavelmente ainda preferem se omitir. Repito: escolha seu candidato pela história de vida e propostas.
Não existe “perder voto”. Perdemos o voto ao elegermos alguém que não é digno dele, que vai nos roubar e ignorar as necessidades da população. Isso, sim, é perder voto e, com ele, a dignidade. Quando votamos em quem acreditamos, mesmo que ele perca, estamos manifestando a nossa vontade soberana, chegamos ao ápice do exercício da cidadania e dizemos ao País que existimos, não como massa, mas como indivíduo liberto e consciente.
Se sua escolha é fundamentada em quem está na frente na pesquisa, você se torna mais um numa gigantesca massa de manobra e abdica de um direito e do dever de votar de acordo com seus princípios e valores. Aí não adianta reclamar, apoiar greve irresponsável e esgoelar por intervenção militar, compondo o séquito insano das “vivandeiras alvoroçadas”.
O Brasil clama por mudanças, sim. Profundas. Nosso país não pode continuar como está, não podemos mais ser representados por um bando de assaltantes dos cofres públicos. Mas essa mudança quem deve fazer é você, eleitor, pelo voto, não os militares com seus tanques e fuzis. O voto é muito mais poderoso que todo arsenal das Forças Armadas.
Por isso, vá às urnas neste domingo, não se omita, e, no maior ato político de um cidadão, capaz de tremer o Tocantins, Brasília e o Brasil, simplesmente, vote.
CT, Palmas, 2 de junho de 2018.