O imbróglio sobre a pré-candidatura a senador do deputado federal Irajá Abreu (PSD) chama a atenção para um problema que os postulantes estão enfrentando: tem muita gente querendo e poucas vagas disponíveis ao Senado.
As candidaturas a governador já estão praticamente definidas: Mauro Carlesse (PHS), Carlos Amastha (PSB), Márlon Reis (Rede) e César Simoni (PSL). Assim, existem oito vagas para candidaturas a senador, mas pelo menos 12 nomes são frequentemente citados como postulantes ao cargo: Siqueira Campos (DEM), César Halum (PRB), Eduardo Gomes (SD), Ataídes Oliveira (PSDB), Irajá Abreu (PSD), Nilmar Ruiz (Rede), Marcelo Cláudio (PRTB), Raul Filho (PSD), Gaúcho (PRP), Osires Damaso (PSC), Paulo Mourão (PT) e Farlei Meyer (PSL).
A situação é ainda mais complicada porque a briga será em torno das majoritárias de Carlesse e Amastha, as candidaturas da política tradicional do Estado, a que até recentemente o ex-prefeito de Palmas se referia como “velha política”. Os dois têm quatro vagas disponíveis, mas oito pré-candidatos são citados para elas: Siqueira Campos, César Halum, Eduardo Gomes, Ataídes, Irajá Abreu, Raul Filho, Osires Damaso e Paulo Mourão.
[bs-quote quote=”Para os debutantes, as lições de João Ribeiro trazem a receita para se livrar da maldição do Senado e evitar um fim antecipado de uma carreira que poderia ser longa” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Carlesse já teria compromisso firmado desde antes da eleição suplementar com Siqueira e Halum, o que reduz muito as possibilidades de seis dos pré-candidatos estarem ao lado do governador. Vez ou outra surgem buxixos de que Siqueira poderia não disputar, contudo, são desmentidos categoricamente em seguida por aliados do democrata.
O governador neste momento é priorizado pelos pré-candidatos tradicionais, que têm resistência ao polêmico Amastha. De toda forma, como só dois terão vaga ao lado de Carlesse, é muito provável que os preteridos engulam seus ascos e egos e aceitem de bom grado fazer par com o ex-prefeito de Palmas.
No lado de Amastha, ficou evidente nessa segunda-feira, 16, que uma vaga pertence a Vicentinho. A outra está em aberto. Márlon já fechou as duas vagas, com Nilmar e Marcelo Cláudio. Simoni tem, por enquanto, o policial federal Farlei Meyer.
Ou seja, no frigir dos ovos, a priori, teríamos hoje disponíveis apenas duas vagas: uma com Amastha e outra com Simoni. Claro que até o dia 5 de agosto, prazo final das convenções, poderá haver muita dança das cadeiras. Mas este é o retrato do momento.
O que está em jogo na disputa pelo Senado são oito anos de céu de brigadeiro, compondo a mais alta casa legislativa do País, acesso direto ao presidente da República e respeitabilidade acima de todos os demais cargos eletivos, com exceção da Presidência. Como se diz na ironia política, é chegar num lugar melhor do que o céu, porque, para ir ao Senado, não precisa morrer.
No entanto, sempre digo que o Senado tem uma maldição para os políticos tocantinenses. Quase todos que passaram por lá afundaram suas carreiras. Talvez uma das pouquíssimas exceções tenha sido João Ribeiro, mas por conta de uma característica muito rara para um senador: a humildade.
João era um senador com postura de vereador, ou seja, estava no “céu”, mas não perdia o contato com a terra. Ao invés de buscar os holofotes que cegaram os demais tocantinenses que passaram por aquela Casa, ele se conscientizou de que os oitos anos passam rápido, de que precisaria voltar ao Tocantins e prestar contas do que foi feito para ser honrado com novo mandato. Foi por isso que na sua reeleição em 2010 recebeu mais votos que o candidato a governador da época, Siqueira Campos.
A tendência do senador, diante de todo o glamour do cargo, é se deixar inebriar por uma carreira nacional que leva os “semi-deuses” ao esquecimento de quem realmente são, de onde vieram e para onde precisarão voltar oito anos depois. Assim, passam a evitar o Estado, não recebem prefeitos e vereadores e se sentem num alto e sublime trono colocado sobre um Olimpo de glórias e louvores, sem acesso aos reles mortais.
João Ribeiro foi imunizado da maldição do Senado porque fazia questão de estar sempre rodeado de seus líderes tocantinenses e semana após semana de todo o mandato percorria o Estado. Nas eleições, era imprescindível para as campanhas de seus companheiros, na vitória ou na derrota. Passada a disputa por voto, perdoava as costumeiras traições e não se negava a ajudar o ex-aliado e até mesmo os adversários vencedores a buscarem recursos nos ministérios, enquanto outros promovem retaliações e até humilhação pública. Paralelo ao desempenho do papel de “vereadorzão”, o saudoso senador conseguiu manter elevadíssimo prestígio nacional.
Para os debutantes, as lições de João Ribeiro trazem a receita para se livrar da maldição do Senado e evitar um fim antecipado de uma carreira que poderia ser longa.
Mas claro que primeiro terão que conseguir uma vaga de senador, o que não será fácil e, pelas insatisfações que esse processo vai gerar, reconfigurará os arcos de aliança dos pré-candidatos a governador.
No entanto, essa primeira prova de fogo é um passo essencial para mostrar os líderes que realmente estão à altura de representar o Tocantins no Senado Federal. Para evidenciar esse potencial de liderança, maturidade política é pré-requisito básico.
CT, Maringá (PR), 17 de julho de 2018.