O último candidato que esperava que criticaria as exonerações do governo do Estado era o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB). Mas, rapidinho, agiu para tirar proveito eleitoral da situação. O enxugamento da máquina estadual é uma medida mais do que necessária e bem-vinda pelo quadro de caos administrativo do Tocantins. Diga-se: expediente do qual Amastha foi useiro e vezeiro no comando da Capital.
Estamos falando de um Estado que já comprometeu 54,9% de sua Receita Corrente Líquida com a folha de pessoal, quando o limite previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal é de 49%. Durante seu mandato, o ex-prefeito promoveu exonerações ao atingir 51% da LRF. Em 2015, demitiu 300 de uma vez. Como agora critica uma medida que a parte responsável da sociedade cobra e da qual ele sempre se utilizou?
[bs-quote quote=”O momento é de seriedade, não dá para brincar de política e com o destino do Estado em meio a terríveis dificuldades” style=”default” align=”left” color=”#ffffff” author_name=”Cleber Toledo” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
As demissões de Amastha ao longo desses cinco anos de mandato sempre foram apoiadas por este colunista e por todos os que têm um mínimo de responsabilidade e sabem quão benéfica é para a sociedade um máquina pública enxuta e eficiente.
Agora, em período eleitoral, quando é candidato, criticar a mesma medida da qual sempre se utilizou para administrar? Segundo ele, o governo Mauro Carlesse (PHS) vai recontratar pessoal num uso político desse expediente. Mas o secretário-chefe da Casa Civil, Rolf Vidal, disse o contrário em entrevista ao CT: novas exonerações podem ocorrer.
Se realmente Carlesse começasse a recontratar, a crítica do ex-prefeito seria justa. Afinal, o que justifica as exonerações é o ajuste das contas. Agora dar uma de “ Mãe Dináh” para lucrar eleitoralmente?
É a ideia básica de sempre da “velha política” à qual Amastha jura não pertencer: promover o caos para vencer o processo eleitoral. As dificuldades que o Estado atravessa, se vão piorar ou não, pouco importam. O que interessa é conseguir votos.
Para dar mais um sentido eleitoral, o ex-prefeito ainda forçou na nota à imprensa uma citação ao deputado estadual Wanderlei Barbosa (SD) para ver se o agora candidato a vice de Carlesse reagia.
Na Assembleia, alguns deputados também foram à tribuna “denunciar” o “uso eleitoreiro” das exonerações. Um com 500, outro com 1 mil e gente com quase 2 mil indicados na máquina estadual. Perder esse povo todo num ano eleitoral deve ser realmente triste. Afinal, se quiserem cabos eleitorais agora terão que pagar do próprio bolso, e não passar a conta para o contribuinte. Além disso, descobriu-se entre os exonerados ex-mulheres de parlamentares (seria uma forma de pensão bancada pelo erário estadual?), sobrinhos, tios, etc. Lamentável.
O momento é de seriedade, não dá para brincar de política e com o destino do Estado em meio a terríveis dificuldades. Os homens públicos tocantinenses precisam ter responsabilidade e mostrar compromisso efetivo com propostas que solucionem essa crise e não que a aprofundem.
A crítica de que Carlesse não promoveu o enxugamento na Assembleia, o que terá que ser feito agora com a decisão judicial, é justa. Mas, por isso, ele não deve reduzir os custos da máquina estadual, que segue desenfreada ladeira abaixo, onde está um abismo?
Amastha fala em “medidas abruptas e sem planejamento”. O que ele espera? Que o governo aguarde por alguns meses? Ora, a situação é urgente, esse enxugamento já passou da hora, está atrasado, deveria ter sido feito em 2015. Sobretudo considerando ainda que essa grave crise poderá derrubar as receitas estaduais nos próximos meses.
Como disse ao CT o secretário-chefe da Casa Civil, Rolf Vidal, “dá para fazer mais com menos”. E terá que dar. O Palácio Araguaia está assumindo a responsabilidade de manter a máquina em funcionamento com menos servidores. Se não der conta, também deverá ser cobrado por isso.
As medidas de transição de governo precisam ser tomadas imediatamente para os ajustes necessários até para que as dificuldades do próximo inquilino do Palácio sejam menores. Inclusive, poderá ser o próprio Amastha.
Por isso, usar do populismos e da demagogia em nada contribui com a melhoria do Estado, e ainda nos joga mais obscuridades e incertezas. Como se não bastasse para isso o risco em que já nos colocam as candidaturas que não atendem os requisitos legais.
Política é coisa para gente séria. Não dá para ficar de fanfarronices para se aproveitar da fragilidade do moribundo, que tenta a todo custo continuar respirando.
Repito: política é para gente séria.
CT, Palmas, 26 de abril de 2018.