Para o público em geral, soa precipitado falar em sucessões municipais poucos dias depois do término das eleições estaduais. Os políticos, claro, falam que ainda é cedo para tocar no assunto. Publicamente, sim. Mas pessoalmente e internamente nos grupos, não tenha dúvida, caríssimo leitor, eles só pensam em 2020.
As eleições municipais são consideradas intermediárias para as estaduais. Isso significa que a base sólida de apoio a uma candidatura a governador, a senador, deputado federal e estadual começa ser construída nas disputas por prefeituras. Assim, esses dois momentos não são desconectados, mas extensões um do outro.
[bs-quote quote=”As eleições municipais são totalmente conectadas às estaduais e requerem uma engenharia complexa, com variáveis dependentes de uma série de fatos sobre os quais geralmente não há como se exercer um controle” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Por isso que, terminadas as disputas estaduais, já se começa a teorizar o que pode ocorrer na sucessão dos prefeitos. Muda-se o tabuleiro, recoloca-se as peças sobre ele e começam os primeiros movimentos. Neste momento inicial é mapeado quem tem interesse em se candidatar e quais as consequências dessas candidaturas em 2022, quando voltam à cena as eleições estaduais.
Um candidato a deputado federal não eleito, por exemplo, e que ficou de suplente, quer estimular quem pode lhe ceder a vaga na Câmara a encarar a eleição municipal. Um ganha-ganha: um vira prefeito e outro deputado. Todo mundo fica feliz.
No caso do Tocantins, será um problema seríssimo para o governador Mauro Carlesse (PHS), que em cidades importantes teve o apoio de correntes que divergem entre si. Qual ele vai apoiar? Na maioria dos casos trata-se de adversários históricos, sem a mínima condição de um grupo compor com o outro. Inexoravelmente, vão se enfrentar em 2020.
Como o governador contou com o apoio de quase todos os prefeitos do Estado, eles vão querer retorno a partir de agora às suas gestões, quase sempre em crise, para se fortalecerem para as eleições municipais. Os grupos adversários vão cobrar que o Palácio fique de fora dessas disputas paroquianas. É lógico que o Estado deverá pensar primeiro na necessidade da população, que não pode ser refém de um fogo cruzado entre adversários que querem o poder, e não se preocupam com a comunidade. Verdade. Mas haverá desgaste para o Palácio. Não tem como evitá-lo.
Nessas variáveis entra outra complicação: a situação fiscal do Estado. O Tocantins, como se sabe, vive uma das mais profundas crises de sua história, o que requer medidas drásticas de saneamento. Isso significa que o governo pode não ter condições de contribuir com os aliados nos municípios da forma como eles esperam.
O desdobramento dessa crise nas eleições municipais pode ainda levar o Estado a não ser um bom aliado, a depender do nível de desgaste do Palácio Araguaia. Isso ocorreu nas últimas três eleições de Palmas. O candidato palaciano perdeu em 2008 — Nilmar Ruiz, com apoio de Marcelo Miranda, ficou em terceiro lugar; em 2012 — Marcelo Lelis, nome de Siqueira Campos, abriu as portas da política para o novato Carlos Amastha —; e em 2016 — outra vez um nome palaciano, apoiado por Marcelo, a então vice-governadora Cláudia Lelis, voltou a ficar em terceiro lugar, na reeleição de Amastha.
Como se percebe, as eleições municipais são totalmente conectadas às estaduais e requerem uma engenharia complexa, com variáveis dependentes de uma série de fatos sobre os quais geralmente não há como se exercer um controle.
Assim, por mais que as pessoas estranhem por quê falar de uma eleição de forma tão antecipada, os políticos sabem que adiar esse debate pode ser uma omissão fatal nas disputas de 2022, que, no final das contas, são o que mais importa para quem opera no plano estadual.
CT, Palmas, 16 de outubro de 2018.