A pesquisa divulgada pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Palmas, uma realização do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) do Brasil, mostra o pessimismo do empresariado com os impactos das eleições gerais. Para 44%, o processo fará o custo de vida aumentar; para 41%, haverá elevação da taxa de juros; e, para 47%, não haverá incremento de vendas.
O interessante é que num passado não muito distante não era assim. As eleições representavam um grande estímulo ao comércio. Ano eleitoral era esperado como o Dia das Mães, o Dia das Crianças e o Natal. Um período sazonal de alta nas vendas. Comércio de bonés, camisetas, chaveiros e tudo quanto é brinde. Shows locais, regionais e nacionais faziam a alegria de pipoqueiros e ambulantes em geral. Eleições tinham clima de festa, geravam emprego, renda e aqueciam o comércio.
Quando moleques, nossa alegria era ganhar bolas, jogos de camisas lindas e os campeonatos tinham troféus imensos. Agora, político não patrocina mais nada disso, a não ser se for deputado, aí o nome dele entra no cartaz e é lembrado ao microfone, porque colocou uma emenda.
Com a tese de que era preciso acabar com o abuso do poder econômico, transformaram as eleições num processo anódino, melancólico, sem vida. As mesmas ladainhas e mentiras do passado, mas sem qualquer alegria. Nada mais de camisetas, bonés, shows, absolutamente nada.
[bs-quote quote=”Quem é candidato sabe que não existe equilíbrio na disputa. As eleições continuam tragando muito dinheiro, muito acima do que nos saudosos tempos dos showmícios, mas apenas os gastos foram concentrados nas duas rubricas” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
O que mais me estranhou foi o fato de os supostamente maiores beneficiários de todo esse abuso de poder econômico, a classe política, terem concordado e aprovado as mudanças nas leis para torná-las mais rígidas e os processos eleitorais, teoricamente, mais equilibrados. Como assim? Na época não consegui entender tanto espírito público e republicano de quem nunca demonstrou nada sequer parecido com isso.
Algumas eleições depois dessas alterações na legislação, olhando para a realidade das disputas nas ruas, não para tribunais e academias, que vivem num “faz de conta”, comecei a compreender melhor o que motivou essa postura dos políticos de não resistir às restrições à gastança eleitoreira.
Se analisarmos as eleições desde então, elas não se tornaram mais baratas. Muito pelo contrário. Nunca se gastou tanto para se eleger. Mesmo os gastos oficiais. O cientista político Alberto Carlos Almeida mostra isso nas eleições presidenciais em seu mais recente livro, “O voto do brasileiro”. As disputas estaduais e municipais não são diferentes.
Mas o dinheiro não é mais destinado para alegrar o povo. Os grandes custos se concentram agora na produção de programas eleitorais de TV e rádio, pelos caixas 1 e 2, como os casos de Duda Mendonça e do casal João Santana e Mônica Moura, nas campanhas do PT, ilustraram bem. Também representa um custo elevadíssimo, via caixa 2, a cooptação de líderes. A legislação levou os políticos a tirarem Chitãozinho e Xororó e outros astros da população para canalizar os recursos para comprar prefeitos, vereadores e outros desse naipe que possam lhes dar votos.
Assim, as mudanças na lei não reduziram os gastos das campanhas e não as tornaram mais equilibradas. Apenas deslocaram a rubrica da despesa. Elas saíram dos showmícios e artistas, das gráficas, indústrias de brindes e camisetas, dos ambulantes, do comércio em geral, onde impulsionavam as vendas, empregavam e davam alegria às pessoas, e foram canalizadas para marqueteiros e para os próprios políticos, cabos eleitorais privilegiados, cooptados com milhares e milhares de reais.
Quem é candidato sabe que não existe equilíbrio na disputa. As eleições continuam tragando muito dinheiro, muito acima do que nos saudosos tempos dos showmícios, mas os gastos foram concentrados nas duas rubricas citadas. Hoje, como naquela época, quem não tem dinheiro não se elege.
Claro que, para o “mundo de faz de contas” dos tribunais e da academia, essas alterações na legislação foram o máximo, próximas da perfeição, e deram a todos os candidatos as mesmas condições de igualdade. Essas medidas são efetivas da mesma forma que as declarações de patrimônio e as prestações de contas dos candidatos. Tudo não passa de mera peça de ficção para dar ares republicanos a todo o processo.
Mas os políticos as aprovaram, continuam alegres, mesmo com o povo cada vez mais triste e o comércio, como mostra a pesquisa do SPC, ano após ano, extremamente desanimado.
CT, Palmas, 28 de agosto de 2018.