Nesta quinta-feira, 26, o mundo comemora o Dia dos Avós. Nossa geração, os que já passaram dos 40, é de uma época em que eles eram mais que especiais. Ao contrário dos abusos rotineiros que assistimos hoje, nossos velhinhos eram amados. A imagem de toda a bondade e doçura, dignos da nossa mais profunda reverência. Agora, adultos, cercados de tantos problemas, como sentimos a falta todo aquele carinho que nos fazia únicos. A consequência do amor intenso de nossos avós é que aprendemos a respeitar os mais velhos.
Esse respeito é muito importante. Até porque, como mostrou a Revisão 2018 da Projeção de População, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), daqui a pouco todos seremos anciãos. Atualmente, essa faixa etária, acima dos 65 anos, é 7% da população do Tocantins. Em 2060, representará 21,5% dos tocantinenses, e 25,5% dos brasileiros. Que país estamos preparando para nós mesmos?
A construção de uma sociedade que respeita seus idosos não é para beneficiar apenas os que estão hoje acima dos 60, mas também para nós mesmos. Ou seja, é agir em causa própria.
[bs-quote quote=”Agora o ponto mais delicado é o que diz respeito à Previdência Social. Ou o Brasil encara com seriedade a Reforma da Previdência, ou não teremos condições de garantir a nossa aposentadoria” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
O primeiro ponto é se pensar a adequação das cidades. Fico perplexo quando vejo, e com frequência absurda, jovens ocuparem vagas para idosos em estacionamento. Como pode? Que tipo de cidadãos nós somos? A fiscalização a essa total falta de sensibilidade deve se tornar mais rígida e é preciso impor multas mais severas para educar as pessoas. Sim, só se educam quando dói no bolso. Foi assim, por exemplo, com o cinto de segurança.
Má notícia para eles é que precisaremos ampliar o número de vagas para idosos em estacionamentos. Mais: teremos que implantar rampas de acessos a prédios, casas, calçadas. Aumentar o número de caixas dedicados à terceira idade em supermercados e postos de atendimentos em geral. Adaptar nossas residências: portas e corredores mais largos e banheiros apropriados. Casas de apoio aos idosos vulneráveis, abandonados ou maltratados por filhos — um crime contra a humanidade, diga-se — precisam ser construídas.
Empreendedores já começam a ficar atento a um mercado que vai crescer muito mais. Aqui em Maringá, onde estou até o final do mês para cuidar de minha mãe, que passou por uma cirugia, vivi uma experiência interessante esta semana. Precisei levar uma prima à universidade para o vestibular, e dona Alvina, minha mãe, chamou um rapaz que presta serviços a idosos de toda esta área — a terceira idade impera no condomínio de minha mãe e nos vizinhos. O carro tem um adesivo enorme na traseira: “Apoio ao idoso”. Ele anuncia que leva ao médico, à fisioterapia e até faz compras para os anciãos.
As empreiteiras devem ficar atentas às demandas desse público. A construção de condomínios para idosos vão ganhar mercado, com toda a estrutura necessária para atendimento médico, fisioterapia e enfermagem. Também viveremos mais tempo, teremos mais saúde e, assim, precisaremos de lazer.
Agora o ponto mais delicado é o que diz respeito à Previdência Social. Ou o Brasil encara com seriedade a Reforma da Previdência, ou não teremos condições de garantir a nossa aposentadoria. O País não pode continuar sendo enganado pelo populismo sindical e fechando os olhos para essa necessidade mais do que urgente, porque trava a economia hoje e vai precarizar o pagamento de aposentadorias e pensões num futuro, como mostra o IBGE, nem tão distante assim.
Veja: nos próximos 42 anos, a população de 15 a 24 anos vai encolher 21,5% e a faixa de 60 a 69 anos crescerá incríveis 172,61%. Muito antes disso já será bem expressiva. Isso significa menos gente contribuindo e mais pessoas para receber sem trabalhar. Como sustentá-las depois de terem dedicado 30 ou 40 anos de suas vidas ao Brasil? Mandamos que busquem a complementação de renda nos sindicatos que impediram a Reforma da Previdência?
O populismo é uma delícia. Nesse mundo perfeito, se não se faz é por mera falta de vontade política. Dinheiro jorra como água aos cântaros. É possível se fazer o que se quiser. Bem isso: uma questão de querer. É lindo, um lugar paradisíaco, o país das maravilhas. Mas, como na história de Lewis Carroll, essa terra é mera ficção. Os 13 anos em que os populistas dominaram o Brasil e o levou à maior crise da República mostram que depois do sonho dourado vem um inferno nebuloso.
Os idosos de hoje e os do futuro merecemos uma vida digna e de qualidade, mas que construiremos com respeito à terceira idade e pisando no duro chão da realidade.
CT, Maringá (PR), 26 de julho de 2018.