O principal câncer das contas públicas de Estados e municípios, e que precisa ser urgentemente extirpado, é a reeleição. Por ela, quebra-se o tesouro para garantir mais quatro anos de poder. É justamente aí que reside a razão de as gestões estarem aos farrapos e a população à mercê da sorte, com serviços para lá de precarizados. Por isso, não tenho dúvida de que não ter o direito à reeleição é a melhor parte da vitória de domingo, 7, do governador Mauro Carlesse (PHS).
[bs-quote quote=”Rever custos e reestruturar a máquina pública exigem sacrifícios de todos os setores, que geralmente não querem ceder. Será necessário exercer a diplomacia nuns momentos, a autoridade noutros e enfrentar as mais terríveis resistências. Mas é o grande desafio que está sendo colocado diante do governador reeleito” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Como conquistou o primeiro mandato na suplementar de junho, Carlesse foi, então, reeleito nessas eleições ordinárias. Por isso, está fora da sucessão do Palácio Araguaia de 2022. Com a perspectiva de apenas quatro anos pela frente, se quiser, o governador poderá colocar as contas do Estado no eixo. Claro que, para isso, a austeridade precisará estar no mais alto pedestal de sua gestão, como a coluna tem defendido desde o início do ano como fundamental para resolver a profunda crise fiscal do Tocantins.
O anúncio do contingenciamento de R$ 123 milhões feito pelo governo pode ser uma medida emergencial necessária, mas que se espera que tenha sido muito bem estudada. Isso porque o enxugamento que o Estado precisa é muito mais profundo que meramente cortar gastos essenciais sob o risco de prejudicar ainda mais os serviços públicos, já em situação de penúria. Precisa, por exemplo, ser revista a própria estrutura, reduzir os cargos ao mínimo necessário, acabar com alugueis de compadres e com contratos de consultoria de nada para coisa nenhuma, que ninguém consegue entender para que serve. Acima de tudo, despolitizar as nomeações de servidores comissionados.
Carlesse tem que pensar um governo para quatro anos, com medidas que vão muito além da emergencial, do socorro pontual. Não dá mais para o Estado resumir suas ações à arrecadação para a folha, e é o que ele só faz há praticamente uma década. A discussão das contas públicas do Tocantins tem se pautado exclusivamente pelos processos eleitorais, direitos trabalhistas e acomodação de cabos eleitorais de deputados.
É necessário readequar os custos, instituir um planejamento sério de médio e longo prazo para o Estado voltar a ter condições de investir, promover o empreendorismo, atrair investidores e tornar os serviços públicos mais eficientes. Esse é o caminho que Tocantins precisa trilhar para o desenvolvimento.
No entanto, ostentar novamente essas condições leva tempo, diante do tamanho do estrago que foi feito. Mas esse cenário deve ser o horizonte do governo Carlesse, com base no fato de que terá uma gestão de apenas quatro anos.
Ninguém está dizendo que será fácil. Ao contrário. A tarefa é árdua. Rever custos e reestruturar a máquina pública exigem sacrifícios de todos os setores, que geralmente não querem ceder. Será necessário exercer a diplomacia nuns momentos, a autoridade noutros e enfrentar as mais terríveis resistências. Mas é o grande desafio que está sendo colocado diante do governador reeleito. Ao final dessa tempestade, se encará-la com coragem, inteligência e determinação, encontrará um belo dia de muito sol, os aplausos da sociedade e um registro de dignidade na nossa história.
À Assembleia Legislativa cabe a missão de se mostrar à altura do momento histórico, e não se deixar seduzir pela política rasteira da troca de votos por cargos para cabos eleitorais e das pressões que beiram a chantagem por liberação de emendas para gastos fúteis num cenário de crise abismal que o Tocantins atravessa.
Nossa torcida é para que a nova Legislatura tenha a grandeza histórica de compreender quão é importante o papel que os novos deputados terão pela frente para contribuir para a reconstrução do Estado que todos amamos e queremos ver pujante.
CT, Palmas, 11 de outubro de 2018.