Com o fim do período de convenções, ficou confirmado tudo que o CT e outros veículos vinham afirmando e que os candidatos diziam, na maioria das vezes, que eram só especulações. Todo mundo ficou com todo mundo, estão todos nivelados e a figura do “novo” ficou de fora das eleições de outubro no Tocantins. Claro que o eleitor vai ouvir “as virgens de cabaré” se autoproclamarem as “novidades”, “os puros” e os “castos” do processo. É a síndrome de Desiré, a messalina da telenovela tocantinense.
Interpretando esse papel desde sempre, o candidato do PSB, Carlos Amastha, ficou com aqueles que tanto atacou, ainda que agora diga que criticou meramente atitudes, não pessoas. Continua achando, como sempre, que todo mundo está mentalmente abaixo de sua inteligência privilegiada. Tenho prints e mais prints de ataques rasos que Amastha fez a seus novos aliados.
Do ponto de vista tático, o ex-prefeito de Palmas fez a coisa certa, mas tarde demais. Sempre se achando superior intelectualmente ao reles tocantinense, dava de ombros que era aconselhado a não agredir estupidamente como fazia aqueles que chamava de “velha política”, da qual agora é parte. Não tinha dúvida de que seria eleito apenas com os votos dos principais centros do Estado, que, por isso, os líderes das cidades menores eram dispensáveis. Este colunista foi um dos que sempre alertou-o da imbecilidade desse pensamento, próprio de quem não conhece a política tocantinense. O voto no interior profundo do Tocantins é conduzido pelos líderes locais, como esta coluna mostrou com os números da eleição suplementar. Sem os coronéis municipais, o candidato nem é recebido. E os votos das cidades maiores são pulverizados. Todos, uns mais, outros menos, são bem votados nelas. A diferença vem dos municípios pequenos.
Foi justamente isso que tirou Amastha do segundo turno da suplementar. Vicentinho tirou a diferença que precisava das currutelas. Como o candidato do PSB colocou na mesma bacia dos “vagabundos” a maioria dos políticos do Estado, os caciques locais se sentiram atingidos e tomaram verdadeira ojeriza àquele que chamam de “colombiano”.
[bs-quote quote=”Carlesse ainda é o mais coerente de todos, por incrível que pareça. Nunca quis se colocar como o novo, o puro, o casto. Se não pregou abertamente que é do tipo rouba mas faz, também não se postou como a virgem do cabaré, papel que Amastha sempre desempenhou com maestria e que agora vai dividir palco com Márlon Reis” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
O pior é que se tratava de mera hipocrisia. Veja: seu governo fez com o PreviPalmas o que o governo Siqueira Campos fez com o Igeprev, numa diferença apenas de valores. Mas a prática escusa foi a mesma. Está indiciado por corrupção passiva, associação criminosa e excesso de exação (cobrança irregular de impostos) pela Polícia Federal no âmbito da Operação Nosotros (mas, claro, quando é com ele é perseguição da PF, que só age sério contra Marcelo Miranda, Sandoval Cardoso e Eduardo Siqueira Campos). Ainda tem o tratamento desrespeitoso que dispensou aos trabalhadores da educação em greve, a tentativa de desqualificar um conselheiro por cumprir sua obrigação de fiscalizar, nomeação de corrupto do Paraná, etc, etc. Ou seja, se a tal “nova política” é uma questão de atitude, como agora prega Amastha para esconder os xingamentos que disparou contra os adversários hoje aliados, o ex-prefeito de Palmas é a verdadeira encarnação de tudo que tem na “velha política”.
Se Amastha saísse das eleições de 2016 varrendo para dentro, se não prevalecesse a verborragia insana que lhe faz se sentir superior a todos os mortais, com o bom marketing que executa, possivelmente teria sido imbatível na suplementar. Perdeu o time. Uma aliança que seria normal neste contexto de bom senso, pelos atos insanos do candidato ao longo do tempo se tornou algo intragável para o eleitor.
O candidato da Rede Sustentabilidade, Márlon Reis, conquistou a todos com a forma como fez política desde que anunciou sua intenção de disputar o cargo de governador do Tocantins. A ponto de pessoas que evitam a política ou que estavam fora dela terem tomado coragem de colocar seus nomes para as eleições de outubro. Via-se nele um novo projeto político para médio e longo prazo. Ninguém esperava que Márlon vencesse a suplementar ou em outubro, mas que plantasse uma semente que renderia bons frutos em 2020 e 2022.
Com Amastha se unindo aos que sempre xingou, o título mais legítimo de terceira via, de “o novo”, recairia naturalmente sobre Márlon. Poderia até conquistar parte do “não voto” (abstenções, brancos e nulos) e, no mínimo, venceria o candidato do PSB. Parece, porém, que foi muito mal aconselhado por quem tinha mais interesse em resolver uma questão pessoal do que mudar a política do Estado. Pessoas boas e que estavam tomando coragem de ingressar na política perceberam isso e deixaram o projeto da Rede.
No arranjo pelo qual Márlon optou vejo dois problemas ligados à família Abreu. O primeiro é a composição de governo, caso Márlon vença. O que fez a senadora Kátia Abreu (PDT) romper com todos os últimos governos foram os debates sobre o loteamento da administração, não uma questão de moralidade e diferença de ideias. Ela não consegue todas as pasta que quer, briga e rompe. Foi assim com Carlos Gaguim em 2009, com Siqueira — ainda que o ex-governador tenha criado uma secretaria sob medida para seu filho, o deputado federal Irajá Abreu (PSD) —, e com Marcelo Miranda, que cedeu duas pastas e ela queria quatro ou cinco. O emedebista, por isso, ouviu tudo e mais um pouco em sua residência, num escândalo monumental de fechar a rua. Como será esta questão do loteamento numa gestão Márlon Reis? Com certeza, o ex-juiz e advogado, se eleito, terá problemas seríssimos nesse campo.
Outro ponto é um candidato que se diz “novo”, com “uma nova política” para o Estado, querer empurrar goela abaixo do povo tocantinense que ceda duas das três cadeiras de senador a membros de uma só família, mãe e filho. Isso é de uma indecência tão absurda que não dá para acreditar que uma política experiente como Kátia propôs e que um candidato que diz pregar contra oligarquias aceitou. Irajá falou em dinastia ao ser anunciado candidato a senador nesse domingo, 5. O que seria isso? Duas cadeiras de senador para uma família! Se o Tocantins aceitar uma tamanha torpeza dessas estará transformando sua representação no Senado numa monarquia.
Falou-se de pesquisas que indicaria o sucesso desse arranjo. Que pesquisas? Tem gente aí campeã em fraudar pesquisa para ludibriar aliados e eleitorado. Faltou experiência, comprometimento com o projeto que dizia defender e sobrou sede de poder pelo poder.
O candidato do PSL, César Simoni, é uma pessoa que merece respeito pela postura séria. Mas começou mal ao lançar o filho candidato a deputado federal, quando o Estado combate a familiocracia, que Márlon tenta fazer o Tocantins aceitar como parte da “nova política”, diga-se.
A justificativa de Simoni de que seu líder maior, Jair Bolsonaro, é um familiocrata empedernido, o que liberaria para também o sê-lo, só piora as coisas. Aliás, é um dos bons motivos para este colunista duvidar das boas intenções do presidenciável do PSL. Alguém que põe a família inteira na política me deixa com um pé bem lá atrás.
O governador Mauro Carlesse (PHS) tem é que cuidar com a Polícia Federal e o Judiciário. Esses deputados que o sustentam politicamente, fissurados por emendas parlamentares, são um perigo e chave de cadeia. Estão sendo investigados pelo Ministério Público Estadual, que desconfia que esses recursos são canalizados para a campanha eleitoral. Ou seja, que esses deputados querem liberar essas emendas para fazer caixa para as eleições, com apoio dos amigo prefeitos. Também tenho essa desconfiança.
Carlesse já tem um processo em curso justamente por isso e com emendas dele também para Gurupi no foco das investigações. Tudo isso deve lhe dar muito trabalho nestas campanhas eleitorais. Governador do passado que foi incauto e se deixou levar pela cabeça de quem é raposa velha acabou numa cela na CPPP. É bom ter cuidado.
Contudo, Carlesse ainda é o mais coerente de todos, por incrível que pareça. Nunca quis se colocar como o “novo”, o “puro”, o “casto”. Se não pregou abertamente que é do tipo “rouba mas faz”, também não se postou como a “virgem do cabaré”, papel que Amastha sempre desempenhou com maestria e que agora vai dividir palco com Márlon Reis.
Assim, não vi nenhum avanço com essas composições que saíram das convenções. Estão oferecendo ao Tocantins apenas mais do mesmo.
CT, Palmas, 6 de agosto de 2018.