Num tradicional filme de faroeste hollywoodiano, quando a cidade se torna muito pequena para dois cowboys, um deles tem que deixá-la. Se ambos resistirem, a história, invariavelmente, termina em tiroteio. O PSDB do Tocantins já nos faz lembrar o Velho Oeste. O partido está diminuto demais para dois de seus mais emblemáticos rivais, o ex-senador e presidente tucano Ataídes Oliveira e a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro.
Com Ataídes assumindo publicamente que pode disputar a Prefeitura de Palmas, o nível de tensão entre ele e a prefeita vai a um patamar em que todos os sinais vermelhos se acendem. Sobretudo quando o “cowboy” faz o anúncio e dispara uma saraivada de palavras duras contra a opositora da forma como fez ao CT: “Não podemos deixar essa senhora prefeita dormindo até tarde e deixando nossa bela Capital jogada às traças, sem segurança, saúde, no primeiro lugar em dengue, e muitos mais, preocupada tão somente com o cargo e outros interesses”.
[bs-quote quote=”Cinthia precisa encerrar o quanto antes esta crise ou chegará a 2020 sob total clima de incerteza. Ela tem o mandato nas mãos, mas não o partido, e sem partido não pode disputar a reeleição” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Como não estamos num filme de faroeste e, pelo avanço da civilização, as divergências não se resolvem mais num duelo na principal rua da cidade, Cinthia terá que decidir sobre seu futuro partidário, como, inclusive, o próprio secretário municipal de Governo e Relações Institucionais de Palmas, Carlos Braga, ressaltou na “Entrevista a Distância” de semana passada: “Ela tem que escolher o caminho partidário”, avisou.
A insegurança partidária da prefeita lembra daquela enfrentada pelo ex-governador Marcelo Miranda e pela senadora Kátia Abreu no MDB em 2014, quando enfrentavam o grupo do saudoso ex-deputado federal Júnior Coimbra. Com o força de Coimbra nos diretórios do interior, Marcelo e Kátia correram sério risco de não ter legenda para disputar as eleições daquele ano, o que só se revolveu após intervenção da executiva nacional no Estado.
Cinthia precisa encerrar o quanto antes esta crise ou chegará a 2020 sob total clima de incerteza. Ela tem o mandato nas mãos, mas não o partido, e sem partido não pode disputar a reeleição. Dessa forma, ou a prefeita consegue dominar a estrutura do PSDB ou terá que deixar a sigla para conseguir se candidatar. De forma crua: ou ela, ou Ataídes precisa deixar a sigla. Definitivamente, os dois não ficam nela por muito tempo mais, a não ser que um ceda para o outro, o que não se espera de dois cowboys em conflito.
Considerando que Cinthia precisa formar um grupo competitivo de candidatos a vereador em sua base e que em 2020 não haverá coligação partidária, achar uma saída para esta crise se torna ainda mais urgente.
Se a possível pré-candidatura de Ataídes é só uma forma atrapalhar o projeto da prefeita ou se realmente ele pretende levar essa história a sério, isso, para ela, tanto faz. A questão é que Cinthia deve considerar apenas o fato de que o ex-senador tem em suas mãos o poder de criar graves problemas para a sua reeleição.
Pagar para ver pode sair caro demais. Reforçando: não é só uma questão de a prefeita decidir em qual partido vai se filiar, mas de acomodação de todo o seu grupo, de ter condições de construir uma chapa de vereadores competitiva sob um novo cenário legal em que não haverá coligações proporcionais.
Assim, está mais do que certa a verdade do faroeste lembrada no início da reflexão: o PSDB ficou pequeno demais para esses dois cowboys.
CT, Palmas, 6 de maio de 2019.