A edição desta quarta-feira, 11, do Jornal do Tocantins traz um levantamento que sinaliza para o tamanho do problema que o presidente da Assembleia, Mauro Carlesse (PHS), e quem vencer a eleição suplementar herdarão. Um legado, diga-se, que Marcelo Miranda (MDB) recebeu de Sandoval Cardoso (SD), que recebeu de Siqueira Campos (DEM), que recebeu de Carlos Gaguim (MDB), que recebeu de Marcelo Miranda, mas nenhum ousou rasgar a própria carne para colocar o carro no eixo, com medidas nada menos do que draconianas.
Apenas no primeiro bimestre de 2018, mostra o JTo, o governo arrecadou R$ 1,248 bilhão e gastou R$ 1,393 bilhão, isto é, um déficit de R$ 145 milhões somente em janeiro e fevereiro. O interessante avaliar é como arrecadou e como gastou esses recursos.
[bs-quote quote=”Vai cair em promessas mirabolantes de candidatos quem quiser, contudo, não terá o mínimo direito de dizer depois que foi enganado” style=”default” align=”left” color=”#ffffff” author_name=”Cleber Toledo” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Vamos começar sobre como essa receita entrou no Tesouro estadual. Dos R$ 1,248 bilhão, R$ 701,3 milhões vieram da mesada mensal que a União repassa ao Estado. Ou seja, do que entrou no erário tocantinense, 56,2% veio de transferência do governo federal. Gravíssimo: sem a gestão do MDB, PT, PSDB ou qualquer outro “p”, o Tocantins não paga suas contas. É preciso investir com urgência na eficiência da arrecadação do Estado, que é péssima. Falta tecnologia, falta atenção aos postos de fiscalização, falta inteligência. De outro lado, sobra isenções a “amigos” da corte e é precária nossa política de atração de investimentos e de otimização das cadeias produtivas, e ainda deficitária a valorização, de fato, dos empreendedores locais.
Quando se olha para as despesas fica mais do que comprovado o quanto é absurda a tal PEC da elite dos servidores, que tenta elevar o subteto do funcionalismo até o salário dos desembargadores. Não há a mínima condição de o Estado contrair mais um centavo adicional de despesa de folha. Tem é que enxugá-la porque seu peso está ficando cada vez mais insuportável.
Veja: dos R$ 1,393 bilhão de despesas do primeiro bimestre, R$ 892 milhões foram com a folha dos servidores, isto é, 64,03% de tudo que o governo gastou. O custeio — para a máquina girar, como combustível, telefone, água, energia, entre outros — consumiu R$ 393,2 milhões (28,2%); para juros, encargos e amortização da dívida, o Estado canalizou R$ 67,73 milhões, ou 4,9%. Diante de tudo isso, sobraram para investimentos no cidadão míseros R$ 41,780 milhões, ou irrisórios 3%. Repetindo: 3% para investimentos!
Esta é uma parte pequena da realidade do Estado, a ponta do iceberg. Ainda sobre o funcionalismo, o governo está devendo Plansaúde, consignados e Igeprev, sem contar o passivo de R$ 500 milhões com data-bases e progressões não repassadas e o impagável retroativo de 25% concedido pela Justiça. Mais: fornecedores das mais diversas áreas estão na fila, numa conta de milhões e milhões de reais.
Por isso, a coluna tem afirmado desde o ano passado que vai cair em promessas mirabolantes de candidatos quem quiser, contudo, não terá o mínimo direito de dizer depois que foi enganado. Foi porque quis. Não existe milagre, e o candidato que deve merecer o respeito do cidadão não é aquele que prometer o céu, mas austeridade, seriedade e o compromisso de chamar os Poderes para uma DR, porque Assembleia, Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas, Defensoria e Ministério Público precisam dar sua contribuição nesta crise. Não podem continuar ignorá-la, vivendo como se estivessem no Reino da Dinamarca, como ocorre hoje.
Enquanto isso, o Tocantins continua em meio à briga de egos dos ministros das Supremas Cortes, que tiram e colocam governadores sem a mínima preocupação sobre o que isso representa para um Estado pobre como o nosso. São outros que vivem na mordomia, com quase 200 dias folgas no ano. Como se o mundo girasse em torno de suas filosofias e crises existenciais-intelectuais. Não pisam no chão que pisamos, não sofrem as agruras que sofremos. Na verdade, sequer sabem o que é isso, trancados em suas cortes de marfins, desfrutando de tudo quanto é mordomia às custas dos contribuintes, sem qualquer controle externo. Não é à toa que são considerados “deuses”. Afinal, para os padrões humanos, são.
Essa indefinição do Tocantins precisa acabar, e esses “deuses” deveriam se conectar com o mundo.
CT, Palmas, 11 de abril d 2018.
Confira a tabela com os principais resultados do primeiro bimestre: