A eleição suplementar termina no domingo, 24, o vencedor será diplomado no dia 9 de julho e, 11 dias depois, a partir de 20 de julho, as convenções para as disputas de 7 de outubro estarão liberadas. Ou seja, o Tocantins sairá de uma eleição e já começará outra. Nunca antes na história deste País, como diria nosso ilustre presidiário, deve ter sido visto um absurdo deste, de consequências terríveis para as contas públicas.
Como a coluna defendeu nessa terça-feira, 19, o mundo ideal era que um profundo ajuste do Estado começasse a partir de segunda-feira, 25, com extenso enxugamento da folha, revisão de todos os processos administrativos, cortes de alugueis absurdos marcados pelo compadrio. Enfim, que o Estado vivesse a dura realidade do pós-eleição, mas que começasse a voltar ao eixo.
[bs-quote quote=”A questão é que os candidatos prometem o que sua clientela pede. Se quer austeridade, vão prometê-la e até executá-la. Mas os clientes querem soluções mágicas para a crise, medidas que não exijam sacrifícios de ninguém” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Contudo, com mais um processo eleitoral à frente, tudo isso será adiado para depois de outubro, quando terminarem primeiro e segundo turnos (se houver). A cada mês que se atrasa do início destes ajustes, mais se aprofunda a crise do Estado. Assim, as expectativas para o final de ano do tocantinense não são, digamos, das mais alvissareiras.
Quem quer que vença no domingo será diplomado no dia 9 com os olhos fixos em outubro. Afinal, o alvo não é ficar até dezembro de 2018, mas sim até dezembro de 2022. E como atingir esse objetivo tomando medidas de austeridade agora?
Li dias desses uma frase do brilhante economista americano Thomas Sowell: “Quando as pessoas querem o impossível somente os mentirosos podem satisfazê-las”. Ou seja, na prática, o populismo que encanta no plano nacional, estadual e municipal, pelo simplismo com que interpreta a complexidade dos fatos e as facilidades que oferece aos apedeutas, é visto como fundamental para a manutenção do poder.
Por isso, qualquer medida de austeridade neste segundo período eleitoral que o Estado vai viver a partir de julho é inviável, e isso independente de quem vá vencer no domingo. É parte do instinto de sobrevivência do político brasileiro e próprio da nossa cultura política.
A questão é que os candidatos prometem o que sua clientela pede. Se quer austeridade, vão prometê-la e até executá-la. Mas os clientes querem soluções mágicas para a crise, medidas que não exijam sacrifícios de ninguém, mas com desenvolvimento, pleno emprego, atração de indústrias, pagamentos de diretos dos servidores na integralidade e atendimento de excelência na saúde e na segurança pública. Se é isso que querem, serão atendidos, com a produção de sensações de que isso possa estar ocorrendo, com o vai-e-vem de recursos de uma pasta para a outra e pendurando contas para pagar depois.
No entanto, como aquela família que viaja, torra o cartão de crédito e se dá com a realidade das dívidas quando chega em casa, assim será com o Estado após outubro. A dura verdade arrombará nossas portas, porque não pode ser adiada ad infinitum. Mais cedo do que esperamos teremos que fazer o acerto de contas, com os ônus sempre cabendo à sociedade, não à classe política. É a população que arca com os custos sociais de empresas sem receber, servidor sem salários e serviços públicos cada vez mais precarizados.
No entanto, é da nossa cultura fazer a escolha mais fácil, pegar o atalho. Se falta responsabilidade à classe política, não há consciência em expressiva parcela da sociedade. Assim, não dá para fazer esse encontro de contas e o elo mais frágil sempre é o que vai arrebentar.
Um dia aprenderemos, ainda que para isso tenhamos que estar no fundo do poço.
CT, Palmas, 20 de junho de 2018.