O senador eleito Eduardo Gomes (SD) está com a missão de costurar a primeira audiência da prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), com o governador reeleito Mauro Carlesse (PHS). O objetivo é conseguir fazer com que, enfim, a Capital consiga ter uma relação estável, madura e produtiva com o Palácio Araguaia, o que não foi possível pelo menos nos últimos 13 anos.
As razões para que essa relação nunca fosse estável por muito tempo são diversas. Sobretudo os distanciamentos políticos entre os dois chefes de Executivo, o temperamento deles e a crise do Estado. Lá atrás, quando do rompimento da finada União do Tocantins, o então prefeito Raul Filho buscou uma aproximação com o governador da época Marcelo Miranda. Era um período oportuno. O inquilino do Palácio Araguaia tinha deixado o siqueirismo para seguir carreira solo. Raul havia rompido anos antes com o líder utista. Assim, o caminho estava aberto para a aproximação dos dois.
[bs-quote quote=”Passadas as eleições de 2014, Marcelo Miranda volta ao governo, e o prefeito de Palmas, que o havia criticado duramente na campanha, diz publicamente que o emedebista era a partir dali também seu governador. Foi a relação mais tempestuosa de todas entre Paço e Palácio” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Porém, as eleições de 2006 os colocaram em estradas paralelas e não se encontraram. O Palácio ficou insatisfeito com a falta de apoio de Raul à reeleição de Marcelo. Depois das disputas, houve outro ensaio de aproximação, interrompido em 2008, quando o governador decidiu avalizar a candidatura da então deputada federal Nilmar Ruiz à Prefeitura de Palmas e não a reeleição do, na época, ainda petista.
Em 2013 chega ao Paço o midiático prefeito Carlos Amastha, quando o governador era Siqueira Campos. Dois temperamentos fortes e o percurso não poderia ser outro que não o da sinuosidade e dos obstáculos. Divergiram publicamente sobre vários temas, como transportes — Amastha queria o BRT e o governador o VLT —, Consórcio do Lago, entre outros, e ficava a impressão de que Siqueira não se esforçava para esconder uma certa antipatia pelo comandate-mor da Capital.
A relação se tornou amistosa no governo Sandoval Cardoso, cuja reeleição contava com o apoio de Amastha. Os dois estavam muito próximos. O prefeito ia ao Palácio, Sandoval retribuía com visitas ao Paço, e muitas obras foram lançadas em conjunto naquela época.
Passadas as eleições de 2014, Marcelo Miranda volta ao governo, e o prefeito de Palmas, que o havia criticado duramente na campanha, diz publicamente que o emedebista era a partir dali também seu governador.
Foi a relação mais tempestuosa de todas entre Paço e Palácio. Por seu temperamento, Amastha não pensava duas vezes para ir às redes sociais pinchar no governo Marcelo os piores adjetivos. Então, entrava a turma do deixa-disso e depois de meses de diplomacia conseguia reavivar a relação.
Contudo, com o Estado na sua mais profunda crise, era comum os atrasos de repasses para os municípios de verbas de tudo quanto é setor. Dias depois da conversa amistosa, Amastha já estava no Twitter atirando com sua metralhadora giratória contra o que chamava de “desgoverno Marcelo Miranda”. Assim, meses de relação se punha a perder.
O ápice dessa turbulência talvez tenha sido a fatídica visita do então ministro do Trabalho e da Previdência Social, Miguel Rossetto, em fevereiro de 2016, ainda no governo Dilma Rousseff (PT). O coitado ficou num fogo cruzado. Ele veio a Palmas para o Dia D contra a Zika. Buscado no aeroporto por Marcelo, quando o carro se aproximava do Espaço Cultural, local de lançamento da campanha, o constrangido ajudante-de-ordens de Amastha foi até o veículo avisar que o prefeito não queria a presença do governador no palanque.
Marcelo só pode subir após o ministro ameaçar ir embora se o governador fosse impedido de participar do evento. No palanque, mais saia justa. Amastha não queria que Marcelo discursasse, impasse resolvido novamente com a intervenção de Rossetto e de outra ministra de Dilma também presente, a senadora Kátia Abreu (Agricultura).
O motivo da intransigência do prefeito é que o governo do Estado não contribuiu financeiramente para a mobilização, que movimentou centenas de servidores naquele dia.
Como se vê a briga por palanque entre Amastha e Marcelo não começou em Sítio Novo, nessas eleições. Vem de longe.
Esta última história ilustra bem como se deu o clima entre Paço e Palácio até agora. Bem como a boa relação de Amastha com Sandoval também mostra como a afinidade das duas instâncias pode ser altamente positiva para a Capital.
Por isso, fica a torcida para que Cinthia e Carlesse possam pôr fim a essa relação tumultuada para o bem de toda a comunidade palmense.
CT, Palmas, 25 de outubro de 2018.