Como esperado, esta é a eleição mais competitiva da história do Tocantins. Nunca o Estado viu tantos candidatos fortes se confrontando num mesmo processo eleitoral. Como a coluna já afirmou, mesmo os “nanicos” são de fortíssima expressão, e podem surpreender. Outra diferença clara em relação às disputas anteriores é no que diz respeito ao poder de fogo do Palácio Araguaia.
Nas eleições de 2006, 2010 e 2014, o papel do Palácio foi fundamental na captação de prefeitos e líderes diversos para a campanha dos ex-governadores Marcelo Miranda (MDB), Carlos Gaguim (DEM) e Sandoval Cardoso (SD), respectivamente. Eles chegaram a noticiar que tinham por volta de 100 prefeitos apoiando suas reeleições. Claro que todo esse volume de líderes no palanque não é garantia de vitória. Outras variáveis pesam e ainda como essa base vai participar efetivamente do processo eleitoral. Marcelo venceu há 12 anos, mas Gaguim e Sandoval foram derrotados nos pleitos seguintes.
Assim, o que se discute aqui é a capacidade do Palácio Araguaia de atrair líderes para o palanque de seu inquilino. Nesta eleição, ainda que continue sendo um forte instrumento para este objetivo, não se mostra tão decisivo como no passado.
[bs-quote quote=”Com o histórico de vitórias certas da máquina pública até 2006, os líderes sempre apostaram no governo nas eleições seguintes. Com isso, perderam as duas disputas, de 2010 e 2014″ style=”default” align=”left” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
O governador interino e candidato Mauro Carlesse (PHS) está conseguindo puxar muitos prefeitos para o seu lado. O grupo dele ainda não divulgou o número fechado, mas importantes nomes, como foi o caso de Ronaldo Dimas (PR), de Araguaína, e tantos outros estão aderindo. No entanto, o candidato Vicentinho Alves (PR) também tem atraído uma grande quantidade de gestores. A coligação chega a falar em 90, mas os palacianos dizem que estão conseguindo recuperar vários deles para Carlesse.
Dessa forma, não dá para avalizar nenhum número, mas o fato é que as campanhas de Vicentinho e do governador interino conseguiram o apoio de dezenas de prefeitos. Os candidatos Carlos Amastha (PSB) — bem menos, pela radicalização do discurso anti-político tradicional — e Kátia Abreu (PDT) também possuem gestores com eles.
Algo totalmente atípico, porque nas últimas três eleições estaduais, os prefeitos, como foi dito, ficaram, em sua maioria mais do que absoluta, no palanque do governo, atraídos com recursos, asfalto, bloquetes e outros benefícios que despertam interesse dos líderes municipais em época de crise.
Por dois motivos básicos o poder de atração do Palácio Araguaia diminuiu: o alto nível de competitividade dos candidatos e o engessamento da máquina estadual.
No final de abril, uma decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins (TRE-TO) proibiu Carlesse de exonerar ou nomear servidores contratados ou comissionados até o final da eleição suplementar. Ou seja, cabos eleitorais, familiares e amigos de prefeitos não poderão ser empregados no volume que se viu em outros períodos.
O TRE-TO ainda impediu que o governador interino realize pagamentos considerados não prioritários e faça transferências voluntárias (não constitucionais) aos municípios no decorrer do período eleitoral. Ou seja, mais uma limitação aos atrativos do Palácio Araguaia para buscar apoio nos municípios.
De outro lado, temos quatro candidatos com grande estrutura, história e trabalho pelo Estado, além de três nomes sem o volume de recursos à altura dos demais concorrentes, mas que podem surpreender, diante de um eleitorado insatisfeito com a condução do Estado nos últimos anos. Isso leva total indecisão ao processo sucessório.
Com o histórico de vitórias certas da máquina pública até 2006, os líderes sempre apostaram no governo nas eleições seguintes. Com isso, perderam as duas disputas, de 2010 e 2014, como afirmamos acima. Agora, rescaldados, ninguém tem mais a garantia do passado de que o Palácio sairá vencedor. Isso dividiu os prefeitos.
Dessa forma, engessado juridicamente para fazer compromissos com os líderes e com uma concorrência fortíssima, o governo precisa, como os demais postulantes, apostar nas propostas e no discurso que elaborou de que a hora é da estabilidade para que o governo tampão possa entregar o Estado razoavelmente equilibrado no dia 1º de janeiro de 2019. Uma tese muito forte, diga-se.
É bom que se diga que um Palácio com menos força política do que no passado não diminui o peso do governador. Ao contrário, a caneta sempre fará a diferença, mas, num cenário menos favorável que nas últimas disputas estaduais, suas conquistas palacianas se tornam mais relevantes e menos questionáveis.
Se nada de anormal ocorrer nas próximas semanas, esta eleição seguirá muito nivelada até o dia 3 de junho, quando qualquer resultado é possível.
CT, Palmas, 9 de maio de 2018.
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