Na passagem por Gurupi semana passada, o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB) fez como sempre suas declarações megalomaníacas: se disse dono de “um grande capital político” e se definiu, por consequência, como “uma grande força de oposição no Estado”. É uma espécie de realidade paralela. A verdade é que o ex-prefeito vive seu momento de maior baixa aceitação desde que surgiu meteoricamente na política estadual em 2012.
[bs-quote quote=”Na visita a Gurupi, semana passada, Amastha disse ter discutido os projetos para 2022, aventando, nas entrelinhas, uma possibilidade de disputar o governo do Tocantins novamente. São muitas as variáveis que influenciarão para sabermos se realmente será competitivo daqui a quatro anos” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Disputou duas eleições em 2018, não conseguiu sequer ir para o segundo turno em nenhuma delas; seus pupilos — Adir Gentil e Tiago Andrino — fracassaram retumbantemente na tentativa de chegar à Câmara dos Deputados. O primeiro desistiu no meio do caminho e o segundo fez uma votação 40% menor do que a da primeira tentativa em 2014. O PSB, partido que preside, foi quase dizimado sob sua gestão: ao comando do prefeito de Gurupi, Laurez Moreira, a sigla saiu de 4 prefeituras em 2008 para 16 em 2012. Com Amastha, esse número caiu para 9 em 2016, e foi zerado em 2017 e 2018.
Sem habilidade para fazer política regional, o atual presidente viu sete prefeitos de uma só vez, inclusive Laurez, migrarem para o PSDB. Depois perdeu Padre Gleibson, de Dianópolis, e o PSB ficou sem a prefeitura de seu próprio comandante, já que, com a renúncia de Amastha, Palmas passou a ser liderada pela tucana Cinthia Ribeiro.
Esses números negativos geraram uma grande insatisfação entre os históricos do partido, que querem Amastha fora do comando, uma novela que deverá ter novos e imperdíveis capítulos nos próximos meses.
Na visita a Gurupi, semana passada, Amastha disse ter discutido os projetos para 2022, aventando, nas entrelinhas, uma possibilidade de disputar o governo do Tocantins novamente. São muitas as variáveis que influenciarão para sabermos se realmente será competitivo daqui a quatro anos. Mas hoje não está mais nas mãos de um enfraquecido Amastha. Depende muito mais de seus adversários.
Uma reconquista de espaço do ex-prefeito na política regional está condicionada, primeiro, ao desempenho do governo Mauro Carlesse (PHS). Como adversário direto no ano passado, é natural que Amastha fature se a gestão estadual naufragar. No entanto, é muito cedo para esta avaliação. O Palácio Araguaia impôs um forte, e necessário, ajuste no Estado, que gera muitos desgastes iniciais. No entanto, se Carlesse, a médio prazo, conseguir levantar a máquina e colocá-la para funcionar adequadamente, ganha popularidade e joga Amastha num ostracismo maior do que o que enfrenta atualmente.
Hoje os pré-candidatos mais fortalecidos para 2022 são os dois novos senadores, que não têm nada a perder, já que lá estarão no meio do mandato. Eduardo Gomes (MDB) e Irajá Abreu (PSD) possuem todas as condições para construir candidaturas competitivas ao Palácio Araguaia. No entanto, existem variáveis inimagináveis nesse trajeto tortuoso dos próximos quatro anos que podem confirmar ou sepultar esses nomes.
Amastha está certo num ponto. Ainda que sem a força que tinha até o final de 2017 — depois disso entrou numa rota de “autodesgaste”, que o tornou o maior fracasso eleitoral de 2018 —, o ex-prefeito é hoje o mais evidente nome da oposição ao governo Mauro Carlesse. Não pela força que diz ter, mas pela rejeição que enfrenta nos demais grupos.
De outro lado, Carlesse conseguiu concentrar em seu entorno o apoio das principais forças que não tinha ao seu lado até as eleições. Além de já contar com o siqueirismo em sua base e dos desgarrados da velha UT e do marcelismo, tem também Eduardo Gomes e conseguiu agregar os senadores Kátia Abreu (PDT) e Irajá.
Outra força está afastada dos ringues políticos, o ex-senador Vicentinho Alves (PR). Da mesma forma o ex-governador Marcelo Miranda (MDB), abatido pela cassação e pelos problemas judiciais que enfrenta. Assim, só sobra Amastha para fazer oposição.
E é importante que o faça. Governo não pode ficar sem opositor, a democracia empobrece sem aqueles que apontam o dedo para as feridas.
Sem esse norte, o governante se sente muito senhor de si e faz mais bobagens do que normalmente se vê. Por isso, a oposição é fundamental. Ainda que seja de alguém que vive numa realidade paralela.
CT, Palmas, 11 de março de 2019.