Adoro o período do carnaval. Não pelos mesmos motivos dos foliões. Muito pelo contrário. É o momento em que me refugio em meus livros, antes caminhava bastante, este ano — muito feliz por isso — correrei nos finais de tarde, e faço minhas reflexões. São quatro dias de paz.
[bs-quote quote=”Não cabe ao Poder Público ditar o que cada cidadão deve ou não fazer, a não ser onde o totalitarismo prevaleça. Na democracia, o Estado não tem o direito de intervir com essa truculência na vida das pessoas” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
No entanto, cada um tem direito de curtir a Festa de Momo como melhor preferir. Afinal, nada melhor do que o livre-arbítrio, garantido por Deus, e a democracia, uma belíssima construção política da humanidade.
Assim, não pode ser ignorado o movimento #LiberaoAoVarar que os foliões de Palmas estão fazendo no Twitter para que a prefeitura libere o bloco de rua “Ao Varar da Meia Noite”, garantindo o fechamento de vias públicas, como alternativa para os palmenses que não curtem o Capital da Fé.
Num Estado laico, não é admissível que o Poder Público direcione todos os recursos destinados a uma festa dessa natureza para atender apenas o segmento religioso. Mas, se o faz, então que permita que os próprios cidadãos possam criar alternativas às suas expensas.
O ideal mesmo era que todo o carnaval —religioso ou não — fosse bancado pela iniciativa privada e não pelo Poder Público, que tem outras prioridades, como saúde e educação. Já que essa não é a realidade, uma vez que culturalmente há a pressão popular sobre os gestores para esse financiamento do erário, e já que a prefeitura fez opção por apenas um modelo de festa, deixando de fora grande significativa parcela da população que não quer um carnaval espiritualizado; o mínimo que o município deve fazer é garantir que os cidadãos possam criar alternativa para aproveitar os quatro dias da melhor maneira que desejar.
Se a justificativa for os riscos de violência, em função da bebedeira que esse tipo de festa ocasiona, o município não pode invadir essa seara, que é parte do livre-arbítrio e do direito de ir e vir de cada cidadão. Maior de idade e vacinado, cada um tem que fazer suas escolhas e ser responsável pelas consequências.
Não cabe ao Poder Público ditar o que cada cidadão deve ou não fazer, a não ser onde o totalitarismo prevaleça. Na democracia, o Estado não tem o direito de intervir com essa truculência na vida das pessoas, e é contra esse tipo de interferência que liberais, como este colunista, mais se levantam.
Por isso, a Prefeitura de Palmas não deve se comportar como um Poder subordinado aos ditames da Igreja, no estilo medieval. Se os religiosos veem como errado, como “pecado”, então, deve ser sumariamente proibido pelo Estado. É uma postura retrógrada, que nos faz regressar aos piores momentos da humanidade, e não coaduna em nenhum milímetro com o Estado Democrático de Direito.
Assim, engrosso o coro da marchinha, prefeita Cinthia Ribeiro, #LiberaoAoVarar!
CT, Palmas, 26 de fevereiro de 2019.