Há coisa de dez dias houve um excelente debate na Globo News com três cientistas políticos. Uma das constatações de pesquisas que realizam em suas instituições e que foi levada a público é que o candidato que parte para o denuncismo cria uma imagem de antipatia. No Tocantins, historicamente, está comprovado que a campanha denuncista não garante vitória a ninguém, muito pelo contrário. Mas as candidaturas no Estado insistem no erro.
Em 2005 e 2006, não foram poucas as denúncias contra o então governador Marcelo Mirada (MDB), que tinha acabado de deixar o siqueirismo. Apesar disso, Marcelo venceu o mito Siqueira Campos (DEM).
Em 2008, Raul Filho (PSD) enfrentou até denúncias publicadas em matérias de jornais de circulação nacional. Mas, ainda assim, derrotou fácil Marcelo Lelis (PV) e Nilmar Ruiz (Rede).
[bs-quote quote=”Na cabeça do eleitor médio, todo político é ladrão. Assim, moralidade não é critério para decisão de voto. Se está em dúvida, vou elucidá-la agora: um presidário lidera a corrida presidencial. Precisa de mais prova do que isso?” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Em 2010, foi montado um verdadeiro circo em torno de denúncias contra o governador tampão da época Carlos Gaguim (DEM), todas arquivadas uns dois anos depois pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Sempre digo que Siqueira Campos não ganhou aquela eleição, mas foi Gaguim que perdeu para erros básicos que cometera sobretudo na reta final. Foi derrotado por míseros 7 mil votos pelo líder utista.
Em 2014, foi pego um avião com mais de R$ 500 mil atribuídos ao candidato Marcelo Miranda e ainda teve até vídeo do irmão dele pagando a conta de hotel do sujeito preso na operação da Polícia Civil. Não adiantou. Marcelo foi eleito para seu terceiro mandato porque diziam que aquilo tudo era montado pelo siqueirismo, que apoiava na época o candidato Sandoval Cardoso (SD). Este episódio, inclusive, foi o que levou à cassação do ex-governador em março deste ano pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Tudo isso fora os casos nacionais. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reeleito em meio ao mensalão em 2006 e Dilma reeleita sob clima de Petrolão, com a revista Veja na semana das eleições estampando a foto dos dois líderes petistas e dizendo que eles sabiam de tudo. Dilma, num arroubo de dignidade, chegou a acusar a revista de irresponsabilidade, avisou que iria processá-la e até hoje Veja aguarda a ação.
As campanhas que partem para o denuncismo, na verdade, expõem a fragilidade do próprio candidato que defendem. Soa como um grito em praça pública de que está atrás na disputa, não tem outra receita e precisa virar o jogo de um jeito ou de outro. Só enganam a si mesmo. Todo mundo está vendo o sujeito correr pelas ruas com as nádegas de fora e as mãos na cabeça, em total desespero, e apenas ele não sabe que está pelado com tudo à mostra.
Ainda temos o fato de o Brasil, para a nossa infelicidade, ser um país de cultura macunaímica, de frouxidão moral. Critica a corrupção, mas pára o carro no acostamento para pegar uma TV de 46 polegadas de um caminhão que se acidentou, numa cena horripilante em que o cadáver do motorista repousa na boleia mergulhado em sangue. Esse é um dos motivos de denúncias de corrupção não chocar.
Também existe o fato, derivado desse primeiro, de que, na cabeça do eleitor médio, todo político é ladrão. Assim, moralidade não é critério para decisão de voto. Se o leitor está em dúvida, vou elucidá-la agora: um presidário lidera a corrida presidencial. Precisa de mais prova do que isso?
Por fim, denúncias de corrupção foram tão banalizadas, que não são mais algo inusitado, mas integra o dia-a-dia do cidadão, trazidas a cada edição de telejornal, sucedendo-se bloco a após bloco desses programas televisivos. Isso ajuda a cristalizar cada vez mais a ideia de que “político é tudo ladrão”, portanto, moralidade não deve decidir o voto.
Dessa forma, o denuncismo, no caso do segundo turno da eleição suplementar do Tocantins, vai conseguir, no máximo, elevar o índice já estratosférico de abstenção, branco e nulo.
O que as campanhas deveriam fazer é definir o candidato-conceito da população e mostrar que o nome que defendem se enquadra nele. Verificar as fragilidades do adversário e sobrelevá-las em peças inteligentes e criativas. Para isso, a pesquisa qualitativa é imprescindível.
Agora, se já fez a “quali” e confirmou que vai perder mesmo, aí não tem jeito, pode até partir para o desespero, contudo, com o resultado previamente conhecido e impossível de ser alterado. Mas, cuidado: o denuncismo pode é dar efeito contrário e a derrota se tornar ainda mais humilhante.
CT, Palmas, 11 de junho de 2018.