É gigantesca a responsabilidade que pesa sobre o presidente da Assembleia e já quase governador interino novamente, Mauro Carlesse (PHS). As implicações da incumbência são de ordem política e pessoal porque exigirá dele uma escolha sem volta. Ao assumir o comando do Palácio Araguaia nesta quinta-feira, 19, Carlesse perde a condição de disputar em outubro outro cargo que não seja de governador, ganha ou não a eleição suplementar de 3 de junho.
Exigência constitucional dos seis meses de desincompatibilização. Foi justamente este obstáculo jurídico que fez com que os presidentes do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criassem no último final de semana uma agenda no exterior e passassem a Presidência da República à chefe maior do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, porque Michel Temer viajaria para a 8ª Cúpula das Américas. Primeiros na linha sucessória, se assumissem, Eunício e Maia estariam inelegíveis este ano.
Assim, existe para Carlesse este primeiro sacrifício pessoal, ainda que já fosse seu projeto disputar o Palácio Araguaia. Mas se cogitava também as possibilidades de deputado federal e senador. Ao assumir o Palácio Araguaia não poderá mais pensar nesses cargos.
[bs-quote quote=”As disputas precisam ocorrer, mas os postulantes devem ter a nobreza e o elevado espírito público para entender que o denuncismo oportunista e provocar mais caos para dele se aproveitar apenas servirão para aumentar os sofrimentos do povo tocantinense” style=”default” align=”left” color=”#ffffff” author_name=”Cleber Toledo” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Um risco ainda maior diante do fato de que vai herdar um governo em situação de dificuldades extremas, com todo o quadro que a coluna tem desenhado aqui nos últimos anos. Um desafio monumental em exíguo espaço de tempo até a eleição suplementar, que torna maior a probabilidade de Carlesse não ter condições de mostrar a que veio e ser derrotado no pleito para o mandato tampão. Sobretudo pelo fato de ser um nome novo na política estadual e que terá adversários que militam há muito mais tempo na vida pública e há anos articulam suas candidaturas ao governo. Não será tarefa fácil.
Na parte que cabe aos interesses de Estado, a preocupação é de que neste momento, de ânsia pelo poder, adversários queiram colocar o governador interino na mira de seus AR-15 e mísseis Tomahawks, jogando ainda mais instabilidade sobre a já frágil situação política, jurídica e econômica do Tocantins.
Claro que todos os segmentos devem estar atentos a possíveis abusos, ninguém pode baixar a guarda neste campo, nem imprensa, nem políticos, nem órgãos de controle. Agora, que candidatos se aproveitem da hipersensibilidade do momento para, como abutres, querer se fartar eleitoralmente da crise é outra história, e inadmissível.
Como nessa corrida sucessória há políticos com longo histórico de uso eleitoral das tragédias do Estado para faturar pessoalmente, a preocupação faz sentido. As disputas precisam ocorrer, mas os postulantes devem ter a nobreza e o elevado espírito público para entender que o denuncismo oportunista e provocar mais caos para dele se aproveitar apenas servirão para aumentar os sofrimentos do povo tocantinense.
Deve-se buscar a vitória pelas propostas e, sobretudo, como a coluna afirmou nessa quarta-feira, 18, pela capacidade de guiar o povo em meio à escuridão que atravessamos. É obvio que a nobreza dessas metas são muito elevadas para ser entendida por alguns. Mas a própria população tem que estar atenta para não ser ludibriada por falsos messias, que gostam de disseminar ódio e medo para deles colher frutos. “Santos de ficha corrida”, arvoram-se cinicamente os puritanos, mesmo respondendo por histórias obscuras junto às polícias, e sobre eles pesam as mesmas denúncias que gostam de apontar em terceiros.
Assim, reforçando, é necessário que estejamos atentos às práticas do novo governo, mas com a clara percepção de que ele merece todo o apoio popular para que tenha a tranquilidade de dar efetivamente contribuição a essa delicada e arriscada passagem que precisamos fazer.
Não se trata aqui de apoio eleitoral, o que é outra história, mas de crédito político-administrativo. O voto virá da capacidade da gestão interina de responder ao terrível momento que o Tocantins vive. No entanto, essa é uma discussão menor, afinal, todos devemos ter em mente que, em primeiro lugar, há um Estado a ser salvo.
O resto é detalhe.
CT, Palmas, 19 de abril de 2018.