No magnífico Sapiens — uma breve história da humanidade, o professor Yuval Noah Harari conta que, entre os chimpanzés, quando dois machos disputam a posição de alfa, fazem grandes coalizões de apoiadores, cujos laços se baseiam em contato íntimo diário, como abraçar, beijar, alisar e, imagine, fazer favores mútuos. O professor Harari então compara: “Assim como os políticos humanos em campanha eleitoral saem distribuindo apertos de mão e beijando bebês, também os aspirantes à posição superior em um grupo de chimpanzés passam muito tempo abraçando, dando tapinhas nas costas e beijando filhotes”.
Ou seja, até nossos primos chimpanzés descem do salto alto quando estão em campanha eleitoral. Uma lição que líderes de várias regiões do Estado garantem que os carlessistas estão precisando tomar da zoologia. Com pesquisas diversas mostrando uma larga vantagem para o governador Mauro Carlesse (PHS), a reclamação é geral de que o clima de “já ganhou”, o irmão siamês do “já perdeu”, tomou conta da campanha palaciana.
[bs-quote quote=”De toda forma, sempre é bom lembrar que a história mostra que o “já ganhou” é o maior adversário de um candidato líder de corridas eleitorais” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Enquanto os carlessistas são acusados de já estar estourando a champanhe da vitória, o candidato a vice-governador Oswaldo Stival Júnior, da coligação de Carlos Amastha (PSB), com as sandálias da humildade devidamente calçadas, percorre Gurupi de casa em casa, como se disputasse vaga de vereador. Respeitado na cidade e ao lado do fiel escudeiro e figura queridíssima da comunidade gurupiense, seu vice-presidente na Cooperfrigu, Aelton Camargo de Oliveira, Stival estaria fazendo um grande estrago na base eleitoral palaciana no município onde o governador fechou o segundo turno da eleição suplementar com nada menos do que 92,4% dos votos válidos.
Contudo, parece que a folga do resultado contaminou a campanha de reeleição, segundo líderes do próprio grupo, e os governistas passaram a dormir em berço esplêndido.
Claro, tudo devidamente negado pelos principais porta-vozes, que asseguram que não há salto alto e que em nenhum momento o clima de “já ganhou” se instalou sobre a equipe. Diante dos comentários de que haveria repasses atrasados com candidatos a estadual, eles garantiram que os compromissos estão 100% em dia e que, mesmo após três turnos de eleição, não há qualquer débito com fornecedores.
Para os governistas, o que existe são “notícias sem fundamento que os adversários plantam na mídia” e “pesquisas compradas” para tentar falsear o verdadeiro clima eleitoral, mas que, defendem os palacianos, são ações “já bem conhecidas pelo eleitor” e, por isso, “essas fake news não prosperam”.
De toda forma, sempre é bom lembrar que a história mostra que o “já ganhou” é o maior adversário de um candidato líder de corridas eleitorais. O caso clássico do Brasil é o de Fernando Henrique Cardoso sentando-se na cadeira de prefeito de São Paulo, nas eleições de 1985. Acabou sendo derrotado pelo ex-presidente Jânio Quadros, que, na posse, ainda usou de sua conhecida ironia: “Gostaria que os senhores testemunhassem que estou desinfetando esta poltrona porque nádegas indevidas a usaram”, declarou Jânio para todos os presentes à solenidade, conforme arquivo de O Globo. “Porque o senhor Henrique Cardoso nunca teria o direito de sentar-se cá e o fez, de forma abusiva. Por isso, desinfeto.”
Na poltrona de governador Carlesse já está sentado, não há como impedi-lo, agora, nas ruas, sua campanha não pode cometer o erro de julgar que ele é o dono, quando, na verdade, o uso é temporário e pode ser retirado de lá, caso vacile.
Por isso, a lição dos chimpanzés, trazida pelo professor Harari, no esplêndido Sapiens, é tão importante. Até nossos primos distantes sabem que, para vencer uma eleição, é preciso muita humildade.
CT, Palmas, 20 de setembro de 2018.