Tenho o maior respeito pelo procurador regional eleitoral, Álvaro Manzano. É uma das personalidades que mais têm contribuído para o Tocantins. Contudo, essa representação dele ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-TO), pela cassação do governador Mauro Carlesse (PHS) e seu vice Wanderlei Barbosa (PHS) e por novas eleições, não tem o menor cabimento e, se considerada procedente, fará com que governar se torne uma atividade de alto risco para o gestor neste Estado.
Como sempre tenho pontuado, cassação de governador é um trauma absurdo. Tivemos duas terríveis experiências e a pior delas no ano passado, quando fomos obrigados a passar por duas eleições que engessaram o Estado. Inclusive do ponto de vista da administração, porque, pela legislação eleitoral e por decisões do TRE, o governo ficou impedido de contratar e exonerar.
[bs-quote quote=”Mais uma vez, com todo o respeito ao procurador regional eleitoral, a impressão que fica é de um inconformismo pelo fato de a primeira ação contra Carlesse e Wanderlei ter sido frustrada” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Assim, a sociedade cobrava do governador Mauro Carlesse esse enxugamento que foi feito no dia 1º. Como a coluna afirmou nessa segunda-feira, 7, houve excesso no caso da saúde, contudo, esse ajuste é mais do que bem-vindo, é fundamental para o Estado voltar a respirar para apenas sobreviver e, com esse pouco oxigênio, tentar reencontrar o caminho do desenvolvimento.
Os 15,7 mil contratos temporários extintos no dia 1º foram, em sua maioria, herdados pelo governo Carlesse. Só para refrescar a memória: o governo Marcelo Miranda (MDB) assumiu com o Estado comprometendo 50,9% da Receita Corrente Líquida com folha de pagamento e deixou o governo no primeiro quadrimestre de 2018 com este índice em estratosféricos 58,22%. A atual gestão, apesar das restrições eleitorais, conseguiu reduzir esse comprometimento para 55,34%.
No dia 28 de abril, a desembargadora Ângela Prudente, do TRE-TO, proibiu o governador de exonerar ou nomear servidores contratados ou comissionados até o final da eleição suplementar. Terminada a suplementar começou a eleição ordinária, com novo período de restrições.
Assim, pelo menos a maioria desses contratos extintos no dia 1º vem da gestão Marcelo Miranda.
Além disso, o ato do governador atendeu o clamor da sociedade que não suporta mais pagar pesados impostos para serem canalizados quase que exclusivamente para salários. Vejam só isso: 71,4% de tudo que o tocantinense paga de impostos vai para folha e, se nada fosse feito, em 2022 chegaríamos a 82,2%. Isso é certo? O que sobra para investimentos e melhorias de serviços à população, quando se tira o custeio? Quase nada.
Após as eleições participei de eventos da indústria e do comércio, e, em todos eles, o pedido dos empresários era para que Carlesse fizesse esse ajuste do Estado. “Três décadas depois da criação do nosso Estado, o Tocantins continua refém do fisiologismo político que alimenta uma máquina pública inchada porque continua responsável por quase metade dos empregos formais, uma tecla em que nós da Fieto batemos insistentemente”, afirmou o presidente Federação das Indústrias do Estado (Fieto), Roberto Pires, no 4° Encontro Estadual da Indústria, no dia 22 de novembro.
Mais uma vez, com todo o respeito ao procurador regional eleitoral, a impressão que fica é de um inconformismo pelo fato de a primeira ação contra Carlesse e Wanderlei ter sido frustrada.
Os dois mereceriam ser cassados se não cumprissem o compromisso de enxugar o Estado, ou se recuarem e voltarem a contratar. Como a coluna afirmou nessa segunda, isso seria uma imperdoável traição deles à sociedade tocantinense.
Agora, um processo de cassação porque cumpriram esse compromisso e pela inconformidade pela frustração da primeira ação, é não considerar os traumas terríveis que o Estado viveu no ano passado e em outros momentos nos últimos dez anos. O Tocantins precisa estar acima disso.
CT, Palmas, 8 de janeiro de 2019.