Diante da crise de liderança que o Tocantins e o País atravessam, tornou lugar comum candidato se autoproclamar como a representação personificada da mudança. O discurso já é visto nesta eleição suplementar e será rotineiro nas disputas de outubro, tanto no Estado como na corrida presidencial. Mas o que é mesmo essa mudança?
O povo brasileiro, bem como também o tocantinense, está envergonhado de ver seus principais líderes serem conduzidos pela Polícia Federal, suspeitos de desvios de milhões e milhões de reais, enquanto recém-nascidos morrem porque não há recursos para pagar cirurgias — cena que o Tocantins assistiu este ano por quatro vezes —, pacientes de câncer definham rapidamente porque a rede pública não lhes garante o remédio fundamental para a sobrevida; outros são abatidos por estradas esburacadas porque as empreiteiras trabalham com material de menos qualidade para dividir dinheiro do custo com políticos; entre tantas mazelas que revelam um país em que seus dirigentes só se preocupam em conquistar o poder para dele se servirem.
[bs-quote quote=”O desafio do eleitor é encontrar um perfil que agregue as duas virtudes: um bom gestor de caráter inquestionável. A missão dos candidatos é provar ao cidadão que preenchem esses dois requisitos” style=”default” align=”left” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Diante desse quadro de deterioração da vida pública, o Brasil e o Tocantins buscam líderes que reconquistem a confiança do povo na figura da autoridade. Homens e mulheres que estejam acima de toda a essa promiscuidade que estampa diariamente o noticiário nacional, mas que também tenham capacidade de gestão, isto é, de dar eficiência à máquina pública e colocá-la a serviço do cidadão e não de interesses escusos.
Isso significa que mudança de comportamento moral é uma coisa e capacidade de gestão é outra. Um político pode ser um bom gestor, mas estar envolvido em corrupção e com “cabritos” diversos para responder junto à Polícia Federal, ao Ministério Público e à Justiça. Outro pode ter um caráter excepcional, sem, contudo, qualquer vocação para administrar.
Dessa forma, o desafio do eleitor é encontrar um perfil que agregue as duas virtudes: um bom gestor de caráter inquestionável. A missão dos candidatos é provar ao cidadão que preenchem esses dois requisitos.
É muito fácil o discurso da mudança, de que representa o novo. Até porque a tendência dos candidatos malandros é usar a experiência profissional ou na vida pública para dizer que uma coisa é igual à outra. Ou seja, “sou um bom gestor, logo, tenho caráter”. Um embuste. É uma espécie de mágico: mostra os efeitos e esconde a esperteza, e, assim, o espectador aplaude mesmo sendo enganado.
Esse debate é muito importante, porque vivemos um momento decisivo para a nossa história. Assim, realmente precisamos de mudança, mas de atitude e não de discurso.
O Tocantins já passou por todas as experiências trágicas no campo da gestão pública. Agora nos resta apenas uma bala na agulha: se errarmos o tiro, cairemos num abismo.
Não se engane: ainda não chegamos ao fundo do poço. Só estamos a caminho.
CT, Palmas, 10 de maio de 2018.