Os números das dívidas do Estado divulgadas nessa segunda-feira, 7, pelo governo interino não são surpresa, mas, ainda assim, assustadores. A conta pendurada de R$ 1,376 bilhão com fornecedores, prestadores de serviços, consignados, duodécimos, Instituto de Gestão Previdenciária (Igeprev) é prova cabal de que nos últimos anos — muito além do último governo — o Tocantins renunciou ao dever de fazer gestão pública.
É um tema que se torna repetitivo, é verdade. Contudo, quando se vê uma campanha eleitoral que vai se tornando cada vez mais um Fla-Flu e em que as promessas mirabolantes de transformar o Tocantins numa Suíça ganham terreno, quem tem o mínimo de bom senso fica ainda mais preocupado.
[bs-quote quote=”Com todo respeito aos candidatos desta eleição suplementar, mas ainda não vejo um debate maduro e franco sobre as condições e necessidades do Estado. A ficção, a lorota, o messianismo ainda tomam conta dos discursos, amplamente aclamados por uma plateia de apedeutas, extasiados com o clima de Fla-Flu que impera” style=”default” align=”left” author_name=”Cleber Toledo” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Vejam só: de consignados para os bancos são R$ 182.945.947,01, com o Plano de Saúde dos Servidores Públicos do Estado (Plansaúde), mais R$ 161.737.269,46. Duodécimo para os Poderes (repasse obrigatório sobre o que é orçado, não arrecadado, um total absurdo), R$ 136 milhões; na saúde, R$ 138.691.858,90; na Agência Tocantinense de Saneamento (ATS), quase R$ 60 milhões para empresas prestadoras de serviços, inclusive com caminhões pipas, que estão protestando legitimamente em frente à AL. Com o Igeprev, (pasmem!) 351.786.355,25. Além, claro, dos fornecedores e prestadores de serviços internos e externos em geral, mais R$ 344.850.827,99.
Aí não estão incluídos os direitos do funcionalismo: data-bases atrasadas e a vencer neste mês, retroativos de 25% e, para acabar, vem agora a história da URV, que, só para 1,3 mil militares, gera um abacaxi de R$ 200 milhões para o Estado descascar.
Assim, quando se vê candidatos prometendo o céu dá até desespero. Faz quase dois anos que a coluna tem tratado aqui da situação periclitante das contas públicas do Tocantins, e defendendo um profundo enxugamento. Falamos com as paredes. Ainda há segmentos que acreditam piamente que o erário é um saco sem fundo que possui uma maquininha que cospe dinheiro.
Gosto de repetir as profundas verdades desta mulher que admiro enormemente, a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. Confiram e reflitam sobre cada frase deste trecho do discurso dela: “Não nos esqueçamos nunca desta verdade fundamental: o Estado não tem outra fonte de recursos além do dinheiro que as pessoas ganham por si próprias. Se o Estado deseja gastar mais ele só pode fazê-lo tomando emprestado sua poupança ou cobrando mais tributos. E não adianta pensar que alguém irá pagar. Esse ‘alguém’ é você. Não existe essa coisa de dinheiro público. Existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos”.
Esse discurso antológico deveria ser emoldurado e pendurado sobre a mesa de jantar de cada família e uma lei deveria obrigar nossos gestores a decorá-lo e recitá-lo três vezes ao dia, ao levantarem, antes de almoçarem e ao se recolherem à noite.
Ironia à parte, essas palavras refletem profundamente o que nós, brasileiros, culturalmente, fomos ensinados a não imaginar: 1) que o dinheiro do governo não é “público”, mas nosso, obtido via impostos; e 2) que, por isso mesmo, tem um limite.
Com todo respeito aos candidatos desta eleição suplementar, mas ainda não vejo um debate maduro e franco sobre as condições e necessidades do Estado. A ficção, a lorota, o messianismo ainda tomam conta dos discursos, amplamente aclamados por uma plateia de apedeutas, extasiados com o clima de Fla-Flu que impera. O poder pelo poder é o único alvo.
Meu coração neste momento está num freezer. Penso com a cabeça mais do que nunca, e sempre avisei aqui que meu candidato é o que prometer o inferno e não o céu.
Depois vem a decepção e vai aquela cabroeira de carpideiras nas redes sociais reclamarem da vida e acusarem que foram ludibriadas. Por que quiseram sê-lo.
Esta é quarta eleição de governador que cubro no Tocantins, além de outras no interior de São Paulo e do Paraná. Em todas elas, sem exceção, o roteiro se repetiu: brigas estúpidas por vulgares “salvadores da pátria”, decepção e reclamação.
É hora de maturidade por parte dos líderes e dos cidadãos. E não vejo isso nem de uma parte, nem de outra.
Que Deus tenha misericórdia de nós.
Amém!
CT, Palmas, 8 de maio de 2018.
Assista este discurso de primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, fundamental para os nossos dias: