Estava certo o candidato derrotado Carlos Amastha (PSB) quando afirmou que a “velha política” ainda comanda o Estado. O reconhecimento da força dos grupos tradicionais faz ainda mais sentido quando se separa os votos do primeiro turno da eleição suplementar entre a “velha” e a “nova política”.
Com a “velha política” entendida como os meios tradicionais de captação de votos, via o forte apoio de líderes históricos nos municípios, a coluna agrupou desse lado os candidatos Mauro Carlesse (PHS), Vicentinho Alves (PR) e Kátia Abreu (PDT). Juntos eles ficaram com 68,2% dos votos válidos, um total de 392.066 eleitores.
Como “nova política”, por sua vez, se entende aqui aqueles que não usaram do método tradicional do apoio maciço de líderes locais para conquista do voto. A campanha foi executada mais na base do voluntariado, de pessoas que defendiam que é preciso romper o comando histórico de grupos oligárquicos no Estado. Assim, estão agrupados nessa ala os candidatos que representaram essa bandeira: Carlos Amastha (PSB), Márlon Reis (Rede) e Marcos Souza (PRTB). Mário Lúcio Avelar (Psol) entra nesse segmento, mas seus votos seguem dependendo de decisão judicial, por isso, não foram computados. A “nova política” abocanhou 31,8% dos votos válidos, ou 182.849 eleitores.
[bs-quote quote=”A análise do desempenho de velha política e nova política aponta também para a difícil tarefa de outubro desses grupos alternativos. Mesmo a união deles pode não ser o suficiente para uma mudança radical do eleitorado” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Sobre o total de votantes do Tocantins — 1.018.329 —, o desempenho da “velha política” no domingo, 3, representou 38,5% e o da “nova política”, 18%. Lembrando que 43,5% foram de abstenções, brancos e nulos.
Por região, a política tradicional do Estado venceu em todas. O resultado mais equilibrado foi registrado na microrregião de Palmas, onde a “velha política” saiu vencedora com 28,8% do total de eleitores e a “nova”, com 27,4%, puxada pela expressiva votação de Amastha e Márlon na Capital.
Nas demais regiões, o resultado foi amplamente favorável à política tradicional, sobretudo no Jalapão, onde a “velha política” conquistou 50,3% do total de votos contra 11,24% para os “novos”, e no Bico do Papagaio, 53,1% contra 12,1%.
Em seguida veio o sudeste (44,1% contra 10,3%, pior resultado proporcional da “nova política”), sul (42,2% contra 14,8%) e Miracema (40% contra 12,03%). No Rio Formoso, região de Paraíso, a diferença foi um pouco menor, 33,9% contra 15,23%). Da mesma forma na microrregião de Araguaína, 34,92% contra 21,2%.
Neste segundo turno, ocorre uma revoada de líderes para o palanque que acreditam que sairá vencedor, com vantagem para o governador interino Mauro Carlesse, que fechou o primeiro turno com mais de 46 mil votos de frente. Isso porque é típico desse modelo político, no qual prefeitos não querem ficar com quem perde, como revelou em vídeo, o de Darcinópolis, Jackson Soares (PTB), num arroubo de sincericídio: “Prefeito não pode ir para o lugar que perde”, disse, ao declarar apoio a Carlesse. Ainda que Vicentinho aposte que essa migração maciça de líderes não impedirá sua virada, sua missão neste segundo turno é muito difícil, e, claro, ainda não seja impossível. Afinal, fatos outros podem surgir e mudar a eleição. Política é assim.
A análise do desempenho de “velha política” e “nova política” aponta também para as dificuldades que enfrentarão em outubro esses grupos alternativos. Mesmo a união deles pode não ser o suficiente para uma mudança radical do eleitorado, que, como a coluna tem afirmado há meses e confirmado agora por esses números, tende a acompanhar os líderes, principalmente no interior profundo do Estado — na dúvida, reveja o resultado do sudeste, Jalapão, sul e Bico do Papagaio.
A questão que se impõe é o que fazer diante desse quadro para uma mudança de mentalidade do eleitorado. Primeiro é preciso que os grupos alternativos insistam em suas candidaturas ainda que com uma derrota previsível. Elas são pedagógicas. A cada disputa, ouvindo discursos diferentes e vendo práticas eleitorais não costumeiras, os cidadãos vão refletir sobre sua realidade e a relação dela com a configuração política do Tocantins. Assim, os eleitores estarão amadurecendo e mudando.
Outro ponto é que esses grupos alternativos devem atrair não só os eleitores, mas também seus líderes, que têm um papel imprescindível nos municípios. Por isso, é pouco eficaz chamá-los de “vagabundos”, como já foi feito e o que levantou ainda mais o muro que impediu a aproximação dos “novos”. Esse comportamento arrogante e soberbo só vai afastar a liderança da “nova política”, e, como esses caciques integram, estrategicamente, a decisão do voto, as derrotas dos “alternativos” continuarão se sucedendo.
É importante trazer também essa liderança tradicional à reflexão do papel importante que ela tem em suas comunidades e no desenvolvimento delas. É fácil? Vai mudar a política do Tocantins de uma eleição para outra? Sem chances. É um processo educacional e, como tal, demorado, mas que dará mais resultados do que simplesmente partir para a agressão verbal, criando a barreira intransponível do “nós e eles”.
Essa configuração cristalizada do tecido político tocantinense deve impedir que em outubro os resultados das eleições estaduais sejam diferentes do que se viu nesta suplementar. Por isso também dificilmente o vencedor de agora será derrubado daqui a quatro meses. Pode-se alterar nomes ou quantidade de candidatos, mas o modelo político será o mesmo, com base na força dos líderes onde o eleitor efetivamente vive, nos municípios.
Esta liderança mira sempre aquele que julga que sairá vencedor e, como o prefeito Jackson Soares, não quer nem ser visto na foto com o que avalia como futuro perdedor.
CT, Palmas, 7 de junho de 2018.
Confira a tabela das votos da “velha” e da “nova” política do Tocantins: