Surpreendeu a voracidade que os pré-candidatos mostraram logo após o anúncio da cassação do governador Marcelo Miranda (MDB) e da vice-governadora Cláudia Lelis (PV) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mal a sentença foi proclamada e eles já estavam avisando que disputarão o mandato tampão que vai até dezembro. A mensagem subliminar é de que querem se apropriar da máquina do Estado e colocá-la para trabalhar a seu favor nas eleições de outubro. Isso é mau sinal.
[bs-quote quote=”Nunca foi tão necessário que nossos líderes mostrem responsabilidade com o Estado, que deve ser colocado acima dos interesses e projetos pessoais” style=”default” align=”left” color=”#ffffff” author_name=”Cleber Toledo” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Como eterno sonhador, esperava que os principais pré-candidatos, com seus “espíritos públicos elevados”, manteriam seus projetos de olho em outubro, e que a eleição suplementar só interessaria a candidatos menores mas de grande preocupação com o Estado. Eles ajustariam as contas nos próximos meses, garantiriam segurança política e jurídica e, assim, o Tocantins faria essa transição sem grandes sobressaltos.
Tudo bem. Admito que cometi o erro de não entender que o Palácio Araguaia, com o inquilino agora desalojado, virou apenas mais marco a ser conquistado na batalha de outubro. Não há nesse pragmatismo nenhuma preocupação de ordem pública, apenas a vontade de dominar uma poderosa máquina para colocá-la a serviço da própria candidatura.
Diga-se: essa mesma vontade é o pano de fundo da profunda crise enfrentada pelo Tocantins. Em 2009, Carlos Gaguim assumiu o governo, acelerado, e em 2014 foi a vez de Sandoval Cardoso, depois da surpreendente renúncia do vice-governador João Oliveira antes da do governador Siqueira Campos. Em cada transição dessa, benesses e mais benesses concedidas a servidores, sempre vistos como cabos eleitorais de primeira hora.
O resultado dessa mistura de loucura com irresponsabilidade é que os dois governadores tampões perderam as eleições — e é bom que os atuais pré-candidatos se lembrem desta lição histórica — e o servidores vivem hoje aos trancos e barrancos, com progressões e data-bases atrasadas, décimo terceiro pago com muita dificuldade, Plansaúde que desanda e Igeprev sem receber os repasses do Estado.
Pior é que a crise se estende à toda a sociedade. Fornecedores que não recebem, serviços precários de saúde e segurança, e por aí vai.
Às vésperas de mais um processo eleitoral, o Tocantins mais uma vez ganha este verdadeiro presente de grego. Quem investiria no Tocantins neste momento alguns milhões de reais que exigem apoio do Poder Público? Quem garante que compromissos assumidos agora serão honrados no ano que vem? O Estado parou nessa quinta-feira, 22, e dessa forma deve ficar até por volta de março do ano que vem.
Nunca foi tão necessário que nossos líderes mostrem responsabilidade com o Estado, que deve ser colocado acima dos interesses e projetos pessoais.
É hora da responsabilidade fiscal, do compromisso com a coisa pública, com a estabilidade política, jurídica e econômica. Se não se aterem a isso, os vorazes pré-candidatos podem ganhar a eleição suplementar e, como os dois casos de nossa história recente, saírem derrotados em outubro.
A péssima notícia para a sociedade é que, perdendo no final do ano, poderão deixar um cadáver irreconhecível para o sucessor, de tal forma que ressuscitá-lo será uma missão impossível.
Por isso, reforço: a hora é de responsabilidade.
CT, Palmas, 23 de março de 2018.