O resultado das eleições de domingo, 7, se deverá mais aos erros das oposição do que aos acertos do governo Mauro Carlesse (PHS). Foram vários deslizes, e inacreditáveis, devidamente apontados pela coluna desde antes das convenções. O último, e fatal, foi a tentativa de eleitoralizar o drama dos reféns dos presos rebelados no Presídio de Barra da Grota, em Araguaína.
A impressão que deu é que houve quem apostasse num final trágico para a professora e o servidor do presídio, que passaram mais de 24 horas sob clima de terror nas mãos dos bandidos. Contudo, não calcularam que era uma estratégia eleitoral de risco elevadíssimo. Se a ação dos rebelados resultasse na morte dos dois reféns, os adversários de Carlesse repercutiriam histericamente o desfecho até domingo para desidratar o governador e provocar um segundo turno.
[bs-quote quote=”A despeito dos interesses eleitorais envolvidos, o mais importante é comemorar o fato de que duas vidas foram salvas num drama hollywoodiano. Nem dá para imaginar o que essas duas pessoas sofreram física e psicologicamente nessas mais de 24 horas nas mãos dos bandidos” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Porém, poderia ocorrer que as duas vítimas fossem resgatadas sãs e salvas, como, graças a Deus, terminou o drama. E este final feliz tira o discurso de incompetência e omissão que os adversários já tinham pronto para berrar nos últimos dias de eleições contra o Palácio. Foi o ato final da campanha oposicionista, o game over. Ou faltou calcular melhor os riscos, ou, sem outro caminho, apelaram para o desespero mesmo.
O uso eleitoral do drama começou durante o debate entre os candidatos na TV, no final da noite de terça-feira, 2, quando o candidato do PSL, César Simoni, confirmou a morte da professora ao vivo para o todo o Estado. Conhecendo Simoni, nem de longe cogitaria que tentou faturar eleitoralmente. Vejo como um ato espontâneo de revolta de alguém que dedicou a vida no combate ao crime.
Já a cena de pastelão do minuto de silêncio pela “morte” da professora — uma falsa informação que o próprio candidato Carlos Amastha (PSB) teve que desmentir ainda no programa de TV — tem jeito e trejeito de tentativa de faturamento eleitoral do episódio. A estratégia foi confirmada pela postagem de dois vídeos nas redes sociais na manhãzinha dessa quarta-feira, 3, cobrando a presença do governador em Araguaína e ainda quando, à tarde, a coligação anunciou que estava cancelando um comício na cidade para fazer a “Caminhada da Paz” na manhã desta quinta-feira, 4. Esse evento tem cara de que seria o start para o avanço definitivo das tropas contra Carlesse, e contava com um triste desfecho na crise dos reféns. Contudo, o único velório que este ato vai celebrar é o do próprio desastre que foi a campanha das oposições no Estado. Como já afirmei outro dia, nunca vi tanto amadorismo numa eleição. Erros de cálculo como este. Os mais básicos e crassos.
A não ser a tentativa de faturar eleitoralmente com um drama humano, não havia o menor sentido de exigir que o governador largasse tudo no Palácio e corresse para Araguaína, de onde acompanharia a tentativa de resgate dos reféns. Ora, Carlesse se reuniu, ainda na madrugada dessa quarta-feira, quando chegou de São Paulo, com o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Jaizon Veras, e com os secretários da Casa Militar, coronel Silva Neto; e da Casa Civil, Rolf Vidal, e determinou que todos fossem a Araguaína acompanhar de perto e o mantivessem informado dos detalhes.
No local da crise, uma verdadeira operação de guerra estava montada, com todas as forças policiais focadas em salvar a vida das vítimas. O que mais Carlesse deveria fazer? Vestir-se de Rambo, com uma metralhadora que cospe milhares de balas por minuto, e se embrenhar na mata atrás dos bandidos? Ainda é preciso considerar que se trata de alguém que não é especialista em segurança e, até por isso, deve confiar totalmente na competência de sua equipe.
A despeito dos interesses eleitorais envolvidos, o mais importante é comemorar o fato de que duas vidas foram salvas num drama hollywoodiano. Nem dá para imaginar o que essas duas pessoas sofreram física e psicologicamente nessas mais de 24 horas nas mãos dos bandidos. O resgate deles foi comemorado por todo o Estado, que acompanhou e sofreu junto com suas famílias.
Parabéns às Polícias Militar e Civil. Estamos todos felizes e aliviados.
CT, Palmas, 4 de outubro de 2018.