Flip 2019
Os organizadores da Festa Literária Internacional de Paraty 2019 divulgaram esta semana a programação do evento, que será realizado entre os dias 10 e 14 de julho. O homenageado deste ano será Euclides da Cunha (1866-1909). A escolha, segundo a organização, se deve às múltiplas linguagens utilizadas pelo escritor para descrever a paisagem, os homens e mulheres, de Canudos. Para isso, dizem os organizadores da Flip, ele precisou valer-se do jornalismo, arquitetura, sociologia, história, geografia e várias expressões da literatura, como a épica e a dramática.
Os sertões
Euclides da Cunha publicou vários, mas sua obra é sem dúvida Os sertões (1902). O clássico foi escrito a partir de reportagens publicadas no jornal O Estado de S.Paulo. Nelas Euclides da Cunha fala sobre a rebelião de Canudos, mas antes descreve as características geológicas da região (A terra), o sertajeno (O homem) e, finalmente, o massacre imposto pelo governo central ao “bando” liderado por Antônio Conselheiro.
Atual
Em síntese, Os sertões denuncia os crimes cometidos por uma sociedade eurocêntrica, violenta, autoritária, desigual e excludente. Nesse sentido, a obra continua atual, o que justifica a escolha de seu autor como homenageado da Flip deste ano.
Nova edição
Os sertões já ganhou inúmeras edições. E uma nova será lançada durante a Flip pela Penguin-Companhia das Letras, e conta com introdução de Lilia Moritz Schwarcz e André Botelho; posfácio de Luiz Costa Lima; e estabelecimento de texto, notas e cronologia de André Bittencourt. Esta edição já está em pré-venda nos sites da área, como Amazon, Cultura e Saraiva.
No cinema
O livro foi adaptado para o cinema em 1997, com o nome Guerra de Canudos – título infeliz, diga-se, já que em A luta, descrita por Euclides da Cunha em Os Sertões, foi na verdade um massacre sanguinolento imposto aos seguidores de Antônio Conselheiro. O longa – de quase três horas de duração – foi dirigido por Sérgio Rezende e conta com grandes nomes da dramaturgia brasileira em seu elenco – José de Abreu, Marieta Severo, Claudia Abreu, José Wilker, entre outros. Guerra de Canudos está disponível neste link.
Visão portuguesa
Os sertões vai ganhar em breve uma nova versão cinematográfica com o título Selvageria, que deverá começar a ser rodado no inicio do próximo ano. O longa será dirigido pelo português Miguel Gomes, conhecido na Europa pelos filmes Tabu e As Mil e Uma Noites. A produção de Selvageria custará cerca de cinco milhões de euros. “Estamos num processo de término de financiamento e que vai envolver muitos países: Portugal, Brasil, França e Alemanha”, adiantou recentemente o produtor Luís Urbano, em declarações à Lusa, no European Film Market (EFM) de Berlim.
Arte da Palavra
O Sesc Tocantins traz a Palmas o escritor carioca Raphael Montes, que ministrará a oficina Como escrever seu romance, a ser realizada entre terça, 21, e o dia 25. A ação faz parte do projeto Arte da Palavra, por meio do Circuito de Criação Literária. Mais informações pelo telefone (63) 3212-9948.
Chegou para ficar
Raphael Montes é um desses nomes que chegaram para ficar na cena literária nacional. Com apenas 29 anos ele já publicou vários livros, além de inúmeros contos em antologias antologias de mistério, inclusive na Playboy e na prestigiada revista americana Ellery Qquatueen’s Mystery Magazine.
Dias perfeitos
Suas obras mais conhecidas são Suicidas (Editora Benvirá – 2010) e Dias Perfeitos (Companhia das Letras – 2014). Este colunista leu – e recomenda – Dias perfeitos. O livro tem como protagonista o estudante de medicina Téo, um jovem sociopata que lembra o personagem Raskólnikov (Crime e Castigo), de Dostoievski, e que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e dissecar cadáveres nas aulas de anatomia. A trama policial se desenrola após ele conhecer a estudante de artes que sonha tornar-se roteirista, Clarice, por quem fica obcecado. O ritmo do livro é alucinante, mas não impede o “mergulho” do narrador à mente doentia de Téo.
Confira o que diz o próprio autor:
Elogiado
A obra de Raphael Montes já quebrou as barreiras linguísticas-cultura. Os direitos de tradução de Dias Perfeitos, por exemplo, já foram vendidos para nada menos que 13 países, entre eles, Estados Unidos, Inglaterra, França e Espanha. Um comentário do renomado escritor estadunidense Scott Turrow resume a ascensão de seu colega brasileiro: “Raphael Montes está entre os mais brilhantes ficcionistas jovens que conheço. Ele certamente redefinirá a literatura policial brasileira e vai surgir como uma figura da cena literária mundial.”
Para quem não gosta de ler
Como presentear com livros quem não gosta de ler? Em primeiro, o livro precisa ser “gostoso” de se ler. Caso contrário o não-leitor não passará das primeiras páginas. Pensando nisso, a Revista Bula reuniu em uma lista dez ótimos livros capazes de agradar até mesmo aqueles que não são leitores assíduos. A lista inclui, entre outros, O Conde de Monte Cristo (1844), de Alexandre Dumas; Olhai os Lírios do Campo (1938), de Erico Veríssimo; e Firmin (2006), de Sam Savage. Confira neste link todos os títulos.
Homenagem
A 61ª edição do Jabuti, o mais tradicional prêmio literário do país, homenageará a escritora e educadora mineira Conceição Evaristo – de quem já falamos aqui. Autora de Olhos D’Água, Ponciá Vivêncio e Becos da Memória, entre outras obras, Conceição é também uma voz conhecida na luta contra o preconceito racial no país. Em 2016 ela reclamou da ausência de escritores negros na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), apoiando uma carta aberta de docentes que chamava o evento de “Arraiá da Branquidade”. No ano seguinte, o escritor e jornalista Lima Barreto foi escolhido para ser homenageado. (Com informações do portal Itaú Cultural)
RUBENS GONÇALVES
É jornalista no Tocantins
rubensgoncalvessilva@gmail.com