Nos bastidores, entre advogados e políticos, é vista como remota a possibilidade de sucesso do governador afastado Wanderlei Barbosa (Republicanos) com o recurso que ele impetrou na sexta-feira, 5, no Supremo Tribunal Federal (STF). Para chegar a essa conclusão, sob a garantia do anonimato, apontam motivos jurídicos e políticos.
JURÍDICO I
No campo jurídico, está a robustez do inquérito da Operação Fames-19, da Polícia Federal, com os fortes indícios de que realmente ocorreram os desvios de milhões que deveriam ir para a compra de cestas básicas para famílias vulneráveis durante a pandemia da covid-19 em 2020 e 2021. Além disso, há também claros sinais de continuidade de crime, segundo mostra a PF, com as dezenas de boletos em nome de Wanderlei pagos em dinheiro em lotéricas do interior do Estado; e a transferência de milhões de reais, pelo governador afastado e seus filhos, o deputado estadual Léo Barbosa (Republicanos) e o superintendente do Sebrae Tocantins, Rérison Antônio, para a construção de uma pousada de luxo em Taquaruçu.
JURÍDICO II
Ainda no campo jurídico, o sorteio do ministro do STF Edson Fachin como relator do recurso de Wanderlei foi recebido como uma péssima notícia. É um ministro constitucionalista e duro. Ou seja, a decisão de Fachin será totalmente centrada nos autos, e os do governador afastado, como observado acima, são muito robustos em indícios de crimes e da continuidade deles.
CAMPO POLÍTICO I
No campo político, há uma aposta de aliados de Wanderlei no bom trânsito em Brasília do presidente nacional Republicanos, deputado federal Marcos Pereira (SP). Contudo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pode ter prejudicado, se havia intenção de Pereira de fazer qualquer movimento. No domingo, 7, o principal quadro da sigla e o chefe do Executivo paulista, Tarcísio, desferiu fortes críticas ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito da tentativa de golpe de estado, chamado de “tirano” pelo governador de São Paulo no evento bolsonarista do Dia da Independência. Isso na semana em que o ex-presidente Jair Bolsonaro e generais implicados na tentativa de golpe estão sendo julgados.
CAMPO POLÍTICO II
Há ainda o fato de o STJ, de onde partiu o afastamento de Wanderlei, estar no foco de investigação do STF, pela Operação Sisanmes, que tem como relator o ministro Cristiano Zanin. O Supremo apura vazamento de informações de gabinetes de ministros do STJ para beneficiar alvos da operação. Quando o STJ toma uma decisão, sobre um inquérito robusto como a Fames-19, o STF vai invalidar uma medida saneadora?
CAMPO POLÍTICO III
Outra aposta dos aliados de Wanderlei é o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (UB-AP), que tem em mãos pedidos de impeachment contra ministros do STF e até de anistia para os golpistas como trunfo. Para isso, defendem, políticos influentes do Tocantins se movimentariam para que Alcolumbre entrasse no circuito. Contudo, os mais experientes não acreditam que o presidente do Senado vai gastar seu capital político para socorrer o governador afastado do Tocantins.