Os deputados fizeram pontuações em defesa do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e do diálogo, após o incisivo discurso da agora oposicionista Janad Valcari (PL) na tribuna da Assembleia, na manhã desta terça-feira, 18. As falas base palaciana cheias de dedos evitavam qualquer tipo de ataque à Janad ou confronto direto com ela. No máximo, resvalaram com entrelinhas, mas a parlamentar rebateu cada um que usou a palavra.
DENUNCIA ANTES DE SER OPOSIÇÃO
O que mais ousou foi o presidente da Assembleia, Amélio Cayres (Republicanos), que, depois de defender o governo Wanderlei como “sério, que vem fazendo as coisas de forma transparente, não gosta do errado”, alfinetou Janad: “Se eu entender que ele [Wanderlei] aceita esse tipo de falcatrua [referindo-se à denúncia de suposto superfaturamento de shows], que está fazendo também, eu não espero ser oposição para denunciar, não. Eu pronuncio na hora que eu descobrir que a coisa está sendo errada”.
MUDOU A FORMA
Janad rebateu afirmando que não começou a fazer denúncia agora, mas que apenas mudou a forma. Ela contou que levava as irregularidades aos secretários e ao próprio governador para que providências fossem tomadas. “Então, eu só estou fazendo agora a mudança de planos. Eu levava até eles, e não levo mais. Vou levar para os órgãos competentes”, reforçou o que já havia dito no discurso na tribuna.
DIÁLOGO
Quem puxou a repercussão da fala dela foi Valdemar Júnior (Republicanos). Ele conclamou a colega agora oposicionista e o próprio governador ao diálogo. “Por qualquer motivo que seja, se retirado ou sair dessa base política, a gente, como parceiro, como companheiro, fica entristecido. Tenho certeza absoluta que a política é a arte da do diálogo”, disse. “Tenho certeza absoluta que, com muita tranquilidade, com muito pé no chão, com a cabeça que Vossa Excelência tem, também com a maturidade política que o governador Wanderlei Barbosa tem e todos nós aqui, que somos companheiros e parceiros de Vossa Excelência, nós teremos portas a serem abertas e soluções a serem encontradas para qualquer dificuldade que a senhora ou qualquer outro parceiro deste Parlamento possa estar enfrentando neste momento”, defendeu Valdemar.
DEBATE CONSTRUTIVO
O líder do governo, Ivory de Lira (PCdoB), seguiu na linha da busca pelo entendimento. Primeiro defendeu a gestão Wanderlei, afirmando que “tem produzido resultados importantes para o estado, transformações, um estado que cresce acima da média do país, que tem reduzido consideravelmente a taxa de desemprego” e melhorado os índices da educação. Por fim, Ivory defendeu “um debate construtivo quanto a essa questão de show”, fazendo uma discussão paralela à de Janad, que falou num suposto superfaturamento. Ele defendeu a realização de shows grandes só quando os municípios “não tiverem obras importantes a serem realizadas”.
TEM CORAGEM
Em resposta aos dois, Janad retomou a palavra disse que o governo a deixou de respeitar como deputada, como afirmou que ocorre com outros colegas. Ela parabenizou o governador “pelo que ele tem feito de bom”. “Mas todo lugar que tem as coisas boas também tem as coisas ruins. Só que elas não apareciam, e eu estou pronta para mostrar. “Eu não mudei de postura, ele [Wanderlei] só deixou de me respeitar como deputada. Então, se acharam que eu não tinha coragem, estão vendo que, se tem uma coisa que eu tenho, é coragem”, avisou.
DENÚNCIA AOS ÓRGÃOS COMPETENTES
Janad disse que a denúncia feita não ficará na tribuna. “Se estão achando que a minha denúncia morreu ali naquela tribuna estão enganados. Hoje [terça-feira] mesmo estarei indo aos órgãos competentes para oferecê-la da forma que tem que ser feita e, se vierem me atacar, eu estou pronta a tarde inteira. [Folheando a montanha de páginas sobre sua mesa] É só um pouquinho do que eu tenho, e, se vierem com imprensa me atacar, como já está chegando aqui mensagem, vai ter o toma lá e da cá”, alertou.
DEFESA DE EVENTOS SHOWS
Cláudia Lelis (PV) defendeu o governador — lembrou dos quase 80% de aprovação dele, segundo o Paraná Pesquisas — e o que chamou de “investimentos em shows e eventos”. “Quando se fala de show, para mim, eu não entendo show somente o show e apresentação do artista. Eu entendo um momento em que toda a economia do município é aquecida. Eu entendo que todos ganham dinheiro com aquela ação do governo do estado, apoiando esses eventos, além de fortalecer a cultura, além de você levar entretenimento e lazer para as famílias”, pontuou.
R$ 20 MILHÕES NO TURISMO
Ao pegar a palavra novamente, Janad disse à colega que não está discutindo a popularidade do governador, e ponderou que essa aprovação dele não autoriza o cometimento de erros. “O que eu estou falando aqui é pagar R$ 100 mil para uma banda que nunca foi para fora do estado, que foi contratada recente por R$ 25 mil e depois ser contratado por R$ 150 mil, e não vai colocar 500 pessoas no pé do palco. É disso que eu estou falando, e eu sei quem ganha dinheiro lá na Secretaria do Turismo e o estado vai ficar sabendo, e sobre o chamado combo para os prefeitos e os combos dos artistas também. Lá tem R$ 20 milhões de emenda federal, e a Polícia também vai ficar sabendo”, observou.
NÃO QUERIA ENTRAR NA ELEIÇÃO DE PALMAS
Léo Barbosa (Republicanos) tentou consertar a fala do pai, ao dizer que não é que Wanderlei não queria apoiar Janad, mas que não era intenção dele entrar nas eleições de Palmas. Contudo, lembrou o parlamentar, quando o governador foi para a campanha, “fez de corpo e alma”. Ele afirmou que quer se sentar com a colega para entender qual o desrespeito que seu pai cometeu contra Janad. Em entrevista ao site Gazeta do Cerrado, semana passada, Wanderlei disse que não queria apoiar Janad, que ficou sabendo de decisões dela que o desagradaram e que ela não fazia mais parte sequer do seu convívio.
NEM UMA LIGAÇÃO
Janad, então, afirmou não ter recebido ligação do governador e ressaltou novamente que ele “ouviu o fuxico e ficou por lá mesmo”. “Ele não me procurou, eu não recebi nenhuma ligação da secretária de Governo [Kátia Chaves], não recebi nenhuma ligação do líder de governo. Então, assim tudo de fachada”, lamentou.
NOME É JANAD, NÃO GUTIERRES
A deputada fez um paralelo de sua situação com a de Gutierres Torquato (PDT), que, ligado ao vice-governador Laurez Moreira (PDT), foi posto para fora da base e saiu sem reclamar. “O meu nome é Janad, não Gutierrez. Eu não vou aceitar o que fez com ele, jamais. Parabenizo o senhor, que tem um coração enorme. O que fizeram com o senhor, de sair mexendo ‘com tudo lá’, fico muito triste, porque foi um desrespeito muito grande com o senhor”, afirmou, decifradamente.
BOM CABRITO NÃO BERRA
Mas Gutierres não gostou da citação de seu nome e mostrou se adepto da velha sabedoria política que diz que “bom cabrito não berra”: “Nós temos perfis totalmente diferentes […] e eu tenho construído a minha trajetória dessa forma não sou político de denuncismo. […] Quando o governo, ou governador Wanderlei, ou qualquer secretário tiram pessoas que eu já fiz como indicação no estado, as vagas não são minhas, são do governo. […] Então, deputada Janad, respeito a sua posição de agora ser opositora ao governo. Eu tenho tentado construir com o governo. Eu posso não concordar, em diversas vezes já manifestei em alguns momentos, inclusive, ao próprio presidente, de conduções que, às vezes, tentam tirar de nós parlamentares aquilo que é nossa obrigação, mas eu procuro construir para ajudar o estado do Tocantins”.