O governador afastado Wanderlei Barbosa (Republicanos) gravou outro vídeo nessa sexta-feira, 5, em que afirma que está “tranquilo com a consciência”, bem como sua esposa, Karynne Sotero, e os filhos, o deputado estadual Léo Barbosa (Republicanos) e o superintendente do Sebrae, Rérison Antônio, todos investigados na Operação Fames-19, que apura desvios de recursos destinados à compra de cestas básicas para pessoas vulneráveis durante a pandemia da Covid-19, entre 2020 e 2021. Segundo a Polícia Federal, foram pagos mais de R$ 97 milhões em contratos para fornecimento de cestas básicas e frangos congelados, com prejuízo estimado superior a R$ 73 milhões aos cofres públicos.
AGRADECIDO
No vídeo, Wanderlei agradece as mensagens de apoio que tem recebido. “Eu fico muito agradecido a todos vocês e, primeiramente, agradecido a Deus por esse reconhecimento”, disse.
TRANQUILOS
Em sua defesa, o governador afastado afirmou que entre 2019 e 2021, época em que as cestas básicas foram compradas, era vice e que assumiu o comando do Estado somente no dia 21 de outubro, “já finalizando o ano de 2021”. “Estamos tranquilos, todos nós, a minha família, minha esposa, meus filhos, que tudo será esclarecido, com fé em Deus”, projetou.
MOSTRAR O TRABALHO
Wanderlei disse que vai retribuir “a todos vocês por toda essa manifestação, todo esse carinho, se Deus quiser, trabalhando muito, cada vez”. Ele informou que a partir da próxima semana começará a mostrar “o trabalho que fizemos em todas as vertentes, em todas as regiões, nas estradas, nas escolas, nos hospitais, na segurança pública, no turismo, nas festividades das cidades, na parceria que estabeleci com os municípios”. “Tudo isso nós iremos mostrando para que o povo esteja cada vez mais sintonizado com tudo aquilo que fizemos”, afirmou.
Assista o vídeo:
NO COMANDO DA SETAS
Apesar da alegação de Wanderlei de que não estava à frente do Palácio no período dos desvios de recursos para cestas básicas, a Polícia Federal diz que os crimes “supostamente perpetrados no âmbito da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Tocantins – Setas e em outras entidades governamentais e institutos de interesse público” ocorreram “com a ciência e aquiescência do então vice-governador e hoje governador do Estado do Tocantins, Wanderlei Barbosa Castro”. “Por conta de arranjos político-partidários, a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social – Setas havia sido politicamente atribuída ao então vice-governador”, ressaltam os investigadores.
EM ESPÉCIE
A PF ainda observa que “em diversos diálogos é possível observar nítida alusão de terceiros ao recebimento sistemático de propina por parte do governador Wanderlei Barbosa Castro, sempre em numerário em espécie, reforçando a convicção judicial acerca da efetiva e atual existência de uma organização voltada para a dissipação e apropriação de recursos públicos no governo do Estado”.
GULOSO
Entre os diálogos, os policiais transcreveram uma conversa de Paulo César Lustosa Limeira, o PC, ex-marido da primeira-dama Karynne Sotero e apontado como principal operador do esquema, com o irmão dele, Wilton Rosa Pires, sobre a prorrogação do Estado de Calamidade Pública no Tocantins, por ocasião da Pandemia de Covid-19. “É possível observar o comentário de Paulo César, dizendo que o Governador Wanderlei Barbosa estaria ávido pelo recebimento de dinheiro em espécie”, registram os investigadores. Confira:
PC LUSTOSA: (encaminhada) Attachment: “Governador Wanderlei Barbosa prorroga estado de calamidade pública no Tocantins”:
PC LUSTOSA: Caba tá guloso, rsrsrs”
PREOCUPAÇÃO COM O AVANÇO DAS INVESTIGAÇÕES
Inclusive, o inquérito traz um trecho de conversa entre o então secretário de Participações Sociais, Marcos Milhomens, com a empresária Adriana Rodrigues Santos, esposa do presidente da Associação Comercial e Industrial de Palmas (Acipa), o empresário Joseph Madeira, ambos também investigados no âmbito da Fames-19, em que eles demonstram preocupação com o avanço das investigações do caso das cestas básicas. “A apreensão e o nervosismo que se seguiram ao aprofundamento das investigações pela polícia civil do Estado do Tocantins podem estar relacionados à decisão política de suspender o contrato de fornecimento de aves congeladas, em montantes multimilionários, resultando, por consequência, na dívida reivindicada por Adriana, em razão de um declarado ‘adiantamento’ de valores que pertenceriam ao governador pelos contratos de fornecimento de proteína animal”, diz a PF.
Confira as mensagens de Milhomens:
“(…) Adriana, bom dia, chegamos agora em Taquaruçu, tivemos uma conversa lá com o governador e eu estou indo agora para o Palácio. Lá na nossa frente, ele ligou pro secretário de segurança e vai pautar isso agora lá no palácio, eu queria que você… Fala com o Joseph aí ele vai te dar o feedback. Eu achei positivo nesse sentido sabe.
(…) Isso é decisivo porque eu estou indo agora para o palácio, tô chegando aqui no palácio. Ele marcou com o secretário de segurança aqui onze horas. Então estou indo pra lá e ele falou que eu vou participar da conversa, vou participar mesmo que é pra…Meu irmão segura isso aí cara, coloca a porra dum saco de areia em cima disso porque senão vai derrubar o governo. Quer que os caras peguem o Joseph e sacrifique ele em praça pública? É a única explicação. Aí na verdade é única determinação, porque o negócio só para, se ele intervir, se ele não intervir, não para.”
DECISÃO DE GOVERNO
Segundo a PF, a Força Tarefa da Polícia Civil do Tocantins foi prorrogada em 28/03/2022 e encerrou suas atividades em 26/05/2022 — período em que Wanderlei já era governador –, apenas 30 dias após a deflagração da Operação Phoenix, que também investigava desvios de recursos de cestas básicas, antes de o caso ser federalizado. “Cabe registrar que a Operação Phoenix cumpriu diversos mandados de busca e apreensão e arrecadou vasto material que não pôde ser totalmente analisado, face ao exíguo tempo que a Força Tarefa teve de funcionamento após as diligências. Sob esse aspecto, seria natural que houvesse uma prorrogação dos trabalhos da Força Tarefa após a deflagração da referida operação, mas, pelo contexto das mensagens trocadas entre a Sra. Adriana e o Sr. Marcos Milhomens, bastante preocupados com os resultados das investigações, parece que a opção de não prorrogação foi uma decisão de governo, que certamente prejudicou a presente investigação, INQ no 1.663/DF, tendo em vista ainda haver materiais oriundos da Polícia Civil pendentes de análise”, afirma o inquérito da PF.