Dados obtidos com exclusividade pelo CT trazem um quadro que pode explicar, pelo menos em parte, o motivo de o Hospital Geral de Palmas (HGP) ser sempre notícia com enormes filas, seja para cirurgias eletivas ou para atendimentos emergenciais. Gráficos, planilhas e relatórios apontam que o HGP atende cerca de 2 mil pessoas por mês, sendo que mais de 700 desses atendimentos são oriundos das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Palmas, o que significa que quase 40% dos atendimentos do HGP são encaminhados pelas UPAs de Palmas, contra 22% de todos os outros municípios do interior do Estado.
Conforme as informações das planilhas, 95% dos encaminhamentos das UPAs de Palmas que vão para o HGP poderiam ser resolvidos nas unidades básicas. “São casos simples que chegam aqui como dores musculares, problemas de pressão, dores de coluna. Por isso, eles mostram tudo lindo lá e cheio aqui. A pessoa chega na UPA e eles mandam pra cá”, disse um funcionário que não quis se identificar.
Em janeiro deste ano, 91% dos pacientes (719) foram encaminhados inadequadamente para o Hospital Geral, somente 7%, ou seja, 74 pacientes foram encaminhados corretamente para unidade. Os dados de fevereiro não são tão diferentes. Dos pacientes encaminhados pela UPAs de Palmas, 93% (552) poderiam ter sido atendidos nas unidades municipais e apenas 7% (41 pacientes) realmente estavam necessitados de atendimento de alta complexidade.
Ao ouvir outros funcionários, foi possível constatar que o Hospital de Geral de Palmas não pode recusar o atendimento, mesmo sendo um Hospital construído e equipado para atender alta complexidade. “Chegando aqui a gente atende. Mas o que nos deixa indignado é que ao atender essas pessoas aqui estamos deixando outras com um problema mais grave, criando uma fila que poderia ser muito menor e gerando um custo a mais para o Estado e para a população”, afirmou outro servidor do HGP.
Sem divulgar os nomes dos pacientes atendidos, o CT constatou que casos como dores na região lombar, dores de cabeça, dores de ouvido, infecção intestinal, dores de garganta, além de outros sintomas constam dos relatórios de atendidos no HGP e que foram encaminhados pelas UPAs de Palmas. Atendimentos de baixa complexidade, que deveriam ter sido feitos nos postos de saúde ou na própria UPA são encaminhados para o HGP e ajudam a aumentar as filas por atendimento.
Custos ao Estado
Além de o Estado assumir um atendimento que deveria ser feito na rede básica ou de média complexidade, o governo ainda assume um custo pela cessão de servidores. Ao todo são 78 profissionais entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, dentre outros, que custam quase R$ 900 mil por mês aos cofres públicos.
Ainda assim, ao encaminhar uma pessoa para o HGP, o município transfere também a despesa deste tratamento. A reportagem solicitou da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) uma estimativa de custos sobre a estadia desse paciente dentro do hospital. De acordo com a pasta, o custo do leito no Pronto Socorro custa diariamente R$ 1.500,00, contando com todas as despesas com água, energia e o uso de equipamentos.
Segundo a Sesau, com esse acréscimo de demanda, também o Estado precisa disponibilizar mais uma equipe com médico, enfermeiros e técnicos de enfermagem. No total, estima-se que entre custo de leitos e pagamento de profissionais, o Estado arque com mais de R$ 1,3 milhão por mês ou R$ 15,6 milhões por ano. Somando-se aos valores investidos no pagamento dos profissionais cedidos pelo Estado ao município de Palmas, só em demandas de atenção básica e pronto socorro, o governo gasta cerca de R$ 2,2 milhões por mês, ou R$ 26,4 milhões por ano.
Acidentes de trânsito e de trabalho
Apesar de já ter sido promessa de campanha de vários candidatos que disputaram a Prefeitura de Palmas, a construção de um hospital específico para atender as vítimas de acidentes, sejam eles de trânsito, de trabalho ou domésticos, ficou apenas nas palavras vazias de época de campanha eleitoral.
De acordo com os dados obtidos junto aos profissionais do HGP, cerca de 48% dos pacientes que chegam para serem atendidos na unidade, são vítimas de acidente, sendo que 45% da demanda total são vítimas de colisão de trânsito e apenas 3% são de acidentados no trabalho ou em casa.
Se comparados os índices apenas dos acidentes com veículos, nota-se que 53% dos acidentados que dão entrada no HGP são vítimas de colisões ou quedas com motocicletas. Os acidentados de carro representam 9,79%, de bicicleta são 7,80%, de ônibus 1% e outros 27,30% de outros tipos de veículos como tratores e outros.
A diferença do índice entre os atendimentos pelo HGP dos acidentados para os de encaminhados pelas UPAs é possível devido os primeiros-socorros prestados pelo Corpo de Bombeiros e do Samu, que devido a gravidade, já levam os pacientes direto para o HGP.
“Imaginem se Palmas tivesse um hospital para atender os acidentados. Praticamente a metade da demanda do HGP não estaria aqui. O Hospital estaria em melhores condições para cumprir a missão para a qual foi construído, que é a alta complexidade, os tratamentos de doenças mais graves e as cirurgias eletivas. Essa fila que a imprensa às vezes mostra, possivelmente não existiria”, concluiu um funcionário da unidade de Saúde.
Outro lado
Em nota, a Secretaria da Saúde de Palmas (Semus) alegou que as Unidades de Pronto Atendimento atendem em média 70 mil pessoas por mês, pouco mais de 2 mil pessoas por dia, e que nos últimos sete meses de atendimento menos de 1% desses pacientes foram encaminhados ao HGP.
A pasta afirmou que Palmas possui a maior cobertura da Atenção Primária à Saúde, com 100% de cobertura de Equipes de Saúde da Família, a maior cobertura da Estratégia de Saúde Bucal, o maior Programa Municipal de Residência em Saúde, equipes de saúde dedicadas ao cuidado de pessoas em situação de vulnerabilidade com o Consultório na Rua, Palmas que te Acolhe, Palmas Livre da Hanseníase constituindo mais de 200 projetos de intervenção para melhoria das condições de saúde do palmenses.
A Secretaria Municipal de Saúde disse que defende que o usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) deve ter suas necessidades de saúde atendidas em tempo oportuno, com qualidade e de forma integral, pois os recursos destinados à saúde são oriundos dos impostos pagos pelos contribuintes.
A pasta não comentou sobre a afirmação dos servidores do HGP de que mais de 90% dos pacientes encaminhados para a unidade poderiam ter sido atendidos nas UPAs.
– Confira a íntegra da nota da Semus:
“A Secretaria da Saúde de Palmas esclarece que as Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) atendem em média 70 mil pessoas por mês, pouco mais de 2 mil pessoas por dia. Conferimos por meio E-SUS, sistema de registro de atendimento do Ministério da Saúde, os últimos 7 meses de atendimento, e verificamos que menos de 1% das pessoas atendidas foram encaminhadas ao Hospital Geral de Palmas (HGP), evidência de que o serviço é muito importante, resolutivo e abrangente pois consegue atender em um único dia o equivalente a um mês de todo o atendimento hospitalar.
Informamos que Palmas possui a maior cobertura da Atenção Primária à Saúde, com 100% de cobertura de Equipes de Saúde da Família (a média nas capitais é inferior a 50%), a maior cobertura da Estratégia de Saúde Bucal chegando a 100%, o maior Programa Municipal de Residência em Saúde com mais de 200 profissionais, incluindo todas as 14 categorias da saúde, equipes de saúde dedicadas ao cuidado de pessoas em situação de vulnerabilidade com o Consultório na Rua, Palmas que te Acolhe, Palmas Livre da Hanseníase constituindo mais de 200 projetos de intervenção para melhoria das condições de saúde do palmenses.
Vale destacar também que os usuários da Rede de Saúde da Capital são atendidos em unidades novas e acolhedoras, sendo que 20 foram entregues entre 2013 e este ano, com destaque para o Ambulatório Municipal de Atenção à Saúde (AMAS), a UPA Norte e todos os Centros de Saúde da Comunidade.
No ano de 2017, o município de Palmas registrou 3.970.223 procedimentos (SIA-SUS/2017), incluindo ações nos Centros de Saúde da Comunidade, consultas, exames especializados, procedimentos cirúrgicos e atendimentos de urgência e emergência.
A Secretaria Municipal de Saúde defende que o usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) deve ter suas necessidades de saúde atendidas em tempo oportuno, com qualidade e de forma integral, pois os recursos destinados à saúde são oriundos dos impostos pagos pelos contribuintes.”